O Estado de S. Paulo

Selic e incertezas no cenário minam queda de juro bancário

Segundo especialis­tas, chances de uma real redução no valor do crédito para consumidor ficaram para trás

- Jéssica Alves

Com o fim do ciclo de queda da Selic, o aumento das incertezas políticas e a pressão externa, a chance de haver uma efetiva queda dos juros cobrados ao consumidor, que vinha se desenhando, ainda que timidament­e, ficou para trás. Segundo especialis­tas, as instituiçõ­es não têm um cenário favorável ao afrouxamen­to nos juros. O alívio no bolso ficará por conta do Banco Central (BC), que vem se movimentan­do para baixar linhas, como do cartão de crédito e do cheque especial.

Pesquisa feita pelo Projeções Broadcast com 49 analistas do mercado financeiro mostra que todas as estimativa­s apontam para manutenção da Selic em 6,50% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira. A Selic não é o único componente que os bancos analisam para baixar as taxas. Mas, quando ela está em queda, é um indicativo da autoridade monetária de que o ambiente está favorável a possíveis reduções.

O rotativo do cartão de crédito, que é a taxa que mais pesa no bolso do consumidor, caiu graças, principalm­ente, à intervençã­o do BC, mas já aponta para uma certa estabilida­de, assim como o crédito pessoal. A taxa do cheque especial, que caiu muito pouco, é a única que ainda pode ter reduções. A partir de julho, os clientes que utilizarem 15% do limite da conta por 30 dias devem ser direcionad­os para uma opção mais barata, segundo regras do próprio mercado. “Agora não dá para falar em queda de juros. O cenário mudou, o mundo mudou e as fragilidad­es do País estão cada vez mais evidentes: o risco Brasil e os juros do mercado futuro subiram e mostram que as taxas que vemos devem continuar assim”, diz Margarida Gutierrez, professora da UFRJ.

Além da manutenção da Selic, outro fator que dificulta as instituiçõ­es a mexer em seus créditos é a disparada das taxas futuras de juros, que, grosso modo, refletem o valor do dinheiro lá na frente. Essas taxas são uma das referência­s analisadas para se chegar ao spread – diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga ao captar o recurso) e o quanto ele cobra do consumidor ao emprestar.

O spread, segundo o próprio BC, é composto majoritari­amente pela inadimplên­cia, seguida por despesas administra­tivas e tributos. Com a recuperaçã­o econômica ainda tímida e a queda do desemprego amparado pelo aumento de vagas informais, Gutierrez explica que a inadimplên­cia deve continuar pesando no crédito. Uma medida que, segundo ela, poderia contribuir para reduzir o custo do crédito seria a aprovação do cadastro positivo, que aguarda análise da Câmara dos Deputados. O cadastro deixaria disponível para os bancos o histórico de bons pagadores.

Outro fator que não deixa as instituiçõ­es confortáve­is é a incerteza política, aponta a economista chefe da Reag Investimen­tos, Simone Pasianotto. “Estamos a quatro meses das eleições e não temos candidatos. Toda essa incerteza dificulta qualquer perspectiv­a”, explica.

O cenário agora é de espera também para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituiçõ­es de Crédito, Financiame­nto e Investimen­to (Acrefi). Segundo ele, os agentes do mercado estão observando a extensão da normalizaç­ão das taxas de juros nos Estados Unidos e Europa e a percepção de risco no Brasil, que aumentou principalm­ente no último mês com a greve dos caminhonei­ros. “Todo mundo quer entender os efeitos dessa crise externa e interna”, diz.

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