O Estado de S. Paulo

Celso Ming

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É improvável que alguma fera do Tite entre na seleção de todos os tempos.

Mesmo que o Brasil conquiste o hexa, é altamente improvável que alguma das atuais feras do Tite componha a melhor seleção brasileira de todos os tempos. Sempre haverá quem diga que escalar uma seleção ideal seria um despropósi­to, porque tudo depende da estratégia de jogo, da geometria dos atletas distribuíd­os em campo, desde o antigo WM até as atuais variações do 4-3-3, e da qualidade do rival. Mas se for por aí, não se chegará nunca fechar uma proposta dessas a partir da qual se poderiam discutir outras escalações.

Vamos, então, examinar a qualidade dos ídolos que atuaram pelo Brasil de 1950 para cá, a partir da configuraç­ão 4-2-4. Por que essa e não outra, mais moderna? Não há esse porquê. Trata-se de uma escolha arbitrária.

(Observação: Este texto já estava redigido quando o narrador da TV Globo Galvão Bueno colocou no ar seu “time dos sonhos”).

Comecemos pelos goleiros. O Brasil não teve até agora nenhum craque nessa posição com a qualidade dos grandes do mundo, como o soviético Lev Yashin, o inglês Gordon Banks, o belga Michel Preud’Homme e o argentino Pato Fillol. Os três melhores do Brasil foram Gylmar (o dos Santos Neves), Carlos e Taffarel – que faz parte da comissão técnica de Tite na Rússia. Os três operaram defesas milagrosas, mas nem sempre foram regulares. Fico com Gylmar e sua tranquilid­ade, mais a elasticida­de e a capacidade de passar confiança à defesa, mesmo quando falhava.

Há três laterais-direitos notáveis: Djalma Santos, Carlos Alberto e Cafu. O capitão Carlos Alberto foi o mais completo – e mais líder também. É ele o cara.

Beque central. Melhores que Bellini e Brito, foram Mauro e Oscar. Há quem sempre se lembre de uma lenda do passado: Domingos da Guia. Mas não há registros suficiente­s para uma comparação e, ademais, o propósito aqui é começar da Copa do Mundo de 1950, no Brasil. Oscar vai para a lista.

Na posição de quarto-zagueiro só há um absoluto, qualquer que seja o critério de escolha: Nílton Santos, aquele que dizia para o Mané Garrincha: “você é mais rápido, mas eu chego primeiro”. E como chegava! E, além de chegar sempre na cobertura, também participav­a do ataque, das jogadas ofensivas.

Na lateral-esquerda, três destacam-se entre os demais: Júnior, Branco e Roberto Carlos. Os três atuaram como laterais tanto ofensivos quanto defensivos.

Algumas vezes, acabaram por compromete­r o resultado da partida. Mas, bem ponderadas qualidades e falhas, o melhor deles foi Roberto Carlos.

Foram muitos os grandes craques no meio de campo, hoje considerad­os volantes: Clodoaldo, Dino, Zito, Toninho Cerezo, Sócrates, Rivaldo. Ficamos com Falcão pela direita e Zico, pela esquerda.

Ponta-direita foi o Garrincha. Quando comparados com ele, os demais, como Júlio Botelho e Jairzinho, ficam à sombra.

Grandes armadores, houve pelo menos meia dúzia deles. Três são os finalistas nesta minha escolha: Zizinho, Didi e Gérson. O mais completo foi o Didi, que, além de tudo, transmitia confiança ao resto do time nas adversidad­es, como no primeiro gol da Suécia na final da Copa de 1958. E ainda detinha a nunca imitada técnica da “folha seca”, efeito incrível na bola nas cobranças de falta.

O Brasil teve grandes centroavan­tes. E nessa lista não figuram nem Romário nem Tostão nem Ronaldinho Gaúcho, que foram grandes atacantes, mas não centroavan­tes clássicos. Dois sobressaír­am: Careca e Ronaldo Fenômeno. Mas ninguém foi tão grande como o Fenômeno, apesar das convulsões às portas da final da competição de 1998.

O titular absoluto da camisa 10 é ele, Pelé. Não houve ninguém como ele.

Seria um alívio se, além desses 11, pudesse ser incorporad­o mais um, não propriamen­te um ponta-esquerda, mas um craque que jogou pela esquerda. Seriam eles: Zagallo, Rivellino e Romário. Neymar ainda é uma hipótese. Mas, se fosse para escolher hoje esse número 12, seria Rivellino.

Então, o melhor conjunto de onze jogadores brasileiro­s de todos os tempos (e, como ficou dito, não dá para falar de alguns deuses de um passado quase sem registros, como Friedenrei­ch e Domingos da Guia), são, os já mencionado­s: Gylmar dos Santos Neves, Carlos Alberto, Oscar, Nílton Santos e Roberto Carlos; Falcão e Zico; Garrincha, Didi, Ronaldo Fenômeno e Pelé.

Você pode eleger seus onze desde que opte por outros critérios. Mas não dá para negar, os nomes que integram esta escolha sempre farão parte de qualquer discussão séria.

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