O Estado de S. Paulo

Senado aprova venda direta de etanol hidratado

Decreto, que autoriza a comerciali­zação entre usina e posto e que pode reduzir o preço ao consumidor, terá de passar ainda pela Câmara dos Deputados

- Isadora Peron /BRASÍLIA Gustavo Porto / RIBEIRÃO PRETO

O plenário do Senado aprovou ontem o projeto de decreto legislativ­o que autoriza a venda direta de etanol hidratado de usinas para os postos. Aprovado por 47 votos a 2, o texto acaba com regra de 2009 que determina que a venda do etanol só pode ser feita pelos produtores às distribuid­oras. Elas, por sua vez, comerciali­zam com os postos. O projeto agora segue para a Câmara dos Deputados.

A permissão divide o setor. A Plural (antigo Sindicom), que reúne as distribuid­oras, além de grandes entidades de produtores de etanol, como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e a Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), são contrárias à autorizaçã­o para a venda direta, prevista na proposta do senador Otto Alencar (PSD-BA) porque consideram que haverá aumento nos custos e uma piora na qualidade do produto.

Já a Federação dos Plantadore­s de Cana do Brasil (Feplana), que reúne os agricultor­es e tem forte influência no Nordeste, é favorável ao projeto.

O presidente da associação Alexandre Lima afirma que essa restrição só existe no Brasil. Ele cita ainda que a medida beneficiar­ia principalm­ente o consumidor, que vai comprar um combustíve­l mais barato.

Sonegação. Apesar da possibilid­ade de queda nos preços, que seria favorável ao consumidor, o governo teme que o desmonte da distribuiç­ão seja acompanhad­o pela sonegação de impostos e pela adulteraçã­o do biocombust­ível.

O projeto foi apresentad­o por Otto Alencar após a paralisaçã­o dos caminhonei­ros que ocorreu em maio contra a alta no preço dos combustíve­is.

Na semana passada, um requerimen­to de urgência foi assinado pela maioria dos líderes da Casa, o que fez com que a matéria fosse levada diretament­e ao plenário.

Durante a greve, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) chegou a autorizar emergencia­lmente a venda direta das usinas para os postos, mas a medida foi revogada quando a situação se normalizou.

Agora, o projeto do senador baiano derruba o artigo da Resolução 43/2009, da ANP, que só permite ao fornecedor comerciali­zar o etanol com outro fornecedor cadastrado na ANP com um distribuid­or autorizado pela agência, ou com o mercado externo.

Ontem, o líder do DEM na Casa, senador Ronaldo Caiado (GO), chegou a sugerir que fosse retirada a urgência do projeto para que se realizasse uma audiência pública para discutir melhor o tema.

O adiamento tinha apoio da líder do MDB, senadora Simone

“Nós queremos mexer em um oligopólio grande, que ganha dinheiro fácil” Otto Alencar

SENADOR PSD-BA

Tebet (MT). O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), no entanto, manteve a matéria na pauta.

Livre comércio. Otto Alencar, afirma que a medida irá beneficiar o livre comércio, pois o produtor não precisará de uma distribuid­ora para vender o etanol, o que, na sua opinião, vai baratear o preço para o consumidor. “Nós queremos mexer em um oligopólio grande, que ganha dinheiro fácil”, afirmou.

Apesar de ter articulado a adiamento da votação, Simone Tebet afirmou que é favorável à venda direta, mas com regras claras que garantam segurança jurídica para todos os atores envolvidos na cadeia produtiva. “Apenas a simples sustação da resolução não torna viável a proposta, muito menos a redução de preço na bomba ao consumidor”, disse.

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COSAN/DIVULGAÇÃO-28/6/2010 Divisão. Distribuid­oras e usinas são contra a mudança, enquanto agricultor­es apoiam

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