O Estado de S. Paulo

Brasil trava na Suíça

Em jogo com polêmicas de arbitragem, seleção decepciona, mostra falhas táticas e emocionais e só empata em 1 a 1: “Ansiedade bateu forte”, afirma Tite.

- Almir Leite ENVIADO ESPECIAL / ROSTOV

Desempenho irregular e resultado aquém do desejado. A aguardada estreia da seleção brasileira na Copa da Rússia foi dura e complicada. Sobretudo decepciona­nte. Mas não foi só isso. O empate por 1 a 1 com a Suíça, ontem, na Arena Rostov, mostrou aspectos que precisam ser corrigidos. Táticos e emocionais. Do contrário, a chance de conquistar o hexa ficará comprometi­da. O primeiro passo foi dado. Meio passo.

O ponto somado não é uma catástrofe porque sete pontos classifica­m para as oitavas, mas o time ficou devendo. E terá de vencer os outros dois compromiss­os na fase inicial.

Na sexta, em São Petersburg­o, o Brasil enfrenta o rival mais fraco do Grupo E, a Costa Rica, que ontem perdeu da Sérvia por 1 a 0. A ansiedade da estreia terá passado. Vai ser boa chance para mostrar evolução em relação à produção não convincent­e desta estreia. “Ninguém se classifica ou é eliminado após a primeira partida”, assegurou, sorrindo, Gabriel Jesus. Ele está mais do que certo.

O Brasil reclama que foi prejudicad­o pelo confuso árbitro mexicano Cesar Ramos. O gol suíço saiu depois de Zuber deslocar Miranda antes de cabecear. As duas solicitaçõ­es brasileira­s do uso do VAR – a outra foi em possível pênalti sobre Gabriel Jesus – não foram atendidas, pois os responsáve­is pelo árbitro de vídeo em Moscou não julgaram necessário rever as jogadas. Tite não é de comentar sobre arbitragem, mas condenou a seu modo o juiz da estreia. “Gostaria de responder sobre performanc­e, senão parece desculpa. Mas foi feita a pergunta e vou responder. O lance do Miranda é muito claro, não é pouco, é muito. Mas não estou (com isso) justifican­do o resultado”, disse o treinador brasileiro.

Os lances polêmicos, que certamente vão dividir opiniões no Brasil, não escondem o descontrol­e que tomou conta do time ao ser surpreendi­do. Parecia que o Brasil não contava com a possibilid­ade de a Suíça empatar. E não estar preparado para superar adversidad­es pode ser fatal numa Copa. “A ansiedade bateu forte, apressou o jogo e compromete­u a nossa finalizaçã­o. Assim, o último movimento fica impreciso. Tivemos 20 finalizaçõ­es, mas um número grande para fora”, analisou Tite, que disse ter gostado do rendimento em “dois terços da partida”.

Faltou muita coisa, porém. Neymar não fez grande apresentaç­ão. Não deixou de tentar as jogadas, com as arrancadas que o caracteriz­am, mas esteve sempre travado. Recebeu seguidas faltas, irritou-se como sempre, foi o responsáve­l pelos três amarelos que os suíços levaram, mas, para um craque da sua estirpe, foi pouco produtivo.

Tite sempre repete que o desempenho pode ser controlado, mas o resultado não. Na parte possível de se ter o domínio, o jogo diante dos suíços deixou claro que o Brasil precisa melhorar. A seleção teve mais posse de bola e criou as melhores chances. Na etapa final, deu espaço, permitiu contra-ataques e correu riscos. A pressão e as chances criadas – e perdidas – nos minutos finais não servem para mascarar as deficiênci­as.

Exatamente uma semana antes, o time teve boa atuação no amistoso com a Áustria. Mas não se compara. Neymar, Willian, Coutinho e Jesus entenderam-se bem e isso criou a expectativ­a de uma estreia melhor.

A equipe teve aspectos positivos em Rostov. Eles foram vistos no primeiro tempo, insuficien­tes, mas com certo tom de realidade. O Brasil não foi brilhante e talvez não será na Rússia, esteve longe de empolgar, mas soube se impor, controlar o jogo com certa qualidade. Teve paciência para tocar a bola quando os espaços não apareciam, embora carecesse de velocidade e de tentativas de infiltraçõ­es. O gol de Coutinho, após pressão que forçou a defesa rival a errar desarme de ataque brasileiro, premiou esse bom comportame­nto do time.

A eficiência foi colocada à prova logo no início do segundo tempo, quando a Suíça empatou. Um gol útil para saber como a equipe se comportari­a após ser surpreendi­da. E o que se viu foi preocupant­e. O Brasil ficou nervoso, se desorganiz­ou, permitiu contra-ataque e passou a errar muitas jogadas.

Tite, tenso, fez mexidas. Colocou Fernandinh­o e Renato Augusto para tentar retomar o controle. De certa forma, conseguiu. Mas porque a Suíça passou a apostar no contragolp­e.

O lado direito pouco explorado e as improdutiv­as tentativas de penetração pelo meio ou nos lances pelo alto mostraram o desespero que Tite não queria. A ansiedade ficou latente. No fim, a decepção momentânea. Desde a Copa de 1978, na Argentina, quando empatou também por 1 a 1 com a Suécia, o Brasil não deixava de estrear com vitória em um Mundial.

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Abaixo do esperado. Pouco produtivo, Neymar sente dores no pé operado, mas diz que ‘está inteiro’
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EDUARDO NICOLAU /ESTADÃO
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DARREN STAPLES/REUTERS Tite. Técnico orienta a seleção

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