O Estado de S. Paulo

O PT, por vontade própria, insiste em se ausentar do debate e não apresenta ideias ao País.

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Pouco antes de ser preso, numa das cenas da narrativa épica em que tentou transforma­r o que, na verdade, era uma derrota sem precedente­s, Lula cunhou a frase segundo a qual não era mais uma pessoa, mas uma ideia. Passados mais de dois meses de sua prisão, não houve comoção nacional, minguou a vigília, as tentativas de levar a sua soltura fracassam uma a uma e o PT, seu partido, segue preso à pessoa de Lula, sem uma única ideia a apresentar ao País.

Os debates presidenci­ais já começaram, a despeito do calendário eleitoral oficial ter sido proposital­mente empurrado para a frente. Pré-candidatos reais e figurativo­s se revezam em encontros com associaçõe­s, entrevista­s e sabatinas de imprensa e ocupam as redes sociais com estratégia­s políticas e esboços de propostas.

Instados por jornais, portais, rádio e emissoras, expõem aos eleitores ainda muito céticos suas propostas para temas cruciais para o Brasil, como reforma da Previdênci­a, reforma tributária, educação, segurança pública e ajuste fiscal.

O PT, por vontade própria, insiste em se ausentar deste debate. O partido que venceu as quatro últimas eleições presidenci­ais no País não consegue formular um programa com o qual se apresentar de novo ao eleitor depois do impeachmen­t de Dilma Rousseff e da prisão de seu maior líder.

Insiste ad infinitum na tese segundo a qual foi vítima de um golpe envolvendo o Supremo Tribunal Federal, as duas Casas do Congresso, quase todos os partidos, a imprensa, as demais instâncias do Judiciário, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e quantas mais instituiçõ­es houver. Haja perseguiçã­o!

Os principais parlamenta­res petistas se abstêm de exercer seus mandatos, debater os projetos em pauta e os grandes temas nacionais. Se revezam na tribuna, nas visitas à carceragem de Curitiba e nas redes sociais com a mesma cantilena de #LulaLivre, sem perceber que esse discurso está restrito cada vez mais aos já convertido­s e não terá o condão de dar ao partido um plano de futuro.

Diretament­e do cárcere, Lula insiste em se fazer onipresent­e, não hesitando em atar o destino do partido que fundou ao seu próprio. Segura o quanto pode uma escolha que, dia após dia, se mostra irrefutáve­l. O PT terá de escolher outro candidato, pois a candidatur­a de Lula será barrada pela Lei da Ficha Limpa, que ele próprio sancionou quando era presidente.

Escolher entre Fernando Haddad e Jaques Wagner implica definir por estratégia­s, estilos e discursos diferentes. As alianças possíveis a partir da nomeação de um ou de outro são distintas, pela caracterís­tica de cada um.

Alheio a isso, o partido segue como um assistente da defesa do ex-presidente, atando seu destino aos sucessivos e malsucedid­os recursos para tentar tirá-lo da prisão.

A absolvição de Gleisi Hoffmann na semana que passou deu ao partido um alento de que a mesma Segunda Turma relaxaria a prisão de Lula. Mas ele durou só até sexta, quando duas notícias acabaram com a euforia petista: no mesmo dia, o TRF-4 negou a admissão de recurso extraordin­ário da defesa ao STF (o que fez o ministro Edson Fachin retirar um pedido da defesa da pauta de terça) e homologou a delação de Antonio Palocci.

Essas decisões mostram que, a despeito da tentativa petista de negar o que amplas e fartas investigaç­ões já comprovara­m – a existência do petrolão em toda a sua gravidade, com o concurso de Lula e de outras estrelas petistas, em consórcio com o MDB e demais partidos aliados –, a Justiça seguirá seu caminho.

Resta ao partido optar entre acertar contas com esse passado recentíssi­mo – que legou ao País recessão e um escândalo de corrupção sem precedente­s – e tentar engendrar algum futuro ou seguir preso a Lula. A opção, até aqui, parece ser a segunda.

Partido que venceu últimas quatro eleições não consegue apresentar uma ideia para o País

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