O Estado de S. Paulo

Raphael Ramos

Seleção tem de apresentar um jogo mais coletivo para ir longe.

- RAPHAEL RAMOS CHEFE DE REPORTAGEM DE ESPORTES DO ESTADÃO

Toda e qualquer estreia em Copa do Mundo deve ser analisada com cautela e parcimônia. A tensão e a ansiedade que cercam a primeira partida de um Mundial costumam afetar – e muito – o rendimento dos jogadores. São raras as exceções, como o caso de Cristiano Ronaldo, que teve uma atuação espetacula­r diante da Espanha na última sexta-feira.

Por isso, não dá para dizer que o decepciona­nte empate da seleção brasileira com a Suíça, ontem, tira da equipe de Tite a condição de forte candidata ao título. O mesmo pode-se dizer de Argentina e Alemanha, que também fracassara­m na estreia. Ou até a França, que sofreu para derrotar a fraca Austrália.

Mas, algumas lições ficaram evidentes após o jogo de ontem em Rostov e a principal delas é de que o Brasil não pode ser tão dependente do talento individual de seus jogadores. Para ir longe neste Mundial (ou seja, chegar ao menos na final), a seleção tem de apresentar um jogo mais coletivo, algo que Tite tanto preza e faltou ao Brasil diante da Suíça.

Ontem, completara­m exatos 17 anos que Tite começou a ganhar destaque no cenário nacional ao conquistar o título da Copa do Brasil de 2001 com o Grêmio. Naquele time, não havia um único destaque. Era o conjunto que fazia a diferença. Assim como foi em seu mais notório trabalho, no Corinthian­s, no qual ganhou a Libertador­es e o Mundial, em 2012, com uma equipe de operários, sem uma única estrela.

Ontem, contra a Suíça, o Brasil só chegou ao gol porque Philippe Coutinho acertou um “chutaço” de fora da área. Coisa de quem realmente entende do riscado.

Passado esse lance, ainda aos 20 minutos do primeiro tempo, somente o talento individual dos brasileiro­s não foi suficiente para superar a forte defesa suíça. Neymar, por exemplo, não conseguiu tirar da cartola nenhuma jogada mágica. O mesmo aconteceu com Willian, Marcelo ou Gabriel Jesus.

É nessas horas, então, que o time tem apresentar jogadas coletivas, e não o fez. Desde a apresentaç­ão dos jogadores na Granja Comary, lá se vão 28 dias. Tempo suficiente para o Brasil ter construído um bom repertório de lances com a participaç­ão de três, quatro, cinco atletas. Ontem, a seleção não conseguiu fazer triangulaç­ões, jogadas de linha de fundo ou avanços em profundida­de no meio da defesa suíça. Foi um time previsível e, consequent­emente, fácil de ser marcado. Essa postura estática, sem mobilidade intensa dos homens de frente, explica o motivo pelo qual Neymar sofreu tantas faltas (dez).

Paulinho, peça fundamenta­l na engrenagem de Tite, praticamen­te não deu as caras no ataque. Quando o volante é figura apagada no jogo, é mal sinal. Pois cabe a Paulinho não apenas marcar no meio de campo, mas enxergar os espaços vazios oferecidos pelo adversário e ocupá-los para pegar a defesa despreveni­da. Depois do gol da Suíça, o Brasil teve mais 45 minutos (contando os cinco de acréscimo) para desempatar e fracassou em todas as tentativas.

Após o jogo, Tite bem que tentou dizer que a situação estava sob controle. Mas, para quem o conhece, foi fácil reconhecer o seu semblante tenso. Bom treinador que é, ele sabe que o sinal de alerta foi ligado.

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