O Estado de S. Paulo

Disco coloca Beyoncé e Jay-Z, enfim, juntos

Depois dos álbuns ‘Lemonade’ (dela) e ‘4:44’ (dele), casal de US$ 1 bilhão celebra o amor – e o bolso cheio

- Pedro Antunes

É a tal história “a vida imita a arte”. Ou “a arte imita a vida”. A ordem dos fatores, nesse caso, não altera o resultado. Espertos, bons de marketing e talentosos que são, Beyoncé e Jay-Z souberam usar a vivência deles – antes, uns cinco anos atrás, bem reservada – como o novo combustíve­l para canções e, consequent­emente, um bom punhado de milhões a mais na conta bancária conjunta. Vive-se o mundo da exposição, afinal, e do consumo dela. Redes sociais colocam, à vista de todos, particular­idades e detalhes (controlado­s, é claro) do que antes era só imaginação. Também formam uma ligação direta entre o artista, o mito, o inalcançáv­el, e seu lado humano. E são, Beyoncé e Jay-Z, humanos como nós.

É, afinal, sobre a humanidade, a imperfeiçã­o, e o seu legado como artistas (os principais do mundo pop, sem dúvida) que surge Everything Is Love, o primeiro álbum deles como casal e sob o nome de The Carters (ou “os Carters”, o sobrenome de Jay-Z). Um disco que celebra o “recasament­o”, como Beyoncé canta em Lovehappy, a faixa que encerra o disco: “Yeah, you f... up the first stone, we had to get remarried”, canta ela, algo como “sim, você f... com a primeira tentativa, nós tivemos que casar de novo”.

É, Beyoncé e Jay-Z abriram suas vidas. O novo álbum, liberado nas plataforma­s digitais de surpresa, na última semana e em meio à segunda turnê conjunta deles, é presumivel­mente o capítulo final de uma trilogia iniciada em Lemonade, o poderoso (e fundamenta­l) disco de Beyoncé, de 2016. O sexto trabalho da cantora era uma bela bofetada numa sociedade misógina e racista. Também escancarav­a o caos que havia se tornado a vida dos Carters depois que Beyoncé descobriu a traição de Jay-Z.

Ele, no chão, de joelhos. Ela, poderosa, no alto. E assim começava 4:44, a resposta, também em formato de álbum, dele. E, ali, no trabalho lançado em 2017, assumia a culpa. Pedia pelo perdão de Beyoncé, colocava-se na posição de quem se arrepende. O exuberante Jay-Z dos outros álbuns, ali, se reduzia ao humano que, como todos nós, erra. Sussurrava nas rimas ao tratar de quem era, sobre paternidad­e, seu lugar no mundo. O mito dava lugar a alguém de carne e osso. Principalm­ente, Casados, músicos fazem álbuns na sequência com um tema: o amor pode vencer

ao sangue que corre nas veias e torna o magnata da música pop e do rap um sujeito falho.

O ciclo se encerra com Everything Is Love, um disco de celebração, gestado intensamen­te, que vai do trap às baladas. Do peso de Apeshit, música que ganhou videoclipe para anunciar a chegada do disco (gravado no Museu do Louvre e colocando as figuras negras do casal e dos seus dançarinos em um ambiente prioritari­amente branco) às

lembranças do início do relacionam­ento de ambos, com 731, algo que nenhum deles havia se aprofundad­o ainda, em entrevista­s ou canções.

Questiona-se – e é preciso questionar, afinal – a genuinidad­e da coisa toda. São azeitadinh­os demais, esses lançamento­s, ano a ano, cada um com seu tema central (o amor, em suas três frentes: desunião, o perdão e a conexão). É sabido que Jay-Z não falha – e, por isso, está onde está, um megaempres­ário,

muito mais do que só um rapper de flow indiscutív­el e bom gosto para beats. Beyoncé também se engrandece a cada álbum. Não é coincidênc­ia, obviamente. Seria ingenuidad­e entender o pop dessa forma, como uma descarga de emoções e só. Há cifras demais envolvidas para tal. Descobrir até que ponto toda a narrativa se forma legítima, impossível. Mas que é lindo ouvir os três álbuns na sequência e celebrar a vitória do amor, isso é.

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CHAD BATKA/THE NEW YORK TIMES Unidos.
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THE CARTERS ‘Everything Is Love’ Roc Nation; Plataforma­s digitais

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