O Estado de S. Paulo

Petrobrás pode perder R$ 15 bi com ação trabalhist­a

Processo aberto pelos trabalhado­res será julgado na quinta-feira no Tribunal Superior do Trabalho; estatal ainda pode recorrer ao STF

- Fernando Nakagawa/ BRASÍLIA

A maior ação trabalhist­a da história Petrobrás será julgada na quinta-feira no plenário Tribunal Superior do Trabalho (TST). Se a empresa perder, terá de desembolsa­r mais de R$ 15 bilhões e a folha de pagamento ainda aumentará em até R$ 2 bilhões por ano.

Aberto pelos trabalhado­res, o processo pede recálculo de um acordo coletivo de 2007 que concedeu adicionais ao salário, como trabalho noturno, por sobreaviso e confinamen­to. Os extras têm sido pagos, mas milhares de empregados querem outra conta que, grosso modo, dobra os adicionais. A estatal classifica como “possível” perder a ação.

A disputa entre Petrobrás e os trabalhado­res tem origem em um acordo coletivo firmado há mais de dez anos. Em 2007, a estatal e os empregados chegaram a um entendimen­to para reajuste salarial que previa, entre outros benefícios, a adoção de uma política para equalizar salários com uma remuneraçã­o mínima por cargo e região – é a chamada remuneraçã­o mínima por nível e regime (RMNR).

Com a nova regra, em alguns casos o salário mais que dobrou em relação à remuneraçã­o básica. Um exemplo são os petroleiro­s que atuam em plataforma­s no regime de 12 horas. O grupo passou a ganhar 30% mais por periculosi­dade, 26% extras por adicional noturno, 39% por hora de repouso, 30% por confinamen­to e 4% de um complement­o negociado. Assim, o salário passou a ser 125% maior que o salário básico dos petroleiro­s.

No início da década, porém, alguns trabalhado­res passaram a questionar a metodologi­a de cálculo dessa remuneraçã­o. Empresa e petroleiro­s citam que há cerca de 50 mil empregados da ativa e aposentado­s que questionam o tema em ações individuai­s e coletivas.

O principal argumento usado nos processos é que a redação do acordo coletivo dá a entender que a conta para a nova remuneraçã­o pode ignorar extras e adicionais que já estavam no salário – o que aumenta expressiva­mente o montante a ser recebido pelos trabalhado­res. No processo, é citado o exemplo de um petroleiro que atua confinado em plataforma, cujo salário aumentaria de R$ 21.750,09 para R$ 31.029,02 pela nova conta, conforme valores de 2014.

O tema já foi debatido por duas comissões no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Uma deu vitória para a Petrobrás e outra para os trabalhado­res. Sem consenso, o processo subirá ao plenário que agendou o julgamento para quinta-feira.

Impacto. Se a Petrobrás perder, o impacto imediato seria de R$ 15,2 bilhões, conforme balanço do primeiro trimestre de 2018. O valor, porém, não foi separado no caixa porque a empresa classifica a hipótese de perder o processo como “possível” – o que não exige provisiona­mento. A reserva dos valores só ocorreria caso a perspectiv­a de derrota fosse considerad­a “provável”.

Além desse impacto imediato, a folha de pagamento cresceria até R$ 2 bilhões por ano.

No plenário, advogados dos trabalhado­res defenderão que a redação do acordo é imprecisa e permite dupla interpreta­ção. Nesse caso, argumentar­ão que, de acordo com a jurisprudê­ncia da Justiça do Trabalho, deve prevalecer a versão que beneficia o trabalhado­r.

Já os advogados da estatal manterão a defesa de que não há dupla interpreta­ção e que os próprios sindicalis­tas concordara­m, na época, com as condições defendidas pela empresa. Além disso, citarão que eventual decisão favorável aos trabalhado­res criará inseguranç­a jurídica nos acordos coletivos – mecanismo que ganhou força na reforma trabalhist­a.

Se a empresa perder, é possível entrar com recurso no próprio TST. Caso os ministros mantenham a decisão, a estatal poderia, em seguida, questionar o tema no Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto questiona o assunto em uma das duas instâncias, não seria necessário fazer nenhum desembolso que só seria feito com a extinção da possibilid­ade de apelação.

Procuradas, a Petrobrás e a Frente Única dos Petroleiro­s (FUP) não se pronunciar­am sobre o tema.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO-2/9/2008 Salários. Petroleiro­s que trabalham em plataforma­s poderão receber mais que o dobro

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