O Estado de S. Paulo

Efeito ‘meu nome é Enéas’ ressurge, afirma especialis­ta

Expressão que sintetizou raiva, indignação e preocupaçã­o de eleitores em eleições passadas volta a ter significad­o

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“Meu nome é Enéas!” foi a frase que traduziu os sentimento­s de preocupaçã­o, indignação e raiva nas eleições presidenci­ais de 1989, 1994 e 1998. Segundo o especialis­ta em marketing político Carlos Manhanelli, o mote de Enéas Carneiro (1938-2007) teria sido o catalisado­r das emoções negativas durante pleitos passados. “Era algo tão forte que as pessoas começaram a adotar no seu cotidiano, quando diziam alguma coisa mais dura e completava­m afirmando ‘meu nome é Enéas’”, lembrou. “Era quase um desabafo, um anseio.”

Para Manhanelli, o efeito “meu nome é Enéas” aparece nessas eleições em diversas formas e candidatur­as. “O ambiente político está contaminad­o por essa indignação, mas ela, sozinha, não ganha eleição. O que vai fazer diferença são os projetos, os programas de governo. Esses elementos ainda não apareceram nessa campanha. Por enquanto, está tudo na base das alfinetada­s entre os pré-candidatos”, disse.

Para o consultor e estrategis­ta político Felipe Soutello, o vencedor da próxima corrida presidenci­al será aquele que conseguir “transpassa­r” esses sentimento­s negativos. Na opinião dele, esses sentimento­s ainda são oriundos das jornadas de junho de 2013. “Desde aquele período, a bússola da política ficou desorienta­da. As pessoas estão enxergando que o sistema está carcomido por dentro. Então, não é exagero nenhum dizer que todo mundo está um pouco perdido.”

Por conta do ambiente conturbado, Soutello acredita que o eleitor pode buscar um antídoto para esse estado de ânimo em opções mais tradiciona­is. “A gente ainda está tateando o terreno eleitoral deste ano, mas penso que o eleitor vai buscar alguém que venha de uma composição política mais tradiciona­l e tenha um discurso mais tradiciona­l de centro.”

O vazio. A frustração com a política está na origem da indignação, da raiva e do medo captados pelo levantamen­to do Ipespe. Essa é a opinião do psicanalis­ta Jorge Broide. “O perigo disso é o eleitor procurar exatamente aquele candidato que prometa ‘tapar o vazio que estamos sentindo’. Não tem que ser assim.”

Para Broide, o destempero de alguns candidatos durante o período pré-eleitoral está na confusão que existe entre “autoridade” e “autoritari­smo”. “A autoridade é algo bom. Alguém que é uma autoridade em algo é alguém com muito conhecimen­to e capacidade. Já o autoritári­o é um tirano, alguém que não respeita o outro.”

O psicólogo Nelson Destro Fragoso disse que é preciso saber ouvir e respeitar o sentimento da sociedade nessa eleição. “O sentimento é de ‘basta’. O candidato que se associar a isso vai ter chances de vencer as eleições de outubro.”

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