Tempos de incerteza
Muitos economistas têm se dedicado a estudar as inter-relações entre a estabilidade institucional e política, de um lado, e a dinâmica do crescimento, de outro. Esta abordagem é importante sobretudo nos países em desenvolvimento, em que a solidez das instituições, a segurança jurídica e a previsibilidade das ações do governo são, em geral, negligenciadas. Pode haver crescimento econômico em regimes autoritários, mas ou o prazo de validade se esgota ou há uma ruptura que leva a maior abertura política. Democracias com instituições sólidas, ambiente político estável e regras jurídicas definidas são mais atraentes para os investimentos, o comércio e o consumo no longo prazo. Principalmente porque em um mundo globalizado – com processos produtivos fragmentados geograficamente – os ambientes de incerteza afugentam investidores, dificultam o intercâmbio de inovações e frustram a geração autóctone de conhecimento e tecnologia.
Por outro lado, em uma economia integrada ao mundo e, portanto, à dinâmica da globalização, não se pode isolar o crescimento econômico da estabilidade monetária e da previsibilidade de variáveis como câmbio e juros. Mesmo que um país adote medidas protecionistas de caráter pontual e temporário, não faz mais sentido hoje buscar políticas de reserva de mercado e proteção tarifária tornando-o autárquico e fechado aos fluxos mundiais de comércio e tecnologia. No limite, economias autárquicas ou desapareceram (União Soviética e Leste Europeu) ou estão em estado terminal (Coreia do Norte, Cuba e Venezuela). Sem falar nos países párias que estão envolvidos em permanente convulsão e guerra civil.
O Brasil vive um momento decisivo de sua História. Tivemos o legado recente de uma década de economia estagnada, altas taxas de desemprego e inflação fora de controle, decorrentes de uma política econômica errática e retrógrada. Somem-se a isso os níveis de corrupção – de ousadia nunca vista antes na História desse país – e as tentativas de desestabilização de instituições republicanas. No momento em que a política econômica retoma o bom senso – com uma tímida, porém consistente, retomada do crescimento, queda efetiva da inflação e retomada do emprego, o problema é a incerteza política que assombra o País. As próximas eleições presidenciais batem de frente com quaisquer tentativas de reformas mais profundas que o País necessita, como, por exemplo, a da Previdência.
Isto porque, o grau de incerteza política aumenta pela falta de coragem dos candidatos para encarar a dura realidade das contas públicas e do endividamento. A negligência com reformas fundamentais e a falta de confiança para investir nos farão patinar por mais tempo na estagnação. O panorama político é desolador, muito embora muito se tenha feito no combate à corrupção, com juízes federais, Ministério Público e Polícia Federal empenhados em seu trabalho. É lamentável, porém, que a nossa Suprema Corte tenha se politizado e se vulgarizado e se arriscado a comprometer sua credibilidade – fundamental para a segurança jurídica – gerando ainda mais dúvidas e incertezas.
A negligência com reformas fundamentais e a falta de confiança para investir nos fará patinar por mais tempo
A questão que se coloca hoje é a de como desvencilhar desta degradação política as atividades econômicas, as decisões de investir e a segurança dos agentes econômicos. Como elevar a taxa de investimentos, com os governos nos três níveis quebrados e com investidores, exceções à parte, sem segurança quanto ao futuro imediato? E o que dizer do imenso volume de recursos que circulam no mundo, pequena parte dos quais poderia ser atraída para investir? E como inserir o país na dinâmica da economia mundial, com níveis de produtividade no geral tão baixos e acesso restrito às tecnologias de ponta?
Obviamente os candidatos a presidente deveriam saber responder. Mas, com este nível de indigência e alienação no debate político, não esperemos que, a não ser por milagre, surja um grande estadista para conduzir o País nesta difícil travessia.
ECONOMISTA, CONSULTOR DE ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS E COORDENADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS URBANOS DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO