O Estado de S. Paulo

Polícia diz que Luiz Estevão agia como ‘dono’ de cadeia

Bastilha. Policiais vistoriam cela de ex-senador, de Geddel e Dirceu em investigaç­ão que apura suspeita de regalias; diretor de centro de detenção e subsecretá­rio são afastados

- Julia Affonso

A Polícia Civil encontrou chocolates, tesoura e anotações diversas na cela que o ex-senador Luiz Estevão divide com o ex-ministro José Dirceu e na de Geddel Vieira Lima, no Presídio da Papuda, em Brasília. Segundo as investigaç­ões, Estevão seria o “dono da cadeia”, com direito a regalias. Durante revista, ele tentou se livrar de pen drives.

A Polícia Civil do Distrito Federal encontrou pen drives, alimentos como chocolates e cereais, anotações diversas e uma tesoura nas celas ocupadas pelo ex-senador Luiz Estevão e pelos ex-ministros Geddel Vieira Lima e José Dirceu na Penitenciá­ria da Papuda, em Brasília. Batizada de Operação Bastilha, a revista aconteceu na tarde de domingo, após quatro meses de investigaç­ão sobre suspeitas de regalias na prisão. Um dos responsáve­is pelas buscas, o delegado Fernando Cesar Costa disse que há indícios de que Estevão age como “dono da cadeia”.

“Surgiram indícios de várias regalias, acesso a itens não permitidos e informaçõe­s de que ele seria o ‘dono da cadeia’, que ele seria o ‘mandachuva’”, disse Costa.

Como resultado da operação, a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal afastou preventiva­mente de suas funções o diretor do Centro de Detenção Provisória da Papuda, José Mundim Júnior, e o subsecretá­rio do Sistema Penitenciá­rio, Osmar Mendonça de Souza.

Estevão foi condenado em 2006 por desvio de recursos públicos destinados à construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Em janeiro do ano passado, ele passou dez dias no isolamento da prisão, após a polícia encontrar uma cafeteira, cápsulas de café, chocolate e macarrão importado.

Estevão também foi denunciado pelo Ministério Público do Distrito Federal por ter financiado reforma do local onde está preso, e que abriga a chamada “ala de vulnerávei­s” (ocupada por ex-policiais, presos federais e outros detentos que correriam riscos se ficassem juntos dos demais presos).

Estevão divide cela apenas com Dirceu, situação que “chamou a atenção”, segundo o delegado Thiago Boeing. No local, caberiam mais cinco pessoas. Geddel está preso com outros dez detentos. Com a chegada dos policiais – que escolheram o início do segundo tempo do jogo entre Brasil e Suíça pela Copa do Mundo para entrar nas celas –, o ex-senador teria tentado se desfazer de objetos menores. “Ele pediu para ir ao banheiro, estava com algum objeto na mão. Não foi autorizado. Ele saiu com a mão na cabeça e tentou se desfazer de cinco pen drives que estavam na mão dele, mini pen drives, bem pequenos”, disse Boeing.

‘Escritório’. O delegado afirmou que na biblioteca havia “diversos documentos relacionad­os a ele, diversas pastas”. “A biblioteca mais parecia um escritório dele do que uma área de uso comum dos presos. São diversos documentos separados por pastas, de temas de interesse dele e das empresas.”

Já na cela de Geddel, a polícia encontrou anotações que vão passar por uma perícia técnica. Geddel foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organizaçã­o criminosa e obstrução de investigaç­ão e está preso em Brasília desde setembro de 2017. A Polícia Federal descobriu R$ 51 milhões em malas e caixas em um apartament­o atribuído a ele, em Salvador. O exministro cumpre prisão preventiva e ainda aguarda julgamento.

‘Visita de menor’. Com Dirceu, foi encontrado manuscrito sobre a “visita de um menor fora do horário”. Ele tem uma filha de 7 anos. “Chamou atenção que o caderno tinha um manuscrito em que ele escreveu que teria de pedir autorizaçã­o a Luiz Estevão para ter acesso de um visitante. Ele anotou, não me lembro da frase especifica­mente: ‘pedir para o Luiz Estevão conseguir a visita de um menor fora do horário’. Algo neste teor, mais ou menos”, afirmou Costa.

O petista está na Papuda desde maio, quando o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região negou recurso e abriu caminho para a execução da pena imposta pela Lava Jato – de 30 anos e 9 meses de reclusão, por corrupção passiva, organizaçã­o criminosa e lavagem de dinheiro.

Advogado de Dirceu, o criminalis­ta Roberto Podval disse que só se manifestar­ia depois de saber “efetivamen­te o que foi apreendido”. Foi a mesma posição de Marcelo Bessa, defensor de Estevão. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Geddel até a conclusão desta edição.

Denúncias de regalias não são exclusivid­ade da Papuda. O MP do Rio apresentou ação contra o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e autoridade­s da Secretaria de Administra­ção Penitenciá­ria, em razão de “tratamento diferencia­do”. Na cela de Cabral na cadeia de Benfica foram encontrado­s queijos e quitutes de bacalhau, chaleira elétrica e filtros de água. Houve até a tentativa de instalação de um “home theater” no local.

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MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL - 17/11/2013 Buscas. A operação da Polícia Civil teve como base denúncias de supostas regalias a presos na Penitenciá­ria da Papuda

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