O Estado de S. Paulo

Tabela de frete elevará custos em R$ 53,2 bi, diz entidade

Estimativa foi feita por duas associaçõe­s (Abiove e Abec) e entregue ao STF, que deve realizar amanhã uma audiência preliminar sobre a tabela

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Estimativa­s feitas por duas associaçõe­s de produtores que respondem por 80% da comerciali­zação de soja no País indicam que o impacto do tabelament­o do frete na economia será de R$ 53,2 bilhões, mais do que o País investe em infraestru­tura por ano. Isso provocaria elevação de 0,92 ponto porcentual na taxa da inflação. Audiência preliminar sobre o caso está marcada para amanhã no STF.

A alta de custos com o tabelament­o do frete será da ordem de R$ 53,2 bilhões sobre o conjunto da economia, mais do que o País tem investido, por ano, em infraestru­tura. Isso deve provocar uma elevação de 0,92 ponto porcentual na taxa de inflação e reduzir a massa salarial real em R$ 20,7 bilhões.

As estimativa­s constam de petição da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e da Associação Nacional dos Exportador­es de Cereais (Anec) enviada ao Supremo Tribunal Federal. As duas entidades, que respondem por pelo menos 80% da comerciali­zação de soja do País, pediram para entrar como parte interessad­a na Ação Declaratór­ia de Inconstitu­cionalidad­e movida pela Associação do Transporte Rodoviário do Brasil contra o tabelament­o do frete.

O processo é relatado pelo ministro Luiz Fux, que marcou para amanhã uma audiência preliminar sobre o caso. Outras entidades, como a NTC Logística, a Associação Nacional para Difusão de Adubos e a Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga também pediram inclusão no processo. “O valor representa a receita que aumenta para os transporta­dores e caminhonei­ros e que sai do resto da economia”, disse o presidente da Abiove, André Nassar.

Soja. Especifica­mente sobre o mercado de soja, a petição traz estimativa­s preliminar­es elaboradas pela Abiove, que apontam para perdas de US$ 1,5 bilhão em apenas 15 dias. Desse valor, US$ 800 milhões decorrem do aumento do custo de transporte e US$ 675 milhões correspond­em aos 225 milhões de litros de biodiesel que deixaram de ser produzidos no período.

A conta inclui ainda US$ 18 milhões em custos financeiro­s pela perda de receitas. O gasto com multas e redirecion­amento de navios por falta de carga custou US$ 3 milhões no período. Projetadas para o ano, as perdas no setor de soja chegam a US$ 11,8 bilhões.

Os dados constam de um estudo elaborado pelo professor Armando Castellar, da Fundação Getúlio Vargas.

As entidades argumentam que haverá alta de preço, com possível impacto sobre as famílias de menor renda, porque o tabelament­o do frete inibe a concorrênc­ia. O custo adicional é repassado ao consumidor.

Essa mesma argumentaç­ão foi levantada pelo Ministério da Fazenda e pelo Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) nas manifestaç­ões que enviaram ao STF, a pedido de Fux. Em contrapart­ida, a Advocacia-Geral da União e a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres justificar­am a adoção do tabelament­o.

Livre concorrênc­ia. A julgar pelas argumentaç­ões já entregues, a discussão no STF tende a girar em torno do peso de determinad­os princípios constituci­onais no caso dos caminhonei­ros. As posições contrárias ao preço mínimo do frete argumentam que foram feridos os princípios da livre concorrênc­ia, entre outros. A defesa da medida usa o princípio da justiça social.

A opinião sobre esse embate de princípios levou a Fazenda a modificar sua manifestaç­ão enviada ao STF. Numa primeira versão, enviada na tarde de sexta-feira, a pasta afirmava que a MP 832, que regula o tema, “falhou” em proporcion­ar bem-estar social pretendido pelo governo. Uma segunda versão, enviada horas depois, dá um passo atrás e evita a conclusão.

Questionad­a, a Fazenda informou que o secretário de Promoção da Competitiv­idade e Advocacia da Concorrênc­ia, João Manoel Pinho de Mello, “decidiu revisar a primeira versão e alterou a redação daquele artigo” e acrescento­u que “não houve outra alteração”.

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LUCAS BAPTISTA / ESTADÃO - 22/5/2018 Projeção. Tabelament­o do frete traria impacto nos preços

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