Macron e Merkel querem triagem para imigrantes.
Merkel e Macron defendem criação de centros de seleção e redistribuição de estrangeiros e o reforço da polícia de fronteiras
Pressionados pela chegada de imigrantes à Europa e pela ascensão de governos populistas na Itália e na Áustria, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, proporão à União Europeia a criação de plataformas de desembarque para fazer a triagem de estrangeiros que tentam alcançar o continente.
A estratégia foi definida ontem, em Meseberg, nos arredores de Berlim, em reunião entre os dois líderes. O desafio será convencer os demais 26 chefes de Estado e de governo a aceitar a redistribuição dos migrantes em solo europeu.
A reunião ocorreu em meio à crise política que ameaça derrubar Merkel do cargo. Na segunda-feira, o ultraconservador Horst Seehofer, ministro do Interior, líder da União SocialCristã (CSU), partido majoritário na Bavária e aliado da chanceler, exigiu que Berlim chegue a um acordo com a UE para reduzir a chegada de estrangeiros.
Ontem, o tema foi o principal na agenda entre os dois líderes, que discutiram as bases de um projeto de reforma da legislação imigratória da União Europeia, parte do pacote de mudanças que o presidente francês pretende ver aplicadas no bloco.
Merkel e Macron confirmaram o reforço dos efetivos da Frontex, a agência europeia de fronteiras, encarregada do patrulhamento dos limites externos da UE. Seu orçamento será ampliado – os números ainda são discutidos – e mais de 10 mil agentes serão contratados nos próximos anos para aumentar o efetivo da polícia de fronteiras.
A chanceler alemã manifestou solidariedade ao novo primeiro-ministro da Itália, o populista Giuseppe Conte, e afirmou que os países mais afetados pela chegada de imigrantes devem receber auxílio – casos da Itália e da Grécia.
Macron disse que os dois governos chegaram a um acordo para propor a Bruxelas a criação de uma Agência Europeia de Direito de Asilo, que terá a obrigação de harmonizar as regras nacionais para concessão de refúgio aos estrangeiros em situação de risco. “Vamos trabalhar em conjunto por uma solução com vários países para que os imigrantes possam ser recebidos o mais rápido possível no país ou onde eles foram registrados”, afirmou o francês.
A declaração deixa entrever a reforma de um dos pontos críticos entre os europeus, o Regulamento de Dublin, que prevê que os imigrantes devem solicitar asilo no país em que chegarem primeiro – o que sobrecarrega os países nas fronteiras externas da Europa.
O principal destaque da reunião, contudo, foi a aceitação da proposta feita pelo premiê da Áustria, Sebastian Kurz, e pelo da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, de criação de centros dedicados à chegada dos imigrantes. Isso acabaria com impasses como o da semana passada em relação ao navio Aquarius, que ficou à deriva no Mediterrâneo, lotado de imigrantes, quando a Itália decidiu fechar seus portos à embarcação. O barco foi, enfim, recebido no Porto de Valência, na Espanha.
“Vamos trabalhar para que os imigrantes possam ser recebidos o mais rápido possível no país ou onde foram registrados” Emmanuel Macron PRESIDENTE DA FRANÇA