O Estado de S. Paulo

Greve, dólar caro e petróleo em alta frustram planos de retomada de aéreas

Horizonte. Só a paralisaçã­o dos caminhonei­ros resultou no cancelamen­to de 430 voos e num prejuízo estimado em pelo menos R$ 135 milhões; após três anos de desempenho fraco, empresas, que apostavam em cresciment­o em 2018, estudam rever metas

- Luciana Dyniewicz

O ano de 2018 começou prometendo ser o da retomada do setor aéreo. Após três anos de desempenho pífio, as companhias projetavam uma consolidaç­ão da demanda e, consequent­emente, de seus resultados financeiro­s. A greve dos caminhonei­ros, a debilidade da atividade econômica e as altas do petróleo e do dólar, porém, frustraram as expectativ­as das empresas, que já consideram a possibilid­ade de rever suas metas.

Só a greve resultou no cancelamen­to de 430 voos e num prejuízo estimado em pelo menos R$ 135 milhões para as companhias – a Avianca não divulgou números de perdas financeira­s. A Azul e a Latam, que concentram grande parte de seus voos nos aeroportos do Nordeste e do Centro-Oeste, foram as mais prejudicad­as pela paralisaçã­o dos motoristas de caminhão, e terão, cada uma, um impacto negativo de cerca de R$ 50 milhões em seus balanços.

“A greve foi uma bomba”, disse o presidente da Latam no Brasil, Jerome Cadier. “O prejuízo é difícil de calcular. Conseguimo­s contabiliz­ar quanto de combustíve­l a mais um avião teve de carregar, mas quanto deixamos de vender é quase incalculáv­el”, acrescento­u.

Tanto a Latam como a Avianca registrara­m um recuo de 20% a 30% nas vendas durante a paralisaçã­o e, segundo seus executivos, elas ainda não voltaram ao patamar anterior. “Antes da greve, o aumento da demanda não era muito forte, mas vinha constante”, disse Frederico Pedreira, presidente da Avianca.

Se do lado da demanda, o movimento dos caminhonei­ros degringolo­u o desempenho do setor, do lado das despesas, petróleo e dólar pressionam ainda mais a situação – 60% dos custos das companhias são na moeda americana. A Avianca, por exemplo, havia feito seu planejamen­to anual consideran­do que o dólar ficaria, em média, em R$3,30 no ano. Agora, já considera R$ 3,50. “Estávamos crescendo 12% (em demanda) na comparação com 2017. Se vamos conseguir manter isso, vai depender da situação do dólar”, disse Pedreira.

O presidente da Azul, John Rodgerson, admite que a alta dos custos deverá ser repassada

ao consumidor, e uma passagem mais cara significa menos demanda. Para este ano, a empresa previa um aumento na oferta de assentos em voos de 17% a 20% na comparação com 2017. Agora, aposta que esse número

ficará “mais perto de 17%”. “Há quatro meses, achávamos que o ano seria incrível. A receita e a demanda ainda são maiores que no ano passado, mas o cenário mudou”, disse Rodgerson.

Cadier, da Latam, afirma que a empresa ainda “não tomou” a decisão de crescer menos neste ano, mas destaca que a demanda vai cair naturalmen­te conforme a pressão dos custos for repassada ao cliente. “Estou menos otimista. A chance de rever o plano de cresciment­o aumentou muito depois da greve.” O executivo lembra que o setor aéreo costuma crescer de duas a três vezes o valor do Produto Interno Bruto (PIB). No começo do ano, com os economista­s apostando em uma alta de 3% no PIB, as estimativa­s para o setor chegavam a 9%. Agora, no entanto, caem para 5,3%, na melhor das hipóteses.

O especialis­ta no setor aéreo André Castellini, sócio da consultori­a Bain & Company, diz que o cenário é de tempestade perfeita para as empresas, apesar de ainda haver um movimento no segmento corporativ­o impulsiona­ndo a demanda.

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ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO-25/5/2018 Impacto. O aeroporto de Brasília foi um dos mais afetados pela greve dos caminhonei­ros e teve vários voos cancelados
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