O Estado de S. Paulo

Coisas irrelevant­es que tiram pessoas do sério

- RUTH MANUS E-MAIL: RUTH.MANUS@ESTADAO.COM RUTH MANUS ESCREVE AOS DOMINGOS

Lixeiras com pedal cujo pedal não funciona, nos obrigando a empurrar aquela tampa suja com as costas da mão. Box mal construído, que faz com que a água escorra para o resto do banheiro. Tampa ou tábua de privada que não param quietas quando você as levanta. Descarga que não leva todo conteúdo embora. Secador de cabelos fracote, que parece uma criança de 2 anos soprando vela de aniversári­o.

Pessoas que não entendem que o ar condiciona­do pode ter a sua temperatur­a regulada e só usam gelado fraco, gelado médio e gelado forte. Dias nos quais faz 32 graus ao sol e 16 à sombra, inviabiliz­ando o conforto com qualquer tipo de roupa. Chuveiro cuja temperatur­a da água oscila ao longo do banho. Pessoas que usam regata com bota, ou cachecol com sandália.

Buzinas de carro muito duras, que não fazem “pi-pi” só fazem “péééééééé”, mesmo quando sua intenção era só um “pi-pi”. Pessoas que não entendem que não é preciso usar toda a sua força para fechar a porta de um carro. Portas de carro que não fecham com a força normal e que você bate uma, duas, três vezes, até ser obrigado a usar a mesma força das pessoas que não sabem fechar a porta do carro sem ignorância.

Pessoas que, ao apertar nossa mão para nos cumpriment­ar, dão a mão molenga, nos dando a sensação de que estamos cumpriment­ando um tentáculo de polvo morto. Pessoas que, ao apertar nossa mão para nos cumpriment­ar, apertam nossa mão com uma força totalmente sem cabimento, como se mal nos conhecesse­m e já desejassem quebrar dois dos nossos cinco dedos ou como se isso reforçasse sua masculinid­ade.

Faca mal afiada para comer bife. Tesoura cega, que vai entortando e amassando o papel sem nunca ameaçar cortá-lo. Pessoas que não sabem abrir o leite longa vida e, ou fazem um buraquinho ridículo por onde mal sai um fio de leite, ou fazem um buracão gigante pelo qual a embalagem derrama tudo de uma vez só. Pessoas que, ao falar durante a refeição, gesticulam com a faca e o garfo.

Ganchos de pendurar toalha no qual a toalha não fica mais de 4 segundos sem escorregar para o chão. Toalhas que, quando a gente cobre o ombro, descobrem a bunda. Hotéis que têm café da manhã até 9h30. Quartos que não têm tomada perto da cama. Saleiro com sal úmido. Garrafa de azeite suja por fora. Marcas de dedos nos vidros. Pessoas fazendo barulho para mascar chiclete.

Restaurant­es com luz branca, que te dão a sensação de jantar num centro cirúrgico. Pessoas que usam a faca suja de outras coisas para pegar a manteiga, a geleia, a maionese, o requeijão ou quaisquer outras coisas comunitári­as. Garçom que quer levar seu copo quando a bebida ainda não acabou. Bife malpassado para quem pediu bem passado, bife bem passado para quem pediu malpassado.

Vendedores de loja que te oferecem peças que você não pediu. Clientes de loja que andam atrás de nós, olhando tudo o que nós olhamos nas araras. Promoções do tipo “Leve 5 e pague apenas 9,99”, quando o preço unitário original é 2 reais. Vendedor que, depois de você escolher o presente que vai comprar, te pergunta “e pra você, vai levar o que hoje?”.

Computador pedindo atualizaçõ­es. O Windows reiniciand­o seu computador sem que você tenha autorizado. Celular que desliga quando ainda tem 9% de bateria. Toda vez que você tem que saber o seu ID Apple porque ninguém nunca sabe seu ID Apple. Controle remoto com pilha fraca. Tentar aumentar o volume da TV com o controle da TV a cabo e já estar no máximo, então tem que pegar o controle da própria TV.

Pessoas que falam “nós éramos em 5”. Pessoas que falam “seje”. Pessoas que falam “menas”. Pessoas que falam “seje menas”. Pessoas que falam “de menor”. Pessoas que falam “tipo” muitas vezes. Pessoas que falam “top” em qualquer circunstân­cia. Pessoas que escrevem textos sobre coisas irritantes em pleno domingo.

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