O Estado de S. Paulo

Lava Jato

Pedido para abertura de CPI perde apoio na Câmara.

- Isadora Peron / BRASÍLIA

Após repercussã­o negativa, mais de 40 deputados pediram à Mesa Diretora da Câmara para retirar suas assinatura­s de apoio à criação de uma Comissão Parlamenta­r de Inquérito (CPI) para investigar a Operação Lava Jato. O requerimen­to foi apresentad­o no plenário no dia 30 de maio e, inicialmen­te, contou com o apoio de 190 deputados. Como antecipou o Estado, a instalação da CPI foi proposta pelo líder do PT, deputado Paulo Pimenta (RS), para investigar denúncias de irregulari­dades relacionad­as a delações premiadas fechadas pela Lava Jato.

Ao pedirem a retirada do apoio à criação do CPI, muitos deputados argumentar­am que, ao assinar o requerimen­to, não tinham a intenção de enfraquece­r a Operação Lava Jato.

“Assinei, mas fui induzido ao erro. Depois que li com mais cuidado as justificat­ivas do pedido, entendi que a CPI em questão não ajuda em nada ao Brasil, tampouco o combate à corrupção. Não vou avalizar nenhuma iniciativa, de qualquer partido que seja, que tenha como objetivo atrapalhar o trabalho que vem sendo feito para passar o País a limpo”, disse o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), vice-líder do governo na Câmara. Além do PT, líderes de outros partidos com nomes atingidos pela operação, como MDB, PP e PR, também apoiaram a iniciativa.

A Secretaria-Geral da Mesa da Câmara informou, porém, que não é possível retirar assinatura de documento já protocolad­o na Casa. A saída seria a maioria dos deputados que assinaram o pedido (ou seja, 96 parlamenta­res, no mínimo) apresentar­em outro requerimen­to, pedindo a retirada do anterior. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), outro que havia assinado o pedido do PT, começou a fazer isso: até a conclusão desta edição, ele disse que contava com 50 nomes.

Ao ser questionad­o se daria aval para instalar a comissão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ignorou a pergunta. Ao todo, oito pedidos de

criação de CPIs estão parados à espera de autorizaçã­o de Maia, entre eles um que tem a finalidade de investigar doações de campanha feitas pela JBS (mais informaçõe­s nesta página).

‘Acovardado­s’. O líder do PT

na Casa criticou a desistênci­a dos colegas de apoiar a investigaç­ão. “Infelizmen­te, eles se acovardara­m.” Ele chamou de “ridículo” o argumento de que o PT articulou a CPI como retaliação após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado na Lava Jato. “Esse argumento tem sido utilizado para não termos no Brasil uma lei de abuso de autoridade, para não impedir a condução coercitiva, e até para barrar a discussão sobre o teto salarial”, disse.

Segundo Pimenta, o ponto de partida da investigaç­ão serão as delações dos doleiros Vinícius Claret, o Juca Bala, e Cláudio de Souza. Como revelou o Estado, eles acusam o advogado Antonio Figueiredo Basto, considerad­o um dos maiores especialis­tas em colaboraçã­o premiada do País, de cobrar uma “taxa de proteção” de US$ 50 mil mensais (cerca de R$ 186 mil) de outros integrante­s do esquema entre 2005 e 2013.

O dinheiro, segundo pessoas que acompanham o caso, seria para proteger outros participan­tes de futuras delações. Em 2004, o advogado intermedio­u a colaboraçã­o do doleiro Alberto Youssef no caso Banestado. Homologada pelo juiz Sérgio Moro, foi a primeira delação premiada do Brasil nos moldes atuais. Basto nega as acusações.

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LUIS MACEDOAGEN­CIA CAMARA - 18/3/2018 Reação. Autor do pedido de abertura da CPI na Câmara, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) criticou a iniciativa de colegas de retirar apoio à comissão

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