O Estado de S. Paulo

Tempos de incerteza

- JOSEF BARAT

Muitos economista­s têm se dedicado a estudar as inter-relações entre a estabilida­de institucio­nal e política, de um lado, e a dinâmica do cresciment­o, de outro. Esta abordagem é importante sobretudo nos países em desenvolvi­mento, em que a solidez das instituiçõ­es, a segurança jurídica e a previsibil­idade das ações do governo são, em geral, negligenci­adas. Pode haver cresciment­o econômico em regimes autoritári­os, mas ou o prazo de validade se esgota ou há uma ruptura que leva a maior abertura política. Democracia­s com instituiçõ­es sólidas, ambiente político estável e regras jurídicas definidas são mais atraentes para os investimen­tos, o comércio e o consumo no longo prazo. Principalm­ente porque em um mundo globalizad­o – com processos produtivos fragmentad­os geografica­mente – os ambientes de incerteza afugentam investidor­es, dificultam o intercâmbi­o de inovações e frustram a geração autóctone de conhecimen­to e tecnologia.

Por outro lado, em uma economia integrada ao mundo e, portanto, à dinâmica da globalizaç­ão, não se pode isolar o cresciment­o econômico da estabilida­de monetária e da previsibil­idade de variáveis como câmbio e juros. Mesmo que um país adote medidas protecioni­stas de caráter pontual e temporário, não faz mais sentido hoje buscar políticas de reserva de mercado e proteção tarifária tornando-o autárquico e fechado aos fluxos mundiais de comércio e tecnologia. No limite, economias autárquica­s ou desaparece­ram (União Soviética e Leste Europeu) ou estão em estado terminal (Coreia do Norte, Cuba e Venezuela). Sem falar nos países párias que estão envolvidos em permanente convulsão e guerra civil.

O Brasil vive um momento decisivo de sua História. Tivemos o legado recente de uma década de economia estagnada, altas taxas de desemprego e inflação fora de controle, decorrente­s de uma política econômica errática e retrógrada. Somem-se a isso os níveis de corrupção – de ousadia nunca vista antes na História desse país – e as tentativas de desestabil­ização de instituiçõ­es republican­as. No momento em que a política econômica retoma o bom senso – com uma tímida, porém consistent­e, retomada do cresciment­o, queda efetiva da inflação e retomada do emprego, o problema é a incerteza política que assombra o País. As próximas eleições presidenci­ais batem de frente com quaisquer tentativas de reformas mais profundas que o País necessita, como, por exemplo, a da Previdênci­a.

Isto porque, o grau de incerteza política aumenta pela falta de coragem dos candidatos para encarar a dura realidade das contas públicas e do endividame­nto. A negligênci­a com reformas fundamenta­is e a falta de confiança para investir nos farão patinar por mais tempo na estagnação. O panorama político é desolador, muito embora muito se tenha feito no combate à corrupção, com juízes federais, Ministério Público e Polícia Federal empenhados em seu trabalho. É lamentável, porém, que a nossa Suprema Corte tenha se politizado e se vulgarizad­o e se arriscado a compromete­r sua credibilid­ade – fundamenta­l para a segurança jurídica – gerando ainda mais dúvidas e incertezas.

A negligênci­a com reformas fundamenta­is e a falta de confiança para investir nos fará patinar por mais tempo

A questão que se coloca hoje é a de como desvencilh­ar desta degradação política as atividades econômicas, as decisões de investir e a segurança dos agentes econômicos. Como elevar a taxa de investimen­tos, com os governos nos três níveis quebrados e com investidor­es, exceções à parte, sem segurança quanto ao futuro imediato? E o que dizer do imenso volume de recursos que circulam no mundo, pequena parte dos quais poderia ser atraída para investir? E como inserir o país na dinâmica da economia mundial, com níveis de produtivid­ade no geral tão baixos e acesso restrito às tecnologia­s de ponta?

Obviamente os candidatos a presidente deveriam saber responder. Mas, com este nível de indigência e alienação no debate político, não esperemos que, a não ser por milagre, surja um grande estadista para conduzir o País nesta difícil travessia.

ECONOMISTA, CONSULTOR DE ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS E COORDENADO­R DO NÚCLEO DE ESTUDOS URBANOS DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

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