Desabastecimento leva IPCA-15 a 1,11%
Puxada pela gasolina, prévia da inflação vai a 1,11%, a maior marca para o mês em 22 anos
A prévia da inflação oficial disparou em junho, pressionada, em parte, pela crise de desabastecimento provocada pela greve dos caminhoneiros. Os preços da economia subiram 1,11%, o resultado mais elevado para o mês desde 1996, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pressão foi maior do que o previsto até pelos economistas mais pessimistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma inflação média de 1,00% no mês. O movimento, porém, foi encarado por alguns especialistas como temporário, sem grandes riscos para o cenário inflacionário.
Na avaliação do economistachefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, o quadro de inflação no País tranquiliza o Banco Central (BC) para decidir o melhor momento de elevar a taxa básica de juros. Anteontem o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter a Selic em 6,50% ao ano.
O economista sênior do Haitong Banco de Investimento Brasil, Flávio Serrano, concorda que não haverá uma reposta de política monetária ao aumento de preços registrado agora porque não altera a dinâmica inflacionária. Os bloqueios das estradas iniciados em maio por todo o País impulsionaram os preços dos alimentos, que ficaram 2,31% mais caros em junho, após alta de só 0,09% no mês anterior. As famílias pagaram mais por batata-inglesa, cebola, tomate, leite longa-vida, carnes e frutas.
Para o economista Homero Guizzo, da Guide Investimentos, a greve teve mais influência sobre os preços do que a desvalorização do real ante o dólar nas últimas semanas.
Combustíveis. Foi a gasolina que mais pesou no bolso do consumidor na prévia da inflação de junho, por causa de um aumento de 6,98%. O combustível respondeu sozinho por quase um terço de todo o IPCA-15 do mês. A conta de luz subiu 5,44%, segunda maior pressão sobre a inflação, puxada por reajustes tarifários e pelo acionamento da bandeira vermelha 2, que significa cobrança extra de R$ 0,05 a cada kWh. O maior efeito da elevação da bandeira tarifária para seu patamar máximo deve pressionar o IPCA fechado de junho para cima”, prevê Marcio Milan, analista da Tendências Consultoria Integrada.