O mundo ficou mais perigoso
Ocenário internacional está piorando rapidamente e em várias frentes. Mesmo o encontro de cúpula com o presidente da Coreia do Norte, um aparente sucesso para Trump, que queria mais do que tudo a foto do evento, foi criticado por quase todo mundo.
A começar da própria reunião, na qual um país pequeno, pobre e pária teve um tratamento de igualdade plena jamais sonhado. Basta lembrar as seis bandeiras de mesmo tamanho de cada país que adornavam a sala. Além disso, grandes concessões foram feitas (como a suspensão das usuais manobras conjuntas entre forças dos EUA e da Coreia do Sul) em troca de quase nada, apenas vagas promessas de redução do arsenal nuclear, que nunca ocorrerão.
A revista The Economist, em vez de escrever na capa Kim Jong-un, grafou Kim Jong Won (“ganhou”). O site do estatístico Nate Silver mostrou que 67% dos eleitores americanos não acreditam que a Coreia liquidará o arsenal nuclear. Esse caso é mais um no qual o presidente trata bem os inimigos (Rússia e Coreia do Norte), mas trata muito mal aliados de décadas, como Japão, Coreia do Sul, Canadá e Europa. Difícil entender, mas Trump tem a foto que tanto almejou.
Esse padrão se repete na política comercial. Basta pensar na saída do TPP, na dura renegociação do Nafta e nas tarifas sobre as importações de aço e alumínio, as quais já foram objeto de retaliação por parte do México e da Europa. Canadá, Japão e Turquia estão preparando ações semelhantes.
Mas é na disputa comercial com a China que está o centro do conflito. No dia 6 de julho, entrarão em vigor os impostos de importação colocados sobre US$ 34 bilhões de um total de US$ 50 bilhões do primeiro pacote protecionista. Ainda que até lá Trump possa recuar, a maior parte dos analistas não acha que vá fazê-lo, o que levará a China a replicar com elevações de tarifas sobre igual valor de comércio. Daí para a frente, tudo poderá acontecer.
Um último evento completa a reversão do cenário internacional: a elevação dos juros nos EUA. Após sua recente reunião, o Fed comunicou que ainda deverá elevar os juros mais duas vezes neste ano e três vezes no ano que vem. Além disso, continuará a reduzir seu balanço, enxugando a liquidez e colocando mais pressão nos prêmios de risco. A Europa também vai caminhando, cautelosamente, para a normalização das condições monetárias.
Em resumo, podemos esperar menos comércio, mais juros, mais prêmios de risco e mais valorização do dólar em relação a outras moedas, inclusive a nossa. Embora possamos exportar algo mais aqui e ali, o conjunto é ruim para nosso País. Aqui no Brasil, além de absorver o que vem de fora, o cenário político incerto começou a pesar. Mas, como notícia ruim sempre “dá em cacho”, dois detonadores transformaram de vez o cenário, para pior. Refiro-me à reunião do Copom finda em 16 de maio e à greve dos caminhoneiros.
A decisão do Banco Central de não reduzir o juro da Selic para 6,25%, contrariando a comunicação anterior em favor da percepção de piora no cenário global, pegou mal e gerou pressão nos mercados de juros e câmbio. Além disso, o BC foi lento na sua reação e só começou a operar com swaps quando o sentimento já tinha piorado muito e o câmbio havia encostado em R$ 3,91 por dólar, no dia 7 deste mês.
Parte do mercado, erroneamente, começou a pedir a elevação dos juros, a que o banco não atendeu, argumentando, agora corretamente, que a baixa inflação e a robustez do setor externo prescindiam de tal movimento. É, portanto, provável que os juros não se elevem até o fim do ano. O dólar, entretanto, continuará a depender do cenário político e será volátil.
Finalmente, a parada dos caminhões foi um desastre absoluto: travou completamente a produção, revelou um governo prostrado e teve a pior das “soluções” com a criação de uma insustentável tabela em meio a um regime de preços livres, tecnicamente equivocada e um impasse que permanece até hoje.
Como tem sido usual, Executivo e Legislativo acabaram por empurrar a solução para o Judiciário. Não temos aqui saída boa. O resultado é mais uma frustração no crescimento. O ano de 2019 será ainda mais difícil e desafiante.
Podemos esperar menos comércio, mais juros e mais valorização do dólar