O Estado de S. Paulo

Guerra comercial derruba bolsas globais

Escalada na disputa entre EUA e China gerou tensão no mercado internacio­nal; Ibovespa foi na contramão e registrou alta de 2,26%

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A nova escalada da tensão comercial entre Estados Unidos e China deixou o mercado internacio­nal tenso ontem, com quase todas as Bolsas encerrando o dia em queda. O índice Dow Jones fechou em baixa de 1,15%, apagando todos os ganhos registrado­s no ano. O S&P 500 recuou 0,40% e o Nasdaq teve queda de 0,28%. Na China, a Bolsa de Xangai caiu 3,78% e a de Shenzhen, 5,77%. No Brasil, o Ibovespa foi na contramão e avançou 2,26%, maior ganho em um dia desde fevereiro. A alta aqui decorreu, segundo analistas, da sensação no mercado de que a queda do preço dos papéis nas últimas semanas havia sido exagerada.

O Dow Jones foi o índice acionário mais afetado pela retórica protecioni­sta contra a China do presidente dos EUA, Donald Trump, por ser composto, principalm­ente, por papéis de multinacio­nais. A Boeing, uma das empresas mais atingidas pelo embate entre as duas potências mundiais, viu sua ação fechar em queda de 3,84%.

Na noite de segunda-feira, Trump emitiu comunicado onde pede ao Escritório do Representa­nte Comercial (USTR, na sigla em inglês) que estude a imposição de tarifas de 10% sobre mais US$ 200 bilhões em produtos chineses. Ele também comentou que, se houver retaliação por parte de Pequim, serão adotadas tarifas adicionais sobre outros US$ 200 bilhões em bens chineses. O total, assim, poderia chegar a US$ 400 bilhões.

Horas depois da nova ameaça da Casa Branca, o Ministério de Comércio da China disse que os EUA “iniciaram uma guerra comercial” e comentou que o governo chinês irá adotar “medidas abrangente­s” se Washington prosseguir com os planos de tarifação. “A guerra comercial se tornou realidade na noite de anteontem. A nova escalada representa riscos de baixa claros para o cresciment­o global nos próximos trimestres, já que aumenta a incerteza e deve prejudicar o apetite pelo investimen­to global”, afirmaram analistas do Danske Bank em nota a clientes.

No fim da manhã, o diretor do Conselho de Comércio da Casa Branca, Peter Navarro, afirmou que Trump está disposto a conversar com a China e com outros países sobre o tema, apesar de afirmar que Pequim “tem mais a perder em uma disputa comercial”.

Brasil. Apesar do cenário global conturbado, o mercado brasileiro surpreende­u ontem. Um dia depois de o Ibovespa ter testado a marca dos 70 mil pontos, as ações do segmento financeiro comandaram uma recuperaçã­o da Bolsa brasileira. Investidor­es estrangeir­os deram o pontapé inicial nas compras e contagiara­m o restante do mercado, levando o índice aos 71.394 pontos.

“Não há muita explicação (para a alta das ações) do ponto de vista de fundamento­s. O mercado está corrigindo uma queda exagerada da Bolsa e comprando papéis que ficaram baratos”, disse Filipe Villegas, analista de ações da Genial Investimen­tos.

No mercado de câmbio, o dólar subiu ante as divisas emergentes com a aversão global ao risco. No Brasil, após ter operado em baixa durante boa parte do pregão, a moeda americana fechou em alta de 0,16%, a R$ 3,74. Foi a primeira sessão sem leilões de swap cambial pelo Banco Central desde o dia 5. Instrument­o de contenção para a altar do dólar em momentos de volatilida­de do mercado, os swaps cambiais equivalem à venda futura de dólares. / ALTAMIRO SILVA JUNIOR, LUCIANA DYNIEWICZ, MATEUS FAGUNDES, PAULA DIAS e VICTOR REZENDE

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