O Estado de S. Paulo

EUA deixam órgão da ONU de direitos humanos

Governo americano diz que órgão foi ocupado por Estados violadores e se transformo­u em plataforma para atacar Israel

- WASHINGTON

Os EUA anunciaram ontem sua saída do Conselho de Direitos Humanos da ONU por considerar o órgão uma plataforma para atacar Israel. A embaixador­a do país na instituiçã­o, Nikki Haley, afirmou que a entidade “não é digna de seu nome”.

A embaixador­a dos EUA na ONU, Nikki Haley, anunciou ontem a retirada dos EUA do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, consideran­do que a “instituiçã­o não é digna de seu nome”. Ela afirmou que há um ano “deixou claro” que os EUA permanecer­iam no conselho apenas se “reformas essenciais fossem feitas”. Mas, segundo ela, “está claro” que esses pedidos por mudança não foram atendidos”.

O governo de Donald Trump vinha criticando duramente o organismo por considerá-lo distorcido com relação a Israel e por servir de plataforma a países como China, Venezuela e Cuba. “Não duvidamos de que sua criação tenha sido de boafé, mas temos de ser honestos: o Conselho de Direitos Humanos é um pobre defensor dos direitos humanos”, disse, em entrevista coletiva, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao lado de Nikki.

A decisão de deixar o órgão de 47 nações representa mais um recuo do governo Trump de grupos e de acordos internacio­nais cujas políticas considera fora de sintonia com os interesses americanos a respeito de comércio, defesa, mudança climática e, agora, direitos humanos. A decisão deixa o conselho sem um ator que desempenha um papel fundamenta­l na promoção dos direitos humanos em todo o mundo.

Os EUA estão no meio de um mandato de três anos no conselho, cujo objetivo é denunciar e investigar abusos dos direitos humanos. A saída do país privará Israel de seu principal defensor em um fórum onde acusações de abuso são tema recorrente na agenda das reuniões.

A decisão foi anunciada um dia depois de o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al-Hussein, pedir a Washington que suspenda sua política “impiedosa” de deter crianças separadas de seus pais imigrantes na fronteira dos EUA com o México. Segundo ele, a prática é “injusta” e equivale a “abuso infantil”.

Boicote. Os EUA boicotaram o Conselho de Direitos Humanos da ONU por três anos durante o governo do presidente George W. Bush. Eles passaram a fazer parte do organismo em 2009, já durante a presidênci­a de Barack Obama, em um esforço para mostrar como os direitos humanos eram um aspecto importante da então política externa dos EUA.

No entanto, essa é a primeira vez desde que o conselho foi formado, em 2006 – em substituiç­ão à Comissão de Direitos Humanos –, que um membro efetivo

pede para se afastar. A Líbia foi suspensa em 2011 em meio à dura repressão do governo de Muamar Kadafi contra manifestan­tes desarmados.

Antes da entrada dos EUA, metade dos votos dos países condenavam Israel. Durante os primeiros seis anos de participaç­ão americana, resoluções contra Israel caíram para um quinto. A adesão dos EUA também levou a uma queda acentuada no número de sessões especiais que se concentrav­am exclusivam­ente no tratamento de Israel aos palestinos.

Trump havia impulsiona­do um projeto de resolução que contemplav­a mudanças profundas no organismo. Entre as propostas estava um dispositiv­o para que países acusados de cometer violações dos direitos humanos possam ser excluídos do conselho por maioria simples na Assembleia-Geral e não por voto de dois terços. Exigia também que a questão dos “direitos humanos na Palestina” não fosse incluída na agenda de forma sistemátic­a. /

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IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS Repressão em Gaza. EUA dizem que países usam conselho para atacar ações de Israel

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