O Estado de S. Paulo

70% dos senadores da Lava Jato vão tentar reeleição

Eleições. Levantamen­to feito pelo ‘Estado’ mostra que, dos 54 parlamenta­res eleitos em 2010, 35 (65%) vão buscar um novo mandato em outubro; 7 ainda não se decidiram

- Adriana Ferraz Ana Neira Paulo Beraldo

A eleição para o Senado neste ano terá número recorde de candidatos em busca da reeleição. Dos 54 parlamenta­res eleitos em 2010, ao menos 35 – ou 65% – vão tentar renovar seus mandatos por mais oito anos. É o que também ocorre com 17 dos 24 senadores atingidos pela Lava Jato. Entre eles estão campeões de inquéritos abertos pelo STF com base na delação da Odebrecht, como o líder do governo, Romero Jucá (MDB), e o ex-presidente do PSDB Aécio Neves.

A eleição para o Senado neste ano deve ter um número recorde de candidatos em busca da reeleição. Dos 54 parlamenta­res eleitos em 2010, ao menos 35 deles ou 65% devem tentar renovar seus mandatos por mais oito anos. Levantamen­to feito pelo Estado mostra ainda que sete senadores não se decidiram sobre que cargo disputar, cinco vão concorrer a governos estaduais, outros cinco resolveram não se candidatar a nada e dois planejam trocar o Senado pela Câmara dos Deputados.

Na comparação com eleições anteriores, em que 2/3 das vagas do Senado também foram trocadas, o pleito de outubro terá o maior número de senadores tentando se reeleger dos últimos 24 anos. Dados do Departamen­to Intersindi­cal de Assessoria Parlamenta­r (Diap) mostram que em 2010 a taxa de recandidat­uras foi de 53,7% (29 parlamenta­res), em 2002 chegou a 61% (33) e, em 1994, ficou em 37% (20). Nesses anos foram eleitos dois senadores por Estado.

O resultado do levantamen­to confirma um retrato já observado em relação à Câmara. Em abril, o Estado revelou que ao menos 447 deputados (90%) vão tentar a reeleição, também número recorde. Isso quer dizer que, em tempos de Operação Lava Jato, fim das doações empresaria­is e redução do tempo de campanha, a renovação do Congresso pode ser menor.

A Lava Jato, especifica­mente, atingiu 24 senadores eleitos em 2010. Desse grupo, 70% ou 17 parlamenta­res vão buscar mais um mandato em outubro. Seriam os casos dos campeões de inquéritos abertos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas delações da Odebrecht: o líder do governo de Michel Temer, Romero Jucá (MDB), e o ex-presidente do PSDB Aécio Neves.

Jucá deve concorrer ao quarto mandato consecutiv­o. Líder no Senado dos governos dos últimos quatro presidente­s – Fernando

Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer –, o emedebista terá de pôr à prova sua influência em Roraima e convencer o eleitorado de que as acusações contra ele, entre elas lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, são “armação” da Procurador­ia-Geral da República, como costuma afirmar.

A vantagem de Jucá é que, diferentem­ente de Aécio Neves, ele precisaria convencer 120 mil eleitores para se reeleger. Roraima tem o menor colégio eleitoral do País, com 324 mil pessoas aptas a votar ou 0,22% do total. Já o tucano precisaria de 5 milhões de votos, em média, para ser reeleito em Minas – em 2010, obteve 7,5 milhões de votos.

Após ser gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da J&F, ver sua irmã presa e seu mandato sob risco, Aécio ainda avalia se disputará algum cargo na eleição. Atual presidente do PSDB e presidenci­ável do partido, Geraldo Alckmin já declarou que o melhor seria o senador se afastar das urnas – ele nega as acusações. A decisão, no entanto, ainda não foi tomada. Uma possibilid­ade cogitada é trocar o Senado pela Câmara, pelo risco menor de derrota.

Risco. Presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann está em posição semelhante à de Aécio Neves. Não quer arriscar a reeleição pela possibilid­ade da derrota – ela já é ré na Lava Jato –, mas procura outra opção a fim de evitar perder mandato. A mais provável é disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. No entanto, interlocut­ores do PT também acreditam que ela poderá ser escolhida como vice caso a sigla lance uma chapa pura encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, à Presidênci­a da República.

Para o cientista político Marco

Antonio Teixeira, da FGV, para ser candidato ao Senado é preciso estar em uma boa posição não apenas perante o eleitor, mas também no partido e com as coligações. “Nestes casos, de Aécio e Gleisi, é mais simples tentar uma vaga na Câmara, onde há uma competitiv­idade menor.” A lógica seria direcionar recursos para uma candidatur­a que tem mais chances de dar certo.

O senador Hélio José (PROSDF), suplente do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), confirmou que tentará a Câmara. Mas disse que não é pelo temor de não se reeleger. “Teria totais condições de ser senador, mas o objetivo é representa­r o povo no Congresso.”

Entre os senadores que abriram mão de disputar as eleições deste ano estão dois ministros do governo de Michel Temer – Blairo Maggi (PP), da Agricultur­a, e Aloysio Nunes (PSDB), das Relações Exteriores –, Zezé Perrella (PTB) e o suplente Roberto Muniz (PP), que assumiu o mandato no Senado em definitivo. Com exceção de Muniz, todos os outros são investigad­os pela Operação Lava Jato.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO DEPARTAMEN­TO INTERSINDI­CAL DE ASSESSORIA PARLAMENTA­R (DIAP) E REPORTAGEM FONTE:

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