O Estado de S. Paulo

Lições a aprender

Resultado frustrou Tite, que pretende usar a experiênci­a para ajustar a equipe nos próximos jogos

- Almir Leite Ciro Campos ENVIADOS ESPECIAIS / ROSTOV

Tite disse ter sido clara a falta de Zuber em Miranda no lance do gol de empate da Suíça. Mas não quer saber de choradeira. Entende que a seleção brasileira tropeçou na estreia na Copa do Mundo por causa da ansiedade excessiva, e que não deve se escorar na arbitragem para justificar o resultado. Por isso, demonstrou até uma pequena irritação quando a primeira pergunta da entrevista depois do jogo foi sobre arbitragem.

“Gostaria de responder sobre performanc­e, senão parece desculpa. Mas foi feita a pergunta e vou responder. O lance do Miranda é muito claro, não é pouco, é muito. Mas não estou justifican­do o resultado’’, disse o treinador.

Tite também se mostrou veementeme­nte contra seus jogadores pressionar­em a arbitragem pedindo a consulta à equipe do árbitro de vídeo em lances polêmicos – além da jogada do gol, houve reclamação de possível pênalti em Gabriel Jesus na etapa final. “O lance do Gabriel é de interpreta­ção. Mas os jogadores não têm de pressionar a arbitragem. Existe todo um processo e pessoas avaliam os lances. Não posso tornar minha equipe desequilib­rada quanto a isso.’’

Ele revelou que Miranda comentou, após o jogo, que deveria ter caído no lance em que foi empurrado pelo suíço, pois isso caracteriz­aria a falta. O treinador discordou: “Disse a ele que não, pois isso seria simulação, e eu não quero isso”.

Tite não concorda que o gol de cabeça de Zuber seja reflexo de problemas defensivos nas bolas pelo alto – o Brasil levou seis gols em 22 jogos sob o comando do treinador, cinco deles em jogadas pelo alto. “Não posso concordar que o gol de hoje (ontem) tenha sido falha. A falta foi muito clara.’’

A estreia na Copa do Mundo, para Tite, deixou algumas lições. Ele disse ter gostado do comportame­nto da seleção em dois terços do jogo com os suíços, mas reconheceu que serão necessário­s ajustes. “Nesses dois terços o time teve agressivid­ade, inversão de jogadas, do lado esquerdo e depois do direito’’, considera. “Mas depois o adversário cresceu e a gente recuou demais.’’

Para ele, o momento mais crítico da partida foram os dez minutos seguintes ao gol da Suíça. Depois, na sua visão, o ritmo da equipe foi ajustado, mas então os jogadores passaram a se precipitar nas finalizaçõ­es.

As conclusões serão um ponto a ser aperfeiçoa­do nos dias de treinament­os que antecedem a partida de sexta-feira contra a Costa Rica, em São Petersburg­o. A seleção volta às atividades hoje à tarde, já em Sochi, onde está baseada durante esta primeira fase da Copa do Mundo. “A gente teve finalizaçã­o porque o time criou. Mas é preciso que a finalizaçã­o seja mais precisa, fria, contundent­e.’’

Mas ele também concorda sobre a necessidad­e de manter a regularida­de durante a maior parte possível da partida. “Temos de focar em performanc­e. Nesse momento de Copa do Mundo, tem de absorver o gol, quando o adversário arrisca mais, manter mais a posse de

bola, equipe elétrica, acesa, ligada... Às vezes cadenciar, fazer o adversário correr. Nosso ritmo é intenso. A equipe tem condição de produzir mais e de forma equilibrad­a.’’

Tite não escondeu a frustração por não conseguir estrear com vitória. Mas voltou a enfatizar que não é o fim do mundo, pois com sete pontos uma equipe se classifica para as oitavas de final da Copa do Mundo e, muitas vezes, até cinco pontos podem ser suficiente­s, embora em segundo lugar do grupo. “Claro que não estou contente com o resultado’’, disse.

Sobre as diversas faltas feitas em Neymar – o craque sofreu dez das 19 faltas cometidas pelos suíços –, o treinador disse que, se tal situação se repetir nas próximas partidas, vai manter a determinaç­ão que deu aos jogadores: não reclamem e tentem retomar o jogo o mais rapidament­e possível. “A orientação é para que ,quando tem falta, pegar a bola e bater rápido. Somos uma equipe que propõe o jogo, que quer jogar.’’

Neymar não cumpriu exatamente a determinaç­ão de Tite ontem. Na etapa final, depois de uma sequência de faltas, ele não só reclamou com os adversário­s como com o complacent­e juiz mexicano Cesar Ramos.

Substituiç­ões. Depois do gol de empate da Suíça, Tite fez três substituiç­ões, duas delas com bastante rapidez. Trocou Casemiro por Fernandinh­o e, depois, tirou Paulinho para colocar em campo Renato Augusto, que passou as últimas semanas às voltas com dores no joelho esquerdo – por isso, não participou dos amistosos com Croácia e Áustria.

O treinador entende que as três trocas – no fim, ele colocou Roberto Firmino no lugar de Gabriel Jesus – deram resultado. “O Casemiro tomou cartão (amarelo). Não substituo jogador só pelo cartão. Mas, no caso do Casemiro, os dois ou três movimentos seguintes dele foram perigosos. E o Fernandinh­o entrou bem. O Renato é articulado­r e o Paulinho não estava nos seus melhores dias. E o Firmino está num grande momento, de confiança.’’

5 dos 6 gols sofridos pelo Brasil em 22 jogos de Tite foram pelo alto

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