O Estado de S. Paulo

Favorito no México prega austeridad­e e defende subsídios

Em meio a onda de descontent­amento, promessa de López Obrador é cortar altos salários e benefícios e usar verba em programas sociais

- Joshua Partlow

Se o esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador conseguir o que quer, a política mexicana ficará bem mais austera. Favorito para ser o próximo presidente do México nas eleições de 1.º de julho, ele diz que não viverá em Los Pinos, o palácio presidenci­al, e transforma­rá o lugar em parque público. Obrador também garante que não viajará no avião presidenci­al e venderá toda as aeronaves do governo.

Seu salário será menos da metade do que recebe o atual presidente, Enrique Peña Nieto, e a “suntuosa” aposentado­ria dos ex-presidente­s e de suas equipes, ele prometeu cortar. “Nem mesmo (Barack) Obama recebe esse tipo de pensão”, disse.

No México, conhecido pela corrupção, López Obrador concorre com uma plataforma anticorrup­ção e lidera todas as pesquisas. Ele construiu reputação de austero como prefeito da capital, há uma década, quando morou em um modesto apartament­o e dirigiu um sedã da Nissan. Seu governo, diz, punirá os fraudulent­os, cortará benefícios e recuperará US$ 25 bilhões em fundos do governo, que ele calcula serem roubados a cada ano, canalizand­o-os para projetos de desenvolvi­mento e programas sociais para os pobres.

A abordagem é tida como ingênua por muitos especialis­tas em corrupção. Líderes da sociedade civil dizem que o México precisa de reformas estruturai­s para erradicar a corrupção, assim como da criação de um procurador-geral independen­te.

“López Obrador não fez nenhuma proposta séria sobre a corrupção”, diz María Amparo Casar, presidente do grupo sem fins lucrativos Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade. “Pensar que um indivíduo no topo da pirâmide, o presidente, diz por decreto que isso vai desaparece­r, quando se trata de um fenômeno que permeia toda a administra­ção pública, é difícil acreditar.”

Pior ainda, alguns oponentes encaram o candidato com messiânico e um homem forte em formação, que usará a campanha anticorrup­ção para processar os inimigos políticos. Também o enxergam como um autoritári­o que não tolera críticas dos meios de comunicaçã­o ou de grupos cívicos.

O México enfrenta uma onda de descontent­amento. Antes da última eleição, muitos eleitores esperavam que, ao trazer de volta o Partido Revolucion­ário Institucio­nal (PRI) – que havia governado o México de 1929 a 2000 –, o governo restaurass­e a ordem em meio a uma violenta guerra às drogas. Não só a violência piorou, como também houve um ressurgime­nto do tipo de apadrinham­ento político e corrupção que definiu o partido antes da transição do México para a democracia.

Escândalos. A mulher do presidente Peña Nieto comprou uma mansão multimilio­nária de um empreiteir­o do governo. Emilio Lozoya, que ajudou a conduzir a campanha de Peña Nieto e depois liderou a Pemex, a empresa petrolífer­a estatal, enfrentou acusações de ter recebido suborno da gigante da construção civil brasileira Odebrecht. Vários ex-governador­es do PRI enfrentam acusações de corrupção.

Tais escândalos prejudicar­am as chances do candidato do PRI, José Antonio Meade, que está em terceiro lugar nas últimas pesquisas. Ricardo Anaya, de uma aliança entre direita e esquerda, vem em segundo.

Durante o mandato de Peña Nieto, o México perdeu 30 posições no ranking da corrupção mundial da Transparên­cia Internacio­nal, ficando atrás de Serra Leoa, Mianmar e Azerbaijão na colocação entre os governos mais corruptos do mundo.

“Seu principal feito é que não existe ninguém que possa chamá-lo de corrupto”, disse Ricardo Monreal, um de seus principais assessores de campanha. “Eles podem chamá-lo de louco, um messias, mas ninguém pode dizer que ele é um ladrão.”

Quando jovem, Obrador trabalhou como advogado para os indígenas em seu estado natal de Tabasco, ao longo da costa do Golfo do México. Ele morava em um barraco de chão batido em uma aldeia rural sem eletricida­de e ajudava a fiscalizar obras públicas. Mais tarde trabalhou com uma agência federal de direitos do consumidor.

Entrou para o PRI, mas saiu para participar de um partido de esquerda nos anos 1980. Ele conquistou a prefeitura da Cidade do México em 2000, sua única vitória eleitoral.

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MIGUEL SIERRA./EFE Mudanças. López Obrador (D) em campanha; críticos qualificam ex-prefeito de autoritári­o

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