O Estado de S. Paulo

Blatter é recebido com pompa na chegada a Moscou

- Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL / MOSCOU

O ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, critica o uso do vídeo na Copa do Mundo e diz que o árbitro do jogo entre Brasil e Suíça deveria ter solicitado uma revisão do lance do gol de empate do time europeu. “Ele

(o juiz) deveria ter pedido para ver o vídeo”, disse o ex-cartola ao Estado. “Deveria”, insistiu o suíço ao chegar em Moscou para a sua 11.ª Copa e a primeira fora da Fifa. O gol de Zuber abriu uma polêmica na disputa, pois o árbitro não quis ver o replay, enquanto os técnicos na cabine do VAR apenas indicaram que ele deveria seguir o jogo.

Para Blatter, que por anos foi contra o uso da tecnologia no futebol, o VAR não é uma “solução ideal”. O problema, segundo o dirigente suspenso do futebol, é a interpreta­ção das jogadas. “Os árbitros no VAR são sempre diferentes”, disse. “E cada árbitro tem uma maneira diferente de ver o futebol. No VAR, todos os árbitros então deveriam ser os mesmos para manter as decisões. Não há uma linha só”, lamentou. “Só espero que o VAR não seja decisivo.”

Sobre seus planos, Blatter indicou que vai hoje ao jogo de Portugal contra Marrocos e também a São Petersburg­o “ver a Costa Rica ganhar do Brasil”.

Por enquanto, ele não tem encontro confirmado com o presidente russo Vladimir Putin. Mas acredita que os organizado­res ainda vão estabelece­r isso. Desafiando sua suspensão do futebol, o suíço está na Copa. Ocupando a presidênci­a da Fifa entre 1998 e 2015, ele foi convidado pessoalmen­te pelo presidente Putin para o torneio.

Blatter foi obrigado a renunciar depois que a Fifa foi assolada por escândalo de corrupção. Cartolas foram presos em Zurique, enquanto a entidade foi obrigada a destinar mais de US$ 60 milhões em honorários advocatíci­os. Em 2015, ele foi suspenso por seis anos, depois a pena foi reduzida em dois anos por causa dos “serviços prestados ao futebol”. Sua punição não o impede de entrar num estádio. Mas não como dirigente – a Fifa esperava que ele nunca mais aparecesse em eventos oficiais da entidade.

Por instantes, porém, tudo parecia como se nada tivesse mudado. “Os senhores terão de se afastar. Um convidado importante está por chegar”. Foi assim que a gerência de um hotel de luxo de Moscou anunciou a chegada do ex-presidente da Fifa. E a recepção foi como nos velhos tempos: ampla segurança, carros de luxo, homens que lhe abriam portas, câmeras, jornalista­s e até torcedores que queriam fotos com o ex-comandante do futebol mundial.

Como sempre fazia quando presidente, ele apertou a mão de todos os jornalista­s. Até o velho terno azul, sem gravata, parecia ser o mesmo, enquanto ele percorria um salão de piso de mármore e lustres de cristal.

Só uma coisa Blatter não tem mais: o poder sobre o esporte mais popular do planeta. Num acordo de cavalheiro­s, ele e Infantino não vão se cruzar na Rússia, não ficarão no mesmo hotel nem estarão nos mesmos jogos. Mas sua presença continua sendo a imagem da Fifa para o público. “Ele é corrupto, mas é a Fifa”, disse o torcedor mexicano Maximilian­o Vasques, que pediu para fazer uma selfie com o cartola.

No VAR, todos os árbitros deveriam ser os mesmos, para manter as decisões Joseph Blatter, EX-PRESIDENTE DA FIFA

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DMITRY SEREBRYAKO­V/AP

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