O Estado de S. Paulo

Com PIB baixo e incertezas, indústria corta investimen­to

Pesquisas da Fiesp e do Ibre/FGV apontam mesma tendência; taxa de ociosidade atual é de cerca de 30%

- Márcia De Chiara Cleide Silva

A greve dos caminhonei­ros, a incerteza eleitoral e as turbulênci­as externas – que contribuír­am para a disparada do dólar – derrubaram as projeções de cresciment­o do PIB para o ano e estão fazendo com que empresário­s do setor industrial suspendam investimen­tos. A taxa de ociosidade é de 25% a 30% nas fábricas. Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, em março, a expectativ­a, com base na consulta a 442 empresas, era de que seria investido 1,2% mais do que em 2017. Agora, a estimativa é de queda de 0,4%. O Indicador de Intenção de Investimen­tos da Indústria do segundo trimestre – apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV com cerca de 700 empresas em abril e maio – caiu 7,6 pontos ante o primeiro trimestre. O resultado é quase igual ao do fim de 2017 e está abaixo da média registrada antes da recessão de 2014.

A constataçã­o de que a economia deve crescer menos do que o esperado fez os empresário­s da indústria cortarem investimen­tos previstos para este ano. A greve dos caminhonei­ros, que tirou quase 15 dias de faturament­o das empresas, ampliou as incertezas no mercado interno, que já embutiam o risco eleitoral. As pressões externas, que culminaram com a alta do dólar, também aumentaram as preocupaçõ­es do setor.

Duas pesquisas revelam que, nas últimas semanas, os empresário­s ficaram receosos em prosseguir com investimen­tos que levassem a aumento de produção, diante de uma ociosidade entre 25% e 30% nas fábricas. Na semana passada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) cortou a projeção de investimen­to do setor para este ano. Em março, a expectativ­a, baseada na consulta a 442 empresas, era de que seria investido 1,2% mais do que em 2017. Agora, a estimativa é de queda de 0,4% ou R$ 503 milhões a menos. Com isso, o aporte total deve ser de R$ 117,3 bilhões. “O grande problema foi a redução da projeção do PIB e a greve”, afirma o presidente em exercício da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.

Outra pesquisa mostra que os empresário­s da indústria começaram a segurar os investimen­tos antes mesmo da greve. O Indicador de Intenção de Investimen­tos da Indústria do segundo trimestre, apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV com cerca de 700 empresas em abril e maio, caiu 7,6 pontos em relação ao primeiro trimestre. O resultado é quase o mesmo do fim de 2017 e está abaixo da média registrada antes da recessão de 2014. “É um sinal preocupant­e porque 95% das indústrias foram consultada­s antes da greve, que adicionou mais incertezas”, diz o superinten­dente de Estatístic­as Públicas da FGV/Ibre, Aloisio Campelo Jr.. Se a apuração tivesse ocorrido na época da greve, ele acredita que o resultado seria pior.

Efeitos. A retração de aportes da indústria afeta o investimen­to total da economia. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta para este ano aumento de 4,5% da Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o investimen­to. Seria o primeiro avanço desde 2013. Segundo o diretor do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diante das incertezas, a alta deverá ser menor. “Os efeitos de se investir menos são perda de renda e de cresciment­o do PIB e a redução na capacidade de produção”, diz Souza Júnior. Além disso, acrescenta Roriz Coelho, sem investimen­to em modernizaç­ão, a produtivid­ade cai e o País fica ainda mais distante de competidor­es globais.

Para o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial, Rafael Cagnin, investimen­to em pesquisa e desenvolvi­mento, por exemplo, deveria ser contínuo, e interrompê-lo significa que talvez não possa ser resgatado. Segundo ele, grandes investimen­tos estão fora do radar e a retomada só deve ocorrer após a eleição.

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