Pesquisa relaciona AVC a frio
Avaliando a ocorrência de 55.633 mortes em São Paulo entre 2002 e 2011, pesquisadores da USP notaram mais casos em dias com menos de 15°C
Pesquisadores da USP avaliaram 55.633 mortes em SP e notaram que mais casos ocorreram em dias com menos de 15°C.
O inverno, que começa na próxima quinta-feira, vem acompanhado de um novo alerta de saúde. Além de provocar o já conhecido aumento de doenças respiratórias, as baixas temperaturas estão associadas também a um crescimento do risco de acidente vascular cerebral (AVC).
É o que revela um novo estudo, publicado no International Journal of Biometeorology no fim de maio, que investigou as condições climáticas em torno de 55.633 mortes por AVC na cidade de São Paulo entre os anos de 2002 e 2011. O trabalho, liderado pela geógrafa Priscilla Ikefuti, pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo, observou que em uma faixa considerada de conforto térmico – entre 17°C e 24°C – estão as menores ocorrências de morte por AVC. Se a temperatura cai ou sobe, o risco piora. E essa variação nem precisa ser muito extrema.
Valores já abaixo de 15°C começam a ser significativos para
o aumento dos casos de derrame. Para o AVC hemorrágico, o tipo mais fatal, o risco é de 2,43 vezes maior em homens de todas as faixas etárias quando a temperatura fica abaixo de 10°C.
Em mulheres, o risco de AVC hemorrágico nessa temperatura é de 1,39. Mas naquelas com mais de 65 anos o risco é quase 2 vezes maior. Na outra ponta, com temperaturas acima de 26°C, o risco de derrame (em geral) para homem acima de 65 anos aumenta 2,12 vezes.
“Uma pessoa não vai ter AVC só porque está frio, mas a baixa temperatura pode acelerar o processo em quem já tem fatores de risco, como pressão alta, tabagismo, diabetes. Pessoas assim precisam ter cuidado e não se exporem”, explica Priscilla.
Mulheres. Os casos de AVC foram mais frequentes em mulheres – cerca de 2 mil mortes a mais no período estudado. Segundo o médico Alfésio Braga, pesquisador do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP e coorientador do trabalho, em geral as mulheres são mais afetadas por doenças cardiovasculares.
Ele explica que o risco, para os dois sexos, se dá porque o frio normalmente muda as características do sangue. “Baixas temperaturas causam maior viscosidade do sangue, maior processo inflamatório, mais lesão de parede. Essas alterações levam à sobrecarga do coração para poder manter fluxo e pressão. E o aumento da pressão em uma pessoa mais idosa, já com fragilidade da parede do vaso, pode levar à ruptura e a um AVC hemorrágico”, diz. “É uma série de eventos que tanto homens quanto mulheres sofrem. Mas sem proteção hormonal pósmenopausa, elas têm manifestação mais exuberante.”
A prevenção, afirma Braga, é manter o conforto térmico. “O que mais preocupa são as pessoas em situação de rua, ou idosos que estão em casa, mas em situação de abandono e não conseguem se proteger.”