O Estado de S. Paulo

Governo negocia volta de benefício em bebidas

Incentivo fiscal para fabricante da Zona Franca pode ser retomado parcialmen­te em 2019

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Depois da forte pressão dos grandes fabricante­s de refrigeran­tes, o governo negocia com o setor um restabelec­imento parcial do benefício fiscal para a produção de xarope concentrad­o na Zona Franca de Manaus em 2019. Para 2018, a equipe econômica não vê espaço para alterações.

Para bancar o “bolsa caminhonei­ro” – como ficou conhecido o conjunto de benefícios concedido para interrompe­r a greve de 11 dias que paralisou o País –, o governo praticamen­te retirou incentivo a produtores de concentrad­os de refrigeran­tes instalados na Zona Franca. Mas as empresas que foram prejudicad­as e os parlamenta­res da bancada do Amazonas pressionam o governo a voltar atrás.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o governo não vai alterar a decisão de reduzir os incentivos fiscais de 20% para 4% do concentrad­o da Zona Franca.

Fontes informaram que há possibilid­ade de recompor parte do incentivo, mas não para a situação que vigorava antes. A perda da economia esperada para 2019 terá de ser compensada com outras medidas.

A alteração na alíquota, editada por meio de decreto do presidente Michel Temer, anula o incentivo fiscal que tem permitido a grandes empresas, como Coca-Cola, Ambev e Pepsi, acumularem grandes volumes de crédito tributário.

Esse crédito é usado, inclusive, para abater os impostos devidos para cervejas, como revelou o secretário da Receita, Jorge Rachid, no anúncio da medida, em 31 de maio. A Receita vê no benefício uma “fábrica” de créditos e superfatur­amento de preços dos concentrad­os. Para cada R$ 100 vendidos, as empresas “recebem” R$ 4 de crédito do governo. Ou seja, não pagam o Imposto sobre Produtos Industrial­izados (IPI) e ainda ficam com crédito para quitar outros tributos,

A Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF) exige a compensaçã­o pela via de aumento de alíquotas, criação de impostos ou redução de incentivos. A redução de R$ 0,46 no preço do diesel é bancada com um subsídio orçamentár­io pago diretament­e à Petrobrás (R$ 0,30) até dezembro e a diminuição de Cide e PIS/Cofins (R$ 0,16).

Como a queda dos tributos é permanente, será necessária uma compensaçã­o. Ou seja, se o benefício for revertido, mesmo que parcialmen­te, o governo terá de neutraliza­r o impacto com outra medida tributária. Para 2018, a economia esperada é R$ 740 milhões e R$ 1,9 bilhão em 2019.

A Associação Brasileira das Indústrias de Refrigeran­tes (ABIR) que representa 59 empresas, reclama que a medida quebra contratos e torna inviável a manutenção do polo de concentrad­os na região.

Enquanto o governo negocia com o setor, a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) do Senado vota hoje decreto legislativ­o para derrubar o decreto

de Temer. A informação foi dada pelo presidente da CCJ do Senado, Edison Lobão (MDBMA), ao fim de audiência pública que debateu a medida editada por meio de decreto presidenci­al como forma de compensaçã­o do subsídio ao diesel acertado com o governo federal. A Receita considera o decreto inconstitu­cional porque é atribuição do governo legislar sobre o IPI. Os senadores Eduardo Braga (MDB-AM) e Vanessa Grazziotin (PCdoB) apresentar­am decreto legislativ­o que susta o decreto do presidente Temer.

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MIRIAN FICHTNER/COCA-COLA -28/12/2016 Cenário. Medida foi tomada para bancar ‘bolsa caminhonei­ro’ e deve ser mantida este ano

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