O Estado de S. Paulo

Governo quer blindar verba de leilão do pré-sal

Orçamento. Prevista para ocorrer ainda este ano, a licitação do petróleo excedente do pré-sal pode levantar até R$ 100 bilhões; governo quer escalonar pagamento das empresas em três anos para impedir que dinheiro seja usado para bancar novos subsídios

- Adriana Fernandes Anne Warth/ BRASÍLIA

O governo pretende receber em parcelas os recursos de futuro leilão de campos do pré-sal, que podem chegar a R$ 100 bilhões. A ideia é deixar dinheiro para a próxima gestão, a partir de 2019, e fugir de pressões do Congresso por novos gastos.

O governo está articuland­o uma forma de blindar os R$ 100 bilhões que podem ser arrecadado­s com o leilão do excedente do pré-sal, previsto para ocorrer ainda este ano, depois que União e Petrobrás resolverem o impasse em torno dessas áreas. A ideia é que as empresas vencedoras façam o pagamento em parcelas e não de uma vez só. Com isso, o dinheiro ficaria blindado das pressões de parte do governo e do Congresso para usar os recursos como forma de bancar novos subsídios, principalm­ente no gás de cozinha.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o pagamento escalonado permitiria “guardar” a receita do leilão para os próximo anos, ajudando as contas públicas. Ao mesmo tempo, facilitari­a o planejamen­to das empresas interessad­as, que podem se programar melhor e fazer uma oferta maior do bônus que é pago pelo direito de explorar os campos. Uma das possibilid­ades é dividir em três anos.

A avaliação do governo é que o pagamento em única parcela poder atrapalhar a formação do preço do bônus, já que o valor esperado é muito elevado. Com o pagamento escalonado, o dinheiro do leilão não entraria no caixa do governo apenas em 2018 na gestão do presidente Michel Temer.

Como as despesas do Orçamento deste ano estão próximas do teto de gasto (regra que proíbe que as despesas cresçam acima da inflação), a arrecadaçã­o em um única parcela com o leilão teria a função de aumentar as receitas e diminuir o rombo das contas públicas em 2018, sem uma contribuiç­ão para o fechamento dos resultados fiscais no próximo governo. A situação fiscal para o próximo presidente é grave porque há risco de descumprim­ento de outra norma fiscal, a chamada regra de ouro – o dispositiv­o constituci­onal que impede a emissão de dívidas pelo Tesouro Nacional para o pagamento de despesas correntes.

Impasse. A expectativ­a do governo é que o leilão possa ocorrer ainda este ano com a aprovação da nova versão do projeto de lei da cessão onerosa, que foi apresentad­o ontem na Câmara e deve ir hoje à votação.

O texto autoriza a Petrobrás a transferir até 70% das áreas de cessão onerosa na Bacia de Santos (SP). O acordo da cessão onerosa foi fechado pela Petrobrás com a União em 2010 e permitiu à estatal explorar 5 bilhões de barris de petróleo em campos do pré-sal, sem licitação. Em troca, a empresa pagou R$ 74,8 bilhões. Nos anos seguintes, porém, a cotação do barril de petróleo caiu muito, motivada por tensões geopolític­as e preocupaçõ­es quanto ao desempenho da economia, entre outros fatores. Em razão disso, a Petrobrás alega que pagou à União um valor muito alto no acordo de 2010 e argumenta ter direito de ser ressarcida. O projeto trata exatamente das condições da revisão desse acordo.

Sem essa revisão contratual, o governo não pode vender o direito de exploração do excedente dos barris no leilão na área da cessão onerosa.

A proposta traz uma redação mais clara para os pontos em que não havia consenso e afasta “zonas cinzentas” do contrato, dando conforto para que integrante­s do governo e da Petrobrás possam assinar a revisão sem questionam­entos futuros. O texto foi apresentad­o pelo relator, deputado Fernando Coelho Filho (DEM-PE), com apoio do governo e do Tribunal de Contas da União (TCU).

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO-28/10/2010 Contas públicas. Ideia é ‘guardar’ receita do leilão do pré-sal para os próximos anos

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