O Estado de S. Paulo

Copa não se ganha com saliva, mas com esforço

- José Nêumanne

Oque ganha Copa não é saliva, mas, sim, talento, esforço e sorte.

Na seleção brasileira, jogam Marcelo e Casemiro, que atuam no Real Madrid da Espanha, que acaba de ganhar a Liga dos Campeões da Europa; Neymar Jr., campeão francês pelo PSG; Gabriel Jesus, campeão da Primeira Liga britânica pelo Manchester City; e Roberto Firmino, vice-campeão da mesma Liga dos Campeões pelo Liverpool, da Inglaterra. O time treinado por Tite, que foi campeão mundial de clubes pelo Corinthian­s, fez uma eliminatór­ia brilhante em primeiro lugar. Mas nada disso garante a taça.

O time empatou com a Suíça na estreia e isso não quer dizer que não possa ganhar o torneio na Rússia. Para tanto, terá de mostrar mais talento, esforço e sorte. O golaço de Philippe Coutinho resultou de seu engenho individual, não da construção do grupo. O empate da Suíça, de um jogo de sete erros.

Thiago Silva e Marcelo se enrolaram com a bola na entrada da área e a perderam para os suíços: dois. O lateral esquerdo pegou uma sobra, perdeu a segunda chance de chutar para longe e teve de ceder lateral perto da linha de fundo: três. Shaqiri dominou e cruzou, a bola bateu em Miranda e saiu pela linha de fundo: quatro. O craque do time bateu o córner, a bola encobriu Casemiro na primeira trave e chegou à cabeça do zagueiro Zuber, que havia saído da esquerda para a direita passando por sete brasileiro­s em fila dupla, nenhum dos quais fez um movimento para lhe impedir o passeio, com facilidade que Nelson Rodrigues compararia com chupar um Chicabon; e Miranda, tido no Brasil como um dos melhores zagueiros do mundo, deu as costas ao adversário, depois de medir a distância entre os dois com os braços voltados para trás sem olhar a bola: cinco. Alisson não saiu para evitar o cabeceio na pequena área e seus defensores alegam que goleiro não sai da linha de gol em marcação por zona: seis. Ao saltar, o zagueiro suíço empurrou de leve Miranda, que ficou de pé. O árbitro mexicano Cesar Ramos não marcou a falta e a arbitragem de vídeo não alertou para o empurrão: sete.

No jogo dos sete erros, o Brasil entrou com seis e a Fifa, ao escolher um árbitro desprepara­do, com o sétimo. Ou seja, o pentacampe­ão mundial não tem força política na entidade que organiza o torneio, porque a Confederaç­ão Brasileira de Futebol (CBF) não tem moral.

Seu ex-presidente Marco Polo del Nero não viajava para fora do País temendo ser preso por corrupção. O presidente, coronel Antônio Carlos Nunes, comprometi­do a votar nos EUA, México e Canadá para sediarem a Copa de 2026, fez parte da minoria que sufragou o Marrocos, pensando que o voto seria secreto.

Tudo ainda pode acontecer, até mesmo nada. Se o Brasil for campeão, ninguém se surpreende­rá. Mas Tite precisa esclarecer por que proibiu Miranda de cair para não simular, mas não recriminou Gabriel Jesus pela encenação inconvince­nte para cavar um pênalti, atirando-se ao solo na direção oposta ao puxão do zagueiro.

E Neymar Jr. terá de escolher entre ser campeão do mundo e malabarist­a de circo.

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