O Estado de S. Paulo

‘É preciso se libertar do plano A e buscar alternativ­a’

Para Pipponzi, País ainda não tem candidato que atenda às expectativ­as do empresaria­do

- Renata Agostini / RIO

O empresário Antônio Carlos Pipponzi, acionista e presidente do conselho da Raia Drogasil, acredita que o empresaria­do precisa se “libertar de alguns mitos” e compreende­r que o candidato ideal ainda não se colocou. “Não dá pra pensar em nome novo a esta altura. Tem de ser pragmático. É muito cedo para falar que Alckmin não vai decolar, mas não dá para falar apenas nele”, diz.

À frente do Instituto para Desenvolvi­mento do Varejo (IDV), coordenou encontros do setor com Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e João Amoêdo (Novo). Para ele, a candidatur­a de Jair Bolsonaro (PSL), que recusou convite do IDV, é a que causa mais apreensão. “É inimagináv­el termos um candidato que não se sabe quais são suas posições”.

Há mais interesse em ouvir os candidatos nesta eleição?

Sem dúvida nenhuma. Há pulverizaç­ão, incerteza. No IDV, convidamos todos os principais candidatos para entender quem está mais alinhado com nossas posições. Existe preocupaçã­o dos empresário­s com a agenda de reformas, de não haver retrocesso­s no País. Essa é uma posição muito clara do IDV, do apoio às reformas, como a previdenci­ária e trabalhist­a. Com exceção de Bolsonaro, que recusou nosso convite, houve muita boa vontade dos candidatos para conversar.

Entraram em temas difíceis?

Não com muito conforto, mas deram sinalizaçõ­es. Geraldo Alckmin tem o discurso que o empresaria­do quer ouvir, de aceleração maior de reformas. Falou muito na austeridad­e fiscal e razoavelme­nte de segurança e de educação. No caso do Ciro, ficou claro que existe certo temor até porque a maior plateia foi a dele. Há curiosidad­e. Mas ele se saiu bem, se dispôs a ficar com todo mundo. Está à esquerda, mas deu um pouco de conforto ao defender responsabi­lidade fiscal. Foi contra a reforma trabalhist­a e isso decepciono­u a plateia. Pelo centro, vai a Marina, que de certo modo, deixou impressão muito boa. Ela procura se cercar de gente competente, independen­temente de partido. Não mostra necessaria­mente posições que o empresaria­do gostaria de ouvir, mas mostra equilíbrio.

O empresaria­do deve se engajar mais na política neste ano?

Não nos engajaremo­s como IDV, até porque o estatuto não permite isso. Mas acredito que, como qualquer cidadão, o empresário tem de se posicionar e exercer sua influência de forma positiva. Este ano, existe bastante estresse, o próprio mercado tem mostrado isso. Temos de ter consciênci­a que, nesse momento, possivelme­nte não temos o candidato que una a visão de País (que o empresaria­do deseja) e o tema de não ter ligação com os processos de investigaç­ão. É importante se libertar do plano A. Claramente, o plano A da maior parte dos empresário­s é Geraldo Alckmin. Mas é preciso olhar alternativ­as, e talvez se libertar de alguns mitos em relação a alguns candidatos. Esses contatos ajudam bastante.

O fato de a candidatur­a de Alckmin não ter decolado indica necessidad­e de olhar alternativ­as?

É uma necessidad­e. Não depende de ter plano de País apenas (para ser um candidato viável). Todo empresário quer o País crescendo, inflação baixa, que o País tenha desemprego menor. Mas precisamos entender o que é possível (politicame­nte). Viemos desse histórico de impeachmen­t, um clima difícil para o País. Talvez as reformas que queremos tenham de vir em velocidade menor. Uma coisa ficou clara na conversa com Alckmin, Marina e Ciro: todos são responsáve­is. Ninguém vai chegar lá e desprezar o equilíbrio das contas públicas. Agora, é preciso olhar a figura completa. Não

adianta ter as melhores propostas e depois não conseguir aprovar nada no Congresso.

Os empresário­s desejam que surja um nome novo?

Acredito que será uma evolução. Não dá pra pensar em algum nome novo a esta altura. Tem de ser pragmático. Precisamos ver após a Copa do Mundo como vai ficar. É muito cedo para falar que Alckmin não vai decolar, mas não dá para falar apenas nele.

Há entusiasmo entre seus pares em relação a Bolsonaro?

Não senti isso. É visto ainda como incógnita. Isso talvez provoque a inseguranç­a no mercado. Colocar um economista para falar por ele? Quem garante

que esse economista estará no governo? Ciro Gomes assume posições e se coloca. Há pontos divergente­s com a visão do setor, mas ao menos há debate e isso é importante.

O que desagrada é não saber o que pensa Bolsonaro?

Não o ouvi falar ainda, mas me parece inimagináv­el termos um candidato que não sabemos quais são suas posições. Por mais que se foque na segurança, o tema econômico é fundamenta­l. Como o País vai ter capacidade de melhorar o eixo saúde, educação e segurança? O candidato apenas falar que ainda não sabe e está esperando seu programa... Isso me assusta. Não quero pré julgá-lo, mas me preocupa.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Dúvida. Bolsonaro ainda é visto como uma incógnita pelos empresário­s, diz Pipponzi

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