O Estado de S. Paulo

‘Até pensei em cantar na televisão’

- ROBERTA MARTINELLI E-MAIL: ROBERTA.MARTINELLI@ESTADAO.COM

Eu tenho um programa de música brasileira na TV, o Cultura Livre, e desde que o programa começou, em 2009, mando emails e mais emails para os jornais pedindo um espacinho de destaque para as atrações... Mas parece que o espaço para música brasileira é algo que deve ser muito batalhado tanto na TV quanto fora dela. E, por isso, eu fiquei com os olhos arregalado­s quando recebi uma mensagem de um programa do Canal Curta. Primeiro pensei: “Escrevo de música, não de TV”, depois me envergonhe­i, TV pode ser música também. Parece que o espaço para a música brasileira na grade da televisão só diminui. Falo de programa de música mesmo e aqui não coloco reality show, competiçõe­s e programas com playback. Então, que bonito que foi ver o programa

Os Ímpares do Canal Curta, Você já conhece? É um programa documental cujo tema são discos experiment­ais dos anos 60 e 70 que não tiveram tanto reconhecim­ento quando lançados. Ontem foi o dia de Pedro Santos. A banda Baiana System preparou uma versão para a música Desengano da Vista e falaram sobre o disco. Russo Passapusso confessa: “Para mim foi, ainda está sendo, uma descoberta esse disco, ainda estou mergulhand­o muito”. No programa, acompanham­os alguns momentos de estúdio, decisões de como será a música, o respeito pela faixa e a adequação à linguagem da banda. Como encontrar a identidade dessa música dentro do Baiana System?

Domenico Lancellott­i faz versão para Ritual Negro e relembra essa coisa de Pedro Santos criar instrument­os. O baterista diz: “Eu conhecia o Pedro Santos e, desde sempre, caçava ele nas fichas técnicas, mas o disco eu só conheci faz pouco tempo na verdade, mas eu estava ciente do Pedro, do trabalho dele, do Sorongo, cada hora ele assinava de um jeito, uma figura muito importante da música”.

E Sebastião Tapajós emocionado relembra do amigo: “Pedro Santos, Pedro Sorongo, maravilhos­o, um criador, um nato, e na época revolucion­ou todo mundo de percussão: Naná Vasconcelo­s, Airto Moreira, ele fez esse disco Krishnanda, eu participei por acaso do disco, tem uma faixa ou duas que eu toco”.

Nos próximos programas, tem Marku Ribas por Teresa Cristina e B Negão, Sérgio Sampaio por Tulipa Ruiz e Negro Leo, Jorge Mautner por banda Tono e Exército de Bebês, Arthur Verocai por Letícia Novaes (Letrux) e Parapherná­lia e Walter Franco por Ava Rocha e As Bahias e a Cozinha Mineira. Belíssima curadoria e direção musical de Berna Ceppas. Programas assim farão com que mais gente conheça discos que não estão em todos os canais e jornais, mas, quando entram, ficam! “A história faz justiça”, diz Domenico. Em alguns casos, sim!

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CANAL CURTA ‘Os Ímpares’. Canal Curta
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