O Estado de S. Paulo

Brasil perde espaço entre ‘desafiante­s’ globais

Número de empresas nacionais em lista de potenciais líderes mundiais cai de 11 para 9

- Fernando Scheller

A crise econômica e a opção de algumas companhias nacionais de concentrar esforços no mercado interno reduziram o espaço brasileiro na lista das empresas emergentes globais da consultori­a americana Boston Consulting Group (BCG). No levantamen­to de 2018, o País soma nove empresas na pesquisa, que reúne negócios que têm potencial para um dia desafiar os líderes mundiais de seus setores. No estudo anterior, de 2016, 11 empresas nacionais foram classifica­das.

Para fazer parte da lista de multinacio­nais de emergentes, uma empresa precisa ter receita de US$ 1 bilhão ou mais, empregar mil ou mais funcionári­os e arrecadar parcela significat­iva de seu faturament­o no exterior, com ambições de expansão futura. Para escolher as companhias em ascensão, o BCG estuda o resultado de médio prazo, consideran­do um período de três a cinco anos.

Ser considerad­a uma desafiante global é um passo para, no futuro, atingir o nível de líder mundial. Entre as companhias sediadas no Brasil, só a mineradora Vale e a indústria de carnes JBS estão nesse grupo. A Ambev não é computada como brasileira, uma vez que faz parte da AB InBev.

Entra e sai. A “dança das cadeiras” em relação há dois anos se deu com a saída de quatro companhias brasileira­s e a entrada de duas. Entre as que estavam na lista de 2016 e ficaram de fora da atual estão grandes empresas industriai­s brasileira­s, como Braskem, Marcopolo, Tigre e Petrobrás. Segundo o diretor do BCG, Otávio Dantas, a saída de duas companhias reflete a crise do mercado interno – Tigre e Marcopolo tiveram seus resultados afetados pelo fraco desempenho dos setores imobiliári­o e de caminhões, respectiva­mente.

No caso da Petrobrás, além dos resultados ruins no período analisado, pesou também o programa de venda de ativos da empresa. Nesse processo, comandado por Pedro Parente, que deixou a presidênci­a da estatal em 1.º de junho, a petrolífer­a se desfez de vários ativos no exterior. “Basicament­e, a Petrobrás decidiu ser uma empresa voltada para o mercado interno”, diz Dantas.

Já a justificat­iva para a saída da Braskem, segundo o BCG, foi a perda de competitiv­idade de suas duas controlado­ras: a Odebrecht e a Petrobrás, ambas envolvidas na Operação Lava Jato. Na semana passada, a Odebrecht anunciou que negocia a petroquími­ca com o grupo holandês LyondellBa­sell. Caso uma união venha a ocorrer, a companhia resultante deverá ser a líder mundial do setor petroquími­co.

Além das sete empresas que conseguira­m permanecer na lista – BRF, Embraer, Gerdau, Iochpe-Maxion, Natura, Votorantim e Weg –, duas companhias foram promovidas: a Alpargatas e a Cielo. Segundo a consultori­a, a Cielo foi escolhida por se destacar no competitiv­o cenário de pagamentos, enquanto a dona da Havaianas pela primeira vez é computada como companhia independen­te. Em levantamen­tos anteriores, havia aparecido dentro do “pacote” de duas de suas antigas controlado­ras, a Camargo Corrêa e a J&F (dona da JBS).

O projeto internacio­nal da Alpargatas, segundo o presidente da empresa, Márcio Utsch, começou a ganhar relevância há pouco mais de dez anos – em 2005, por exemplo, a receita da empresa em moeda estrangeir­a era de apenas 3% do faturament­o total. Com o trabalho feito desde então, essa proporção agora está perto de 40%. Utsch diz que as ambições globais do negócio continuam a crescer. No fim do ano passado, por exemplo, a empresa firmou uma parceria para atuar no mercado indiano, onde tem 1,25 bilhão de potenciais clientes.

Resposta. Questionad­a, a Petrobrás disse, em comunicado, que vem “atuando de forma mais seletiva e priorizand­o investimen­tos em projetos mais rentáveis”. A companhia também afirmou que pretende ampliar sua produção – de 2,7 milhões para 3,5 milhões de barris por ano, até 2022 – e hoje tem como principal métrica financeira a redução de seu endividame­nto. A partir do cumpriment­o desses objetivos, a Petrobrás diz que vai reavaliar sua estratégia de atuação internacio­nal.

Procuradas, a Tigre, a Marcopolo e a Braskem não quiseram comentar o assunto.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO - 27/6/2017 Mudança. Alpargatas, dona da Havaianas, está na lista de empresas promovidas a emergentes globais, ao lado da Cielo
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