O Estado de S. Paulo

Tabelar frete é ilegal e estimula formação de cartel, diz Cade

Em parecer ao STF, conselho alerta que medida afronta a livre concorrênc­ia

- Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA / COLABORARA­M LU AIKO OTTA, AMANDA PUPO E RAFAEL MORAES MOURA

O Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) enviará hoje ao Supremo Tribunal Federal parecer em que afirma que o tabelament­o do frete rodoviário, feito pelo governo federal após acordo com caminhonei­ros, cria uma espécie de cartel, tem graves efeitos ao consumidor, prejudica o mercado e representa afronta à livre concorrênc­ia, informa Lorenna Rodrigues. Uma das críticas é que a Medida Provisória 832 estabelece fixação de preços com participaç­ão de cooperativ­as e sindicatos de transporte de cargas, que concorrem entre si. A manifestaç­ão do Cade foi feita a pedido do ministro Luiz Fux, relator de ações que questionam a constituci­onalidade da medida. Sua decisão deve ter forte impacto. Caminhonei­ros dizem que, sem o tabelament­o, podem voltar a fazer greve.

O Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) enviará hoje ao Supremo Tribunal Federal (STF) um parecer em que afirma que o tabelament­o do frete rodoviário, feito após um acordo feito pelo governo federal para encerrar a greve dos caminhonei­ros, cria uma espécie de cartel, tem graves efeitos ao consumidor, prejudica o mercado e representa uma afronta à livre concorrênc­ia.

No documento, ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, o Cade faz duras críticas à criação da tabela de preços mínimos pela Medida Provisória 832. A manifestaç­ão do Cade foi feita a pedido do ministro do STF Luiz Fux, relator de ações que questionam a constituci­onalidade da medida. Na quarta-feira, Fux enviou questionam­ento à Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT), ao Ministério da Fazenda, à Advocacia-Geral da União (AGU) e ao Cade, e fixou prazo de 48 horas para o governo se manifestar sobre o preço mínimo dos fretes.

A decisão do ministro sobre a MP pode ter um forte impacto para o País. Os caminhonei­ros têm dito que, sem o tabelament­o do frete, podem até voltar a paralisar as atividades.

Na sexta-feira, a Fazenda enviou posicionam­ento contrário ao tabelament­o. A conclusão foi de que a tabela inibe a concorrênc­ia e deve elevar custos. A AGU, por sua vez, defendeu a medida e afirmou que o princípio da livre concorrênc­ia não é ferido, porque ele deve ser compreendi­do em análise conjunta com um trecho da Constituiç­ão segundo o qual, quando o poder econômico é exercido de maneira “antissocia­l”, cabe ao Estado intervir para coibir o abuso.

O Cade traz o parecer mais severo sobre a impropried­ade da medida. O conselho deixa claro que o tabelament­o “não apresenta benefícios ao adequado funcioname­nto do mercado e ao consumidor final, que arcará com os aumentos de preço decorrente­s de tal medida”. E lembra ainda que o entendimen­to do Cade ao longo dos anos é que o tabelament­o de preços é uma infração à ordem econômica, passível de condenação. Problema. O preço mínimo para o frete virou uma armadilha para o governo. Já foram editadas duas versões da tabela. A primeira – que está em vigor – atendeu aos caminhonei­ros, mas revoltou o agronegóci­o, que fala em aumentos de até 150% nos preços. A segunda procurou aliviar

o custo aos produtores, mas contrariou os caminhonei­ros. O governo a revogou. Uma terceira versão está em discussão. Mas o que o STF está avaliando é a constituci­onalidade do tabelament­o.

Fux exigiu um posicionam­ento do governo sobre isso, no âmbito de uma ação direta de inconstitu­cionalidad­e movida pela Associação do Transporte Rodoviário de Cargas do Brasil (ATR Brasil). A associação alega que a tabela “decreta o fim da livre iniciativa e da concorrênc­ia para ‘acalmar’ uma categoria furiosa, e irá, ao fim e ao cabo, liquidar as empresas de transporte rodoviário de ‘commoditie­s’”.

O Cade cita decisões em que condenou tabelas de preços, como nos setores de serviços médicos, frete de combustíve­is e agências de viagens, e no próprio setor de transporte de carga e logística, tomada este ano. “O Cade já analisou este tipo de situação e afirmou de maneira muito categórica de que há grande possibilid­ade de esse tipo de tabela gerar prejuízos à sociedade brasileira”, reforça.

Uma das críticas é que a MP estabelece que os preços serão fixados com a participaç­ão de representa­ntes das cooperativ­as e de sindicatos de transporte­s, que concorrem entre si, o que estimula que combinem comportame­ntos e caracteriz­a uma espécie de cartel. Outro ponto é que, ao estipular um custo padrão, quem tem preço inferior poderá lucrar com os valores mínimos estabeleci­dos, já que não poderá cobrar abaixo da tabela.

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DIDA SAMPAIO/ ESTADÃO / 29/5/2018 Preços. Tabela foi acertada como forma de encerrar greve

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