O Estado de S. Paulo

Milton Leite

Como o goleiro da Islândia conseguiu dormir depois de parar Messi?

- MILTON LEITE NARRADOR DO SPORTV

Não foi fácil a noite de Bouhaddouz. Um gol contra no último minuto dos acréscimos da estreia na Copa provocou a derrota de Marrocos contra o Irã. O gol não muda nada no Mundial, são daqueles participan­tes que caem na primeira fase. Mas o zagueiro marroquino virou o primeiro personagem dramático destes primeiros jogos da competição na Rússia.

Porque o esporte, entre todas as manifestaç­ões humanas, talvez seja uma das que mais produzem histórias, personagen­s, emoção. Principalm­ente nos grandes eventos como os Jogos Olímpicos ou um Mundial, com alcance maior de mídia e colocando diante da televisão bilhões de pessoas. Todas as lentes, todos os olhos, imediatame­nte focam o personagem, o homem que marcou o gol contra no último minuto de jogo em que seu time teve infinidade de chances de marcar e vencer.

Poucas horas depois, juntou-se a Bouhaddouz o goleiro espanhol De Gea, ao tomar frango histórico no duelo com Portugal, quando sua seleção jogava melhor e estava perto de virar placar que começou desfavoráv­el – dificilmen­te a Espanha deixaria de vencer não fosse aquele gol. O que terá feito De Gea para preencher as horas em que o sono o abandonou em troca das imagens incessante­s da bola escapando. O peruano Cueva, meia do São Paulo, foi mais um a perder o descanso noturno ao jogar nas nuvens um pênalti contra a Dinamarca.

Já a falta de sono de Hallddorss­on teve outra razão, essa para ser lembrada pela vida toda. A excitação de uma tarde inesquecív­el. O dia em que esteve frente a frente com o melhor do mundo por cinco vezes, Lionel Messi, e venceu. Jogo empatado, enrolado e os favoritos argentinos conseguem um pênalti, que talvez significas­se o gol da vitória na estreia das duas seleções. Não fosse a intervençã­o de Hallddorss­on, o goleiro da Islândia, time sem tradição que já fez barulho na última Eurocopa. Como dormir depois de parar Messi?

E mesmo sendo Messi, terá sido possível fechar os olhos, não pensar no som da bola tocando na mão daquele gigante loiro e dormir? Tantos títulos, tantos prêmios, tantas vitórias e a consagraçã­o como um dos melhores da história serão suficiente­s para encarar esta falha como algo que até os gênios cometem, e relevar? Provavelme­nte, não. Tão cobrado pelo jejum de títulos da Argentina, Messi sabe que os dois pontos que ficaram para trás contra a Islândia podem ser decisivos.

Mais complicado ainda é ter desperdiça­do o pênalti no dia seguinte à performanc­e do rival de geração e premiações Cristiano Ronaldo, com seus três gols contra a Espanha, no empate arrancado nos últimos minutos de um jogo em que o adversário foi superior. Um pênalti sofrido e convertido, gol marcado com a ajuda do goleiro espanhol e uma cobrança magistral de falta nos minutos finais colocaram o português no topo até aqui.

Na madrugada de Sochi, CR7 deve ter ficado horas com os olhos abertos a percorrer capas de jornais do mundo, saboreando as manchetes sobre sua exibição. Vaidoso como poucos, o excepciona­l português terá resistido à tentação de levantar, olhar no espelho e dizer: “Tu és o cara, ó pá!”?

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil