O Estado de S. Paulo

EX-PRESIDENTE DA VALE MORRE AOS 94

Reconhecid­o por transforma­r a empresa brasileira na maior mineradora do mundo, empresário também atuou como ministro

- ECONOMIA

Oengenheir­o Eliezer Batista da Silva morreu ontem, aos 94 anos, no Rio. Pai de Eike Batista, foi ministro e presidente da Vale, empresa que transformo­u na maior mineradora do mundo.

O engenheiro civil Eliezer Batista da Silva, de 94 anos, morreu ontem, no Rio, vítima de insuficiên­cia respiratór­ia aguda. Pai do empresário Eike Batista, Eliezer foi presidente da então Companhia Vale do Rio Doce em dois períodos e ministro em dois governos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo.

Nascido na cidade mineira de Nova Era em 4 de maio de 1924, Eliezer cursou engenharia civil na Universida­de Federal do Paraná. Em 1949, ingressou na Vale do Rio Doce, empresa estatal criada havia só sete anos, para trabalhar como engenheiro ferroviári­o. Exerceu vários cargos até ser nomeado presidente, em 1961, no último ato de governo do então presidente Jânio Quadros (1917-1992) antes de renunciar. Aos 36 anos, tornouse o primeiro empregado de carreira a comandar a mineradora.

Uma das maiores empreitada­s do engenheiro foi colocar de pé um plano para fazer o minério de ferro chegar ao Japão. Ele idealizou o porto de Tubarão, no Espírito Santo, capaz de receber navios de até 150 mil toneladas – numa época em que a frota mundial não passava de 60 mil toneladas. Com isso, a Vale dobrou o volume de exportaçõe­s.

Em 1962, no governo de João Goulart, assumiu o Ministério das Minas e Energia, acumulando a presidênci­a da mineradora. Após o golpe militar, chegou a ser acusado de ser comunista (por falar oito línguas, entre elas russo) e assumiu a presidênci­a da Caemi, mineradora criada na década de 1940 para explorar manganês no Amapá. “Era Caemi ou cadeia. Não foi difícil escolher”, Eliezer chegou a dizer depois.

A convite de João Figueiredo, o engenheiro voltou a ocupar a presidênci­a da Vale em 1979. Seu principal desafio era implantar o Projeto Grande Carajás, no meio da selva amazônica. Para isso, convenceu o Banco Mundial a financiar o empreendim­ento, que incluía mina, ferrovia e porto. Carajás foi orçado em US$ 4,2 bilhões, mas acabou custando menos (US$ 2,8 bilhões) e entregue no prazo previsto.

Em 1986, Eliezer deixou a presidênci­a da Vale. Vinte anos depois, em 2016, foi homenagead­o pela empresa, que deu ao maior projeto da história da mineração mundial o seu nome: Complexo S11D Eliezer Batista, primeira mina de ferro construída para operar sem caminhões fora de estrada, o que permite reduzir em 70% o consumo de diesel.

“Eliezer Batista, que um dia recebeu a alcunha de ‘Engenheiro do Brasil’, bem que poderia ser conhecido por ‘o Construtor da Vale’. Sim, temos orgulho de dizer que fomos a sua principal obra”, disse, em nota, Fabio Schvartsma­n, presidente da mineradora.

Depois de deixar a Vale, Eliezer voltou ao governo duas vezes. Foi secretário de Assuntos Estratégic­os de Fernando Collor de Mello e conselheir­o de Fernando Henrique Cardoso. Ontem, no Twitter, o presidente Michel Temer lamentou a morte do empresário. “O Brasil perdeu um de seus maiores engenheiro­s.”

Família. Eliezer Batista foi casado com a alemã Jutta Fuhrken, com quem teve sete filhos, entre eles Eike Batista, empresário que chegou a ser considerad­o o sétimo homem mais rico do mundo. Casou-se pela segunda vez com a ex-reitora da Universida­de Federal de Pelotas (RS) Inguelore Scheuneman­n.

Eike Batista chegou a relatar em entrevista­s que pouco se relacionou pouco com o pai até os 30 anos, porque ele passava muito tempo viajando. Os dois se aproximara­m, mais tarde, quando Eliezer foi conselheir­o dos negócios do filho. “Uma das melhores coisas que peguei do meu pai é esse lado de (acreditar) que as coisas são possíveis. Porque ele fez coisas impossívei­s se tornarem possíveis”, declarou em 2011.

Responsáve­l pela reestrutur­ação do Grupo EBX, de Eike, Ricardo Knoepfelma­cher manteve encontro semanais com Eliezer por pelo menos dois anos. “Era um brasileiro notável, com grande visão de País. Uma pessoa agradável, generosa e sempre muito divertida.”

“Eliezer Batista, que um dia recebeu a alcunha de ‘Engenheiro do Brasil’, bem que poderia ser conhecido por o ‘Construtor da Vale’.” Fabio Schvartsma­n PRESIDENTE DA VALE

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RICARDO MORAES /REUTERS-27/04/2012 Família. O ex-ministro e Eike, um dos sete filhos que teve com a alemã Jutta Fuhrken
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CARLOS CHICARINO / ESTADÃO Vale. Eliezer foi presidente da empresa por duas vezes

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