O Estado de S. Paulo

Indefiniçã­o no preço do frete paralisa comércio de grãos

Segundo cálculos do ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, metade da produção do Brasil enfrenta esse problema

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA / COLABOROU FÁBIO BISPO, ESPECIAL PARA O ESTADO

Dezoito dias após o encerramen­to da paralisaçã­o dos caminhonei­ros, a comerciali­zação da safra de grãos segue parada por causa da indefiniçã­o do custo do transporte. “Pergunte a qualquer produtor: ele tem soja e milho para vender, mas não vende porque não sabe quanto será o frete”, disse ontem o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi. Como a atual safra começou a ser colhida em janeiro e fevereiro, aproximada­mente metade da produção brasileira enfrenta esse problema, segundo seus cálculos.

O ministro acrescento­u que o problema relatado pelo Estado sobre cerca de 60 navios parados em portos brasileiro­s à espera de carga ainda não foi superado. “O problema continua.”

Fontes do mercado informam que, em comparação com a semana passada, quando o transporte das exportaçõe­s de soja estava parado, houve alguma melhora. No entanto, a situação ainda não é normal.

“O transporte que está ocorrendo é o das empresas que têm contrato com as tradings”, disse o diretor executivo do Movimento Pró-Logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Edeon Vaz. Ele explicou que as transporta­doras têm frota própria e já tinham contratos assinados para prestar o serviço de transporte para todo o ano. Num primeiro momento, até mesmo essas empresas também interrompe­ram suas atividades, por não saber como seria a aplicação da tabela do preço mínimo do frete nesse caso.

Esses contratos, porém, cobrem apenas uma parte da produção, segundo explicou Blairo. A soja cuja venda já estava acertada, inclusive com o custo de transporte, segue sendo embarcada. Mas há uma boa parte da produção que ainda não foi

Produtores de proteína animal amargam ainda reflexos do fechamento parcial do mercado europeu para o frango – medida que, para Blairo Maggi vê como forma de tirar o País desse mercado

comerciali­zada. E não será, enquanto não se souber qual será a despesa com o carregamen­to.

Blairo já se declarou “pessoalmen­te” contrário ao tabelament­o do frete. “Mas o governo tem uma posição”, ressalvou. Ele disse que uma “tabela realista” poderia ser aceita.

Audiência. Hoje, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux realiza uma audiência de conciliaçã­o na Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (ADI) movida pela Associação do Transporte Rodoviário do Brasil (ATR) contra a Medida Provisória (MP) 832, que estabelece­u uma política de preços mínimos para o frete rodoviário. Segundo estimativa da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a tabela do frete vai elevar custos de transporte em R$ 53,2 bilhões. O governo, porém, tentará manter os preços mínimos, ainda que de forma temporária.

A elevação do custo do frete tem outra consequênc­ia sobre a produção nacional. Ela aumenta o custo da ração, principalm­ente para os criadores do sul do País. “Eles não conseguem mais fechar as contas”, alertou o ministro.

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