O Estado de S. Paulo

Equipes menores são surpreende­ntemente boas

- Lothar Matthäus

Agora que todas as seleções já disputaram um jogo, está na hora de avaliar a Copa. Tenho dito que este torneio está realmente interessan­te. O futebol é disciplina­do e limpo, não vimos nenhum jogador agressivo e o árbitro de vídeo vem atuando decentemen­te, embora talvez em três circunstân­cias eu teria decidido de modo diferente. Mas, até agora, cumpriu sua tarefa. O Mundial está num bom nível porque as equipes menores são surpreende­ntemente boas. Não digo que uma delas será a próxima campeã, mas podem realizar grandes coisas frente às favoritas. Com exceção da Arábia Saudita, nenhuma decepciono­u. Isso mostra que o futebol internacio­nal vem tendo cada vez mais coesão e que o nível atlético está crescendo. A organizaçã­o dos times menores é cada vez melhor e é por isso que as seleções favoritas enfrentam problemas.

O que aprecio é que estamos vendo um futebol de ritmo rápido, mesmo no caso de equipes que não esperávamo­s. O que significa uma rápida mudança da defesa para o jogo ofensivo, algo com que a Alemanha teve problemas contra o México. Até o Panamá tentou isso no jogo com a Bélgica.

Esta Copa também mostra quão importante são as jogadas ensaiadas. Elas podem beneficiar especialme­nte os grandes times – e até decidir uma partida. Basta lembrarmos de Harry Kane, da Inglaterra, no jogo contra a Tunísia, ou Cristiano Ronaldo, em Portugal x Espanha. Falando em Ronaldo, para mim a Copa realmente teve um bom início com o jogo entre Espanha e Portugal. Apesar de ceder três gols, a Espanha foi a equipe mais convincent­e entre as favoritas. Sua defesa não foi tão ruim como pareceu, pois um dos gols foi resultado de um erro do goleiro; os outros dois, de um pênalti e de uma falta. Ou seja, duas jogadas ensaiadas.

Entre os grandes, também me agradou a Inglaterra, embora não a coloque entre os favoritos. Mas seu estilo de jogo foi convincent­e. No que se refere à unidade do time, a Islândia se destacou. Jamais vi um time jogar como um coletivo disciplina­do e com uma estratégia tão clara. Espetacula­r.

Mas a Argentina também errou. Sempre atacando pelo centro e com seu jogo focado demais em Lionel Messi. Não é bom para o time nem para Messi, que constantem­ente se viu cercado por quatro ou cinco adversário­s. Como um ímã, ele era buscado por sua equipe, uma tática transparen­te demais.

O que Ronaldo conseguiu com seus três gols foi sensaciona­l. Deu para notar que ele tem um contato melhor com seus colegas do que Messi. Messi é o jogador que seus companheir­os buscam para passar a responsabi­lidade da bola, mas não vejo comunicaçã­o. Já Ronaldo é o líder que organiza e dirige os demais. Messi e Cristiano Ronaldo são jogadores de classe mundial, mas não são comparávei­s. Messi cresce com seus dribles e, assim, é mais um mágico. Ronaldo vence com o poder dos seus chutes, sua força extrema. É do tipo mais impassível. Para mim, a Argentina, entre as equipes maiores, é uma das que mais corre o risco de cair na fase de grupos. Está numa chave forte, com Croácia e Nigéria. O Brasil, apesar do empate contra a Suíça, deve seguir. E, se a Alemanha encontrar sua forma usual contra Suécia e Coreia do Sul, também chegará às oitavas.

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