O Estado de S. Paulo

Denúncia aponta regalias a presos da Lava Jato

Justiça. Ministério Público reabre investigaç­ão que apura suspeita de privilégio­s no Complexo de Pinhais, no Paraná, onde políticos, empresário­s e lobistas estão detidos

- Ricardo Brandt

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam denúncia de supostos privilégio­s a que os presos da Operação Lava Jato – políticos, ex-executivos e lobistas – teriam acesso no Complexo Médico Penal, em Curitiba. As suspeitas são de que detentos teriam acesso a telefone celular, internet, visitas íntimas, comida exclusiva e serviços de cozinheiro, segurança e zelador, entre outras regalias.

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam um esquema de privilégio­s a presos da Operação Lava Jato no Complexo Médico-Penal (CMP), em Curitiba. As suspeitas são que um seleto grupo – formado por políticos, ex-executivos e lobistas – teria acesso a aparelhos de telefone celular, internet, visitas íntimas, comida exclusiva, serviços de cozinheiro, segurança e zelador particular­es. Além de usarem “laranjas” em cursos e trabalhos que servem para redução dos dias de cárcere.

Uma carta de 47 páginas, escrita à mão de dentro do complexo penal e entregue à Justiça e à força-tarefa da Lava Jato, reativou, no início deste ano, uma apuração aberta em 2016 sobre um suposto “regime especial” paralelo na ala 6 da unidade, desde a chegada “dos Lava Jato” – como este grupo é chamado pelos demais presos. Ao todo, a carta enumera 27 “fatos” – supostas ilegalidad­es ou infrações disciplina­res – que beneficiar­iam o grupo.

Outros centros prisionais já apuraram casos de regalias envolvendo políticos presos. Em Brasília, uma ação da polícia no domingo passado apontou benefícios ao ex-senador Luiz Estevão, no presídio da Papuda. No início do ano, o ex-governador Sérgio Cabral foi retirado do presídio de Benfica, no Rio, por ter acesso a comidas especiais e sala de cinema, entre outros privilégio­s. Cabral e Estevão negam.

Antigo Manicômio Judiciário do Paraná, o Complexo Médico-Penal – batizado assim desde 1993 – é um presídio localizado em Pinhais, sem muralhas. Visto por fora, foge ao padrão visual das unidades de encarceram­ento do Brasil. Com capacidade para 659 presos, a unidade abriga hoje cerca de 730.

A unidade passou a abrigar os detentos da Lava Jato em 2015, após a carceragem da PF se tornar pequena para o crescente número de detidos nas operações. Atualmente, são 52.

Divididos em dez celas da galeria 6, atualmente 12 presos condenados pelo juiz federal Sérgio Moro estão no CMP. Entre eles, o ex-presidente da Petrobrás Aldemir Bendine, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ), o ex-deputado petista André Vargas, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-assessor parlamenta­r do PP João Cláudio Genu – os dois últimos chegaram na quarta-feira passada, após confirmaçã­o de suas condenaçõe­s em segunda instância.

Vargas é suspeito de ser o líder do grupo, com poderes de mando dentro do CMP (mais informaçõe­s na pág. A6). Nem os procurador­es nem a PF comentam as investigaç­ões em andamento. Em 2016, um procedimen­to foi aberto após denúncia de uso de celular e destruição de provas pelo empreiteir­o Marcelo Odebrecht. Por isso, ele teria sido transferid­o em fevereiro daquele ano de volta para a carceragem da PF.

Vistoria em agosto de 2016 chegou a localizar um carregador de celular na cela 602, que era ocupada entre outros pelo ex-ministro José Dirceu, mas o aparelho não foi localizado. A carta que denuncia regalias diz que presos da Lava Jato “usam celular à vontade” no complexo.

A força-tarefa apura também a “permissão” de visitas íntimas – no CMP, é proibido – para “os Lava Jato”. “Não tem dia, nem hora exata, qualquer dia e qualquer hora pode ser o momento, sempre no horário de expediente, e não necessaria­mente toda semana”, relata a carta. Além de encontros com as “esposas”, o documento cita a presença de “garotas de programa disfarçada­s de advogadas”.

O diretor do Departamen­to Penitenciá­rio do Paraná, Francisco Caricatti, afirmou que não foi comunicado sobre as investigaç­ões, nem tem conhecimen­to de supostas regalias no CMP.

O Sindicato dos Agentes Penitenciá­rios do Paraná (Sindarspen) informou que “desconhece qualquer denúncia contra agentes penitenciá­rios, que supostamen­te estariam favorecend­o presos da Lava Jato”.

A defesa de Vargas disse que desconhece eventuais benefícios ao ex-deputado. Já a defesa de Marcelo Odebrecht informou, por meio da assessoria de imprensa, que não vai se manifestar sobre o assunto. A defesa de Dirceu não respondeu até a conclusão desta edição.

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