O Estado de S. Paulo

Se quiser alçar voos ousados, o Brasil terá de provar sua capacidade contra seleções europeias.

- Maurício Noriega

Avitória com tons de drama sobre a modesta Costa Rica deve servir para tirar uma tonelada de pressão dos ombros da seleção. Principalm­ente de Neymar e do próprio Tite – não podemos esquecer que o universo da Copa do Mundo é coisa nova para o treinador. O resultado era necessário, obrigatóri­o. Mas pouco acrescenta ao repertório do Brasil. O time ainda não tirou da bagagem que trouxe à Rússia o futebol das Eliminatór­ias. Mais do que isso: em uma Copa na Europa, com supremacia europeia no início, se quiser alçar voos ousados, o Brasil terá de provar sua capacidade contra forças médias e grandes do continente.

Ainda sem empolgar, o time brasileiro tem no setor de armação seu principal problema. Na falta de um ritmista, como Tite classifico­u o craque Modric, o Brasil opta por jogo aberto pelas pontas, abusando das bolas carregadas em velocidade e dos duelos, o chamado mano a mano. Nosso volantes são jogadores de intensidad­e e competitiv­idade, mas ou têm passe curto ou carregam a bola. O desafogo quase sempre é Marcelo, que embora seja lateral, tem mais cacoete de meia que o resto do time todo junto.

Neymar ainda não recuperou a explosão que o transformo­u num dos melhores do mundo, mas insiste em jogar como se já estivesse voando. Falta um pouco de leitura de jogo para entender que com tantos recursos ele pode ser útil de outra forma, não tentando decidir sozinho. A ótima notícia em dois jogos é a sede de protagonis­mo demonstrad­a por Coutinho, surgindo em momentos-chave para tirar o time do sufoco que as retrancas proporcion­am.

A Copa é impiedosa. Um dia ruim nem sempre é salvo por um lance fortuito. Diante de um rival europeu de porte médio como a Suíça o Brasil teve mais dificuldad­es do que a tensão da estreia pudesse justificar. Enquanto Neymar vai recuperand­o ritmo e explosão, o potencial decisivo do time fica reduzido. É onde o Brasil mais precisa evoluir para quando a parada for contra os europeus de primeiro escalão, quando erros significam antecipar o voo de volta.

Ainda falta inspiração ao setor em que se pensa o jogo. Fazer o que fizeram os croatas Rakitic e Modric contra a Argentina, escolher a música e propor a dança. Como nossos volantes não são fluentes em saída de bola e não há a figura do armador, Marcelo costuma ser o ponto de desafogo para levar a bola com qualidade à frente. Pelo menos até descobrirm­os se Fred vale mesmo a aposta de Tite em trazê-lo no grupo.

Não há motivo para festa e nem para preocupaçã­o. O Brasil ainda está abaixo do que deveria ter mostrado. Em condições normais de temperatur­a e pressão, seis pontos eram obrigatóri­os. Mas contra outro médio europeu, a Sérvia, será tempo de pensar no que virá pela frente na previsível classifica­ção para as oitavas de final. Porque então chegará o tempo em que o meio de campo é que não poderá mais ser tão previsível.

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