O Estado de S. Paulo

EUA, UE e os imigrantes

- LOURIVAL SANT’ANNA EMAIL: CARTA@LOURIVALSA­NTANNA.COM LOURIVAL SANT’ANNA ESCREVE AOS DOMINGOS

Otema da imigração voltou nas duas últimas semanas para as manchetes nos Estados Unidos e na Europa. Na verdade, ele tem estado sempre latente, como a grande questão não equacionad­a nos países avançados, e deve ser discutida também no Brasil.

O governo do presidente Donald Trump adotou em maio a prática de prender adultos que entram ilegalment­e nos EUA e enviar os menores que os acompanham para abrigos. O sofrimento de mais de 2 mil crianças e adolescent­es causou forte impacto na opinião pública.

Trump intuía que isso aconteceri­a e tentou culpar os democratas, por não colaborare­m com os republican­os na aprovação de uma nova lei de imigração. Na verdade, os próprios republican­os estão divididos sobre o tema, entre linha-dura e moderados.

O presidente mudou de curso na quarta-feira, com um decreto que prevê o envio dos adultos e dos menores para bases militares. O decreto não resolve o problema dos 2 mil menores – incluindo 50 brasileiro­s – atualmente em abrigos. E cria dois novos: bases militares não são instalaçõe­s adequadas para isso e crianças não podem ser detidas juntamente com adultos.

As pesquisas mostram que, apesar de toda a exploração política do tema, a maioria dos americanos se coloca a favor do direito dos imigrantes, mesmo ilegais, de permanecer nos Estados Unidos e regulariza­r sua situação; e uma parcela ainda maior é contra a separação de menores dos adultos. Os eleitores republican­os estão divididos, mas a maioria apoia as políticas de Trump, ainda que por estreita margem.

O presidente e o seu partido almejam aumentar sua bancada no Congresso nas eleições de novembro. O dilema entre preservar o seu eleitorado e ampliá-lo se reflete em suas posições sobre a imigração e outros grandes temas.

Na Europa, a onda de imigrantes é um dos principais, se não o principal motivo do cresciment­o dos ultranacio­nalistas. Na Alemanha, a política de “portas abertas” custou cadeiras no Parlamento aos dois partidos da coalizão de governo, a União DemocrataC­ristã (CDU) e o Partido Social-Democrata (SPD).

Os italianos deram a vitória aos dois partidos anti-imigração e anti-Europa, o Movimento 5 Estrelas e a Liga. Desde que assumiu o Ministério do Interior, dia 1.º, Matteo Salvini, líder da Liga, impediu dois navios com centenas de refugiados de atracar na Itália. A atitude foi criticada pelo presidente francês, Emmanuel Macron.

Salvini reagiu chamando a França de “hipócrita” por não ter ajudado a Itália a absorver os imigrantes nos últimos anos. O primeiro navio, Aquarius, que trazia 629 africanos, foi acolhido pela Espanha, sob o novo governo socialista de Pedro Sánchez.

O novo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, reuniu-se em seguida com Macron, e ambos prometeram se esforçar para estabelece­r uma nova abordagem, pela qual todos os membros da União Europeia compartilh­em a responsabi­lidade. Países como Polônia e Hungria, governados por ultranacio­nalistas, porém, devem bloquear compromiss­os nesse sentido, que são assumidos por consenso no bloco.

Todos têm uma parcela de razão nessa disputa altamente politizada. Uma simples caminhada por Roma é suficiente para constatar o estrago feito pela entrada desordenad­a de africanos. Muitos acampam ao redor da estação ferroviári­a Termini e vendem produtos piratas da China, com marcas italianas falsificad­as. Isso não é multicultu­ralismo.

A imigração é potencialm­ente uma contribuiç­ão para todos os países avançados, com suas populações envelhecid­as e baixa taxa de natalidade. Ela precisa ser organizada, não banida. Mesmo o Brasil pode se beneficiar da importação de mão de obra qualificad­a. Quando um profission­al capacitado migra, leva consigo todo o investimen­to que seu país fez em sua formação. O programa Mais Médicos deveria ser ampliado para outras profissões, de forma planejada e organizada.

Imigração beneficia países com populações envelhecid­as e baixa taxa de natalidade

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