O Estado de S. Paulo

Macron e Merkel querem triagem para imigrantes.

Merkel e Macron defendem criação de centros de seleção e redistribu­ição de estrangeir­os e o reforço da polícia de fronteiras

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Pressionad­os pela chegada de imigrantes à Europa e pela ascensão de governos populistas na Itália e na Áustria, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, proporão à União Europeia a criação de plataforma­s de desembarqu­e para fazer a triagem de estrangeir­os que tentam alcançar o continente.

A estratégia foi definida ontem, em Meseberg, nos arredores de Berlim, em reunião entre os dois líderes. O desafio será convencer os demais 26 chefes de Estado e de governo a aceitar a redistribu­ição dos migrantes em solo europeu.

A reunião ocorreu em meio à crise política que ameaça derrubar Merkel do cargo. Na segunda-feira, o ultraconse­rvador Horst Seehofer, ministro do Interior, líder da União SocialCris­tã (CSU), partido majoritári­o na Bavária e aliado da chanceler, exigiu que Berlim chegue a um acordo com a UE para reduzir a chegada de estrangeir­os.

Ontem, o tema foi o principal na agenda entre os dois líderes, que discutiram as bases de um projeto de reforma da legislação imigratóri­a da União Europeia, parte do pacote de mudanças que o presidente francês pretende ver aplicadas no bloco.

Merkel e Macron confirmara­m o reforço dos efetivos da Frontex, a agência europeia de fronteiras, encarregad­a do patrulhame­nto dos limites externos da UE. Seu orçamento será ampliado – os números ainda são discutidos – e mais de 10 mil agentes serão contratado­s nos próximos anos para aumentar o efetivo da polícia de fronteiras.

A chanceler alemã manifestou solidaried­ade ao novo primeiro-ministro da Itália, o populista Giuseppe Conte, e afirmou que os países mais afetados pela chegada de imigrantes devem receber auxílio – casos da Itália e da Grécia.

Macron disse que os dois governos chegaram a um acordo para propor a Bruxelas a criação de uma Agência Europeia de Direito de Asilo, que terá a obrigação de harmonizar as regras nacionais para concessão de refúgio aos estrangeir­os em situação de risco. “Vamos trabalhar em conjunto por uma solução com vários países para que os imigrantes possam ser recebidos o mais rápido possível no país ou onde eles foram registrado­s”, afirmou o francês.

A declaração deixa entrever a reforma de um dos pontos críticos entre os europeus, o Regulament­o de Dublin, que prevê que os imigrantes devem solicitar asilo no país em que chegarem primeiro – o que sobrecarre­ga os países nas fronteiras externas da Europa.

O principal destaque da reunião, contudo, foi a aceitação da proposta feita pelo premiê da Áustria, Sebastian Kurz, e pelo da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, de criação de centros dedicados à chegada dos imigrantes. Isso acabaria com impasses como o da semana passada em relação ao navio Aquarius, que ficou à deriva no Mediterrân­eo, lotado de imigrantes, quando a Itália decidiu fechar seus portos à embarcação. O barco foi, enfim, recebido no Porto de Valência, na Espanha.

“Vamos trabalhar para que os imigrantes possam ser recebidos o mais rápido possível no país ou onde foram registrado­s” Emmanuel Macron PRESIDENTE DA FRANÇA

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FILIP SINGER/EFE Desafio. Angela Merkel e Emmanuel Macron após reunião em Meseberg, na Alemanha; governo alemão está sob ameaça por política de imigração

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