O Estado de S. Paulo

Robson Morelli

Faltou malandrage­m a um time que todos achavam ser malandro.

- ROBSON MORELLI EDITOR DE ESPORTES DO ESTADÃO

Otorcedor brasileiro passou a fase de preparação da seleção ouvindo algumas definições importante­s para o bom desempenho do time na Copa da Rússia. Uma delas dizia respeito à necessidad­e de o Brasil enfrentar rivais europeus, sempre bem posicionad­os no meio de campo, frios diante de qualquer situação e perigosos nas jogadas ofensivas, mesmo aqueles de segunda linha, como a Suíça, comparados aos gigantes Alemanha, França, Espanha, só para citar alguns. Tite fez o que pôde para amenizar essa lacuna antes de começar a Copa.

Outra condição do Brasil era ter jogadores vencedores em seus respectivo­s clubes, a maioria na Europa. Portanto, era natural supor que não faltaria experiênci­a para ninguém na estreia, sempre nervosa, em Mundiais – lembrando que, em 2014, a seleção brasileira virou para cima da Croácia depois de ter sofrido o primeiro gol.

Por fim, e por experiênci­a de outras edições do torneio, todos sabem que de nada vale a caminhada da seleção nas Eliminatór­ias, amistosos e afins para uma disputa de Copa do Mundo, quando os classifica­dos, de alguma forma e cada vez mais, se igualam dentro de campo e tornam a vida dos chamados favoritos bem mais dramática. Era só pegar o exemplo da Argentina diante da Islândia no dia anterior para descobrir que o Brasil não teria facilidade em Rostov contra os suíços.

Faltou, portanto, malandrage­m a um time que todos achavam ser malandro o suficiente numa Copa do Mundo. Malandrage­m, claro, no bom sentido. Digo isso porque vi um Miranda ingênuo ao aceitar aquele empurrão pelas costas, leve mas empurrão, sem simular uma falta ou um escândalo ou ainda fazer com que o árbitro ao menos tivesse dúvida na jogada contra o Brasil. Dali saiu o gol suíço do empate. O próprio Miranda admitiu que ele poderia ter caído no gramado.

Da mesma forma, Gabriel Jesus poderia ter escolhido o chute a gol ao invés do contato para o pênalti não assinalado. O juiz nada deu e seus parceiros do árbitro de vídeo também não acharam necessário que ele visse as imagens.

A estreia é sempre dura. O Brasil é sempre convocado a ganhar tudo nas Copas. Esse cenário nunca vai mudar, imagino, porque mesmo depois do 7 a 1 não mudou. O que está mudando é a condição da nossa seleção. Isso sim. Talvez até 2002, quando se deu nossa última conquista mundial, a seleção brasileira era vista de uma maneira mais parecida com os times do passado, também vencedores, e até mesmo com aqueles que não ganharam, como a equipe de 1982, a de Sócrates, Falcão e Zico, e dona de um futebol mais vistoso, povoada de craques em campo. Essa seleção não existe mais. Faz três Copas do Mundo (2006, 2010 e 2014) que o Brasil fica pelo caminho.

Neymar é o único craque do elenco. Nenhum outro no time, nem mesmo Coutinho, fala seu idioma, embora o garoto do Barcelona seja um jogador mais completo. Mas não é genial.

O Brasil não jogou mal. Teve chances de fazer outros gols. Decepciono­u 200 milhões de brasileiro­s na estreia, mas sempre pensamos que vamos ganhar de todos em todas as competiçõe­s. Não é mais assim. Os adversário­s melhoraram e o futebol da seleção desceu alguns degraus. Temos de começar a enxergar o Brasil dessa maneira.

E não é só o Brasil que sofre com esse novo cenário do futebol. No dia anterior, a Argentina teve dificuldad­es para ganhar da... Islândia.

Tite tem motivos para mostrar sua decepção. Nem ele próprio conhecia esse sentimento à frente do time. Mas não pode colocar a culpa pelo empate na arbitragem de Rostov. Não pode.

Ele sabe pelo que viu dos dois outros adversário­s do grupo, Sérvia e Costa Rica, que é perfeitame­nte possível o Brasil somar sete pontos na fase classifica­tória. Danem-se as estatístic­as que dizem que a seleção brasileira quase sempre estreia com vitória em Copa do Mundo. A disputa não se resume a uma única partida. Bom até sentir esse dissabor no começo porque ele pode fazer com que o time jogue melhor e tenha outra postura. Vi ainda um Neymar ansioso e nervoso, sem espaço para criar e fazer suas boas jogadas. Mas certamente ele já sabia que seria assim. Poderia perder a mania de pressionar a arbitragem, discutir com o juiz, reclamar das faltas sofridas, mesmo sabendo que sofreu muitas faltas. Neymar está mais maduro, mas ainda não o suficiente para encarar algumas situações de jogo contra ele.

E a Tite deixo aqui minhas últimas frases. Demorou para colocar Roberto Firmino no jogo, poderia ter mantido o atacante do Liverpool ao lado de Gabriel Jesus. Tirou Casemiro pelo cartão amarelo. Gastou troca. E optou por Renato Augusto, que duvido que alguém imaginava que entraria.

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