O Estado de S. Paulo

A segunda chance da atriz Alicia Silverston­e

Após tropeço inicial, ela se recupera e estrela a série ‘American Woman’

- Margy Rochlin / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Alicia Silverston­e apareceu na janela do andar superior da sua casa, em Hollywood Hills, com a pasta de dente escorrendo da boca e gritou: “Já vou descer. Estou escovando os dentes”.

A julgar pela situação do seu quarto – cama desarrumad­a e roupas espalhadas – percebemos que sua agenda é concorrida. Ela retornou recentemen­te de Montreal, onde filmou o horror Boa Noite, Mamãe e nessa manhã de maio estava juntando as coisas que levaria para Pacific Palisades, set de filmagem da comédia Judy Smal. “Roteiro, bolsa, sapatos.”

As blusas amassadas e as jaquetas jogadas estão bem longe do closet informatiz­ado associado indelevelm­ente a ela por causa de seu trabalho como Cher Horowitz na comédia As Patricinha­s de Beverly Hills, de 1995. Produzida com apenas US$ 12 milhões, arrecadou mais de US$ 56 milhões e gerou uma onda de filmes de adolescent­es e previsões de que ela se tornaria uma superestre­la. Mas o que ocorreu foi uma reação em cadeia do setor de entretenim­ento: alguns grandes cachês, fracassos de bilheteria e depois a reação negativa.

Mas apesar de Alicia ter passado as últimas décadas na carreira com papéis em pequenos filmes, na TV e no teatro, ainda é daquelas atrizes que as pessoas perguntam onde estaria.

Hollywood reluta em dar às mulheres uma segunda chance, mas Alicia, hoje com 41 anos, de repente parece estar em toda parte. Só no ano passado ela apareceu em quatro filmes, incluindo seu papel em Diário de Um Banana e uma mãe desesperad­a no filme de horror psicológic­o de Yorgos Lanthimos, O Sacrifício do Cervo Sagrado.

Embora não tenha muitos diálogos no filme Do Jeito Que Elas Querem, recém-lançado, ela ainda irradia charme como filha de Diane Keaton. E agora retoma o papel principal em American Woman, nova série de TV da Paramount Network. Ambientada na Beverly Hills dos anos 1970 se baseia nas memórias de infância de Kyle Richards, exatriz infantil e hoje estrela da série The Real Housewives of Beverly Hills. Alicia é Bonnie Nolan, mãe de duas crianças que expulsa o marido mulherengo de casa e está determinad­a a se sustentar e a sua família. “A personagem me atraiu porque ela cai e se levanta.”

Ao contrário de Kyle Richards, cujas aparições como atriz convidada na TV ajudaram a manter sua família, Alicia cresceu confortave­lmente nos subúrbios de São Francisco. Filha de imigrantes ingleses, o pai um investidor imobiliári­o, e a mãe comissária de bordo, Alicia trabalhou como modelo dos 8 aos 12 anos. Usava seu salário em cursos de teatro e foi descoberta em um workshop de interpreta­ção em Los Angeles. Logo conseguiu um agente, depois um comercial da Pizza Domino’s, um papel como atriz convidada em The Wonder Years, depois atuou no filme Me and Nick, e apesar da escassa filmografi­a, conseguiu o papel principal em

Paixão Sem Limites, thriller psicológic­o em que ela faz uma adolescent­e sedutora perturbada.

Em 1993 Marty Callner, depois de 20 minutos assistindo a

Paixão Sem Limites, viu que encontrara a heroína para estrelar um trio de vídeos do Aerosmith que ele estava dirigindo. “Não era por ser fotogênica, bonita, mas ela tinha a linguagem do corpo e a insolência corretas.”

Os vídeos ressuscita­ram a popularida­de do Aerosmith, transforma­ram Alicia numa estrela da MTV e inspiraram Amy Heckering, diretora de As Patricinha­s de Beverly Hills, que ligou para Callner para saber como era trabalhar com ela.

Amy estava com dificuldad­es para encontrar uma atriz que conseguiss­e transforma­r um diálogo sarcástico em algo suave. Quando encontrou Alicia, viu que estava diante da Cher perfeita. “Ela tinha alguma coisa de infantil, totalmente inocente e ingênua.”

Os críticos, o público e executivos da área também se apaixonara­m por ela. Alicia não tinha 20 anos ainda e ela e sua empresa First Kiss Production­s firmaram um contrato de US$ 10 milhões para produzir dois filmes na Columbia Pictures. Mas o romance acabou tão rápido como quando começou. Quando o único resultado do contrato foi Excesso de Bagagem, mal recebido pela crítica, Alicia foi execrada pela mídia. “Hollywood devora seus jovens”, afirmou Kyle Heckerling. “Ela não recebeu nenhuma orientação.” Hoje, indagada sobre que conselhos buscou em tempos tão turbulento­s, lembrou: “Não havia ninguém. Naquela época estava sozinha”.

Recentemen­te, Alicia pediu divórcio do marido, com quem estava há 13 anos, Christophe­r Jarecki. Na época, ele surpreende­u ao declarar: “Estou numa fase incrível em minha vida. Sou uma mãe devotada e minha carreira não poderia estar num momento melhor”.

 ?? NATALIA MANTINI/THE NEW YORK TIMES ?? Na ativa. Desde ‘As Patricinha­s de Beverly Hills’, há 23 anos, Alicia se mantém na carreira com vários filmes
NATALIA MANTINI/THE NEW YORK TIMES Na ativa. Desde ‘As Patricinha­s de Beverly Hills’, há 23 anos, Alicia se mantém na carreira com vários filmes

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