O Estado de S. Paulo

Duro golpe contra o PCC

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Já passa da hora de acabar com o poder econômico e bélico da principal facção do Brasil.

Aengenhosi­dade do setor de inteligênc­ia da Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria (SAP) de São Paulo levou à deflagraçã­o de uma das mais contundent­es operações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), quadrilha que há 25 anos zomba das autoridade­s, ameaça a estabilida­de democrátic­a e atemoriza as populações de São Paulo e dos Estados em que se infiltrou.

A Polícia Civil e o Ministério Público (MP) de São Paulo deflagrara­m a Operação Echelon, na quinta-feira passada, tendo como alvo o “departamen­to” do PCC responsáve­l por coordenar a atuação do bando fora de São Paulo, o chamado “Resumo dos Estados”, subordinad­o diretament­e à cúpula da facção criminosa.

Em março do ano passado, agentes da SAP simularam um problema na tubulação de esgoto da Penitenciá­ria 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista. Em vez de reparar o suposto problema, os agentes instalaram telas nos dutos de esgoto com o objetivo de reter cartas picadas que os detentos descartava­m durante as inspeções feitas nas celas. Muitas dessas cartas, quando reconstitu­ídas pelo setor de inteligênc­ia da SAP, revelaram muitos dos chamados “salves”, ordens gerais para a realização de operações do PCC e para o assassinat­o de agentes de segurança pública e desafetos do bando emitidas pelos detentos para os membros da facção que se encontram extramuros.

Para respaldar a operação, foram expedidos 59 mandados de busca e apreensão em 14 Estados – 55 cumpridos – e 75 mandados de prisão preventiva contra acusados de fazer parte da quadrilha. Das 75 prisões decretadas, 63 foram cumpridas, sendo 16 fora de São Paulo. No Estado, foram cumpridos 35 mandados de prisão preventiva. O dado curioso é que, destes, 20 tinham como alvo pessoas que já estavam presas desde o ano passado.

Em que pesem o minucioso planejamen­to e a diligente e coordenada execução da Operação Echelon, fato é que se está diante de uma ação bem-sucedida, é verdade, porém excepciona­l. A regra até aqui é, no mínimo, a leniência entre agentes públicos e criminosos. Basta dizer que a longevidad­e do PCC – 25 anos de atuação, repita-se – só é possível graças ao compadrio entre bandidos e agentes públicos por tanto tempo, a um preço que só uma séria e corajosa investigaç­ão poderá dizer. Essa, afinal, é a explicação inescapáve­l do falso mistério: como criminosos notórios podem comandar uma rede criminosa de alcance nacional de dentro da cadeia, sob a proteção formal de agentes do Estado?

Não menos eloquente sobre a porosidade das barreiras legais à atuação do PCC é o número de mandados de prisão expedidos na Echelon contra acusados que já estavam presos há, pelo menos, um ano: 20 de 35, apenas em São Paulo. Ou seja, os detentos continuara­m a cometer crimes sem maiores dissabores sob a custódia do Estado. Evidenteme­nte, não se trata de fato inédito, mas jamais deixará de causar espanto em todos os que têm apreço à lei e à ordem.

O “Resumo dos Estados”, responsáve­l por expandir os negócios do PCC fora de São Paulo, incluindo a operação internacio­nal do bando em países como Colômbia, Paraguai, Peru, Bolívia e Guiana, era controlado por sete criminosos, todos presos na Penitenciá­ria 2 de Presidente Venceslau. Eles assumiram a função após outros 14 detentos, incluindo o líder máximo da quadrilha, Marco Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, terem sido transferid­os para o Regime Disciplina­r Diferencia­do (RDD) do presídio de Presidente Bernardes, também no interior paulista, no ano passado.

O secretário da Segurança Pública, Mágino Alves, chegou a dizer que a Operação Echelon era um “golpe mortal” no PCC. Ao ser advertido por jornalista­s sobre o tom exageradam­ente otimista da afirmação, o secretário voltou atrás e disse se tratar de um “sério golpe” na facção criminosa. “O combate ao PCC é um trabalho constante”, corrigiu-se.

Embora seja um “trabalho constante”, o combate ao PCC não pode ser um trabalho inconcluso. Já passa da hora de acabar de vez com o poder econômico e bélico da principal facção criminosa em atuação no Brasil. A Operação Echelon é uma dura resposta do Estado à audácia dos criminosos. Que não seja apenas um espasmo de sucesso.

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