Jérémie Renier e o sexo, segundo François Ozon
Ator fetiche dos irmãos Dardenne entra na perversão de ‘O Amante Duplo’ e estreia na direção com o irmão
Jérémie Renier esteve no Brasil, com o irmão Yannick, participando do Festival Varilux do Cinema Francês com dois filmes – O Amante Duplo, de François Ozon, e Carnívoras, que eles dirigiram. O Ozon estreou nesta quinta, 21, recebido com pancadas por diversos críticos. É perverso, mas pode ser divertido, um filme colagem com elementos de David Cronenberg (Gêmeos, Mórbida Semelhança)
e Alfred Hitchcock (Marnie, Confissões de Uma Ladra).
Sempre naturalista no cinema dos irmãos Dardenne, com quem fez vários filmes – A Criança, O Garoto da Bicicleta, A Garota Desconhecida –, Jérémie faz aqui uma composição. O repórter observa que nunca o viu tão viril. “François (Ozon) dizia que se eu não fosse bem viril em cena estragaria o filme. Já o conheço há tempos. A filmagem teve momentos engraçados. Fazia a cena e perguntava. Assim está bem ou quer mais?” Um psicanalista que se envolve com a paciente? “François fez pesquisas e diz que isso ocorre. É da natureza humana. Mas é uma obra de ficção, e na ficção tudo que não é ofensivo é permitido.”
Sobre os rumos de sua carreira, Renier lembrou que filmou na Argentina com Pablo Trapero, Elefante Branco. “Foi uma experiência enriquecedora, porque Pablo é um diretor de grande talento e eu contracenava com Ricardo Darín, que é hoje o ator argentino mais conhecido no mundo. Estou numa fase de querer me conectar com o trabalho de diretores e roteiristas de todo o mundo. O desafio é sempre conseguir passar de forma convincente o que está escrito. É a minha função como ator.” E sobre trabalhar com Ozon – “Já o conheço há 20 anos. Quando ele me propôs, senti o desafio. Não sei se conseguiria fazer o papel com outro diretor. É muito invasivo. Gosto de François. Faz um cinema comercial com pegada autoral.”
Não apenas – Ozon gosta de mudar, de filme para filme. Se o anterior Franz, com Pierre Ninney e Paula Beer, era pudico até o limite, o diretor agora se esbalda na provocação sexual. Filma um olho dentro de uma vagina (Cronenberg?) e coloca Jérémie e Marina Vacth conversando, ambos nus, sentados em cadeiras um de frente para o outro. “Aquilo foi esquisito”, admite. E sobre dirigir Carnívoras com o irmão? “Há tempos queria realizar essa experiência. A direção foi-se impondo como uma necessidade. É sempre uma forma de testar seus limites, avaliar o que você aprendeu com os grandes e também de realizar o desejo de contar as minhas histórias. Foi bom codirigir justamente com Yannick.” A atriz Zita Hanrot, que acompanhou os irmãos no Brasil, só teve elogios para os dois. “Carnívoras é um filme sobre fraternidade e dirigi-lo com meu irmão nos levou a repensar e fortalecer a própria relação familiar”, explica Jérémie. “Yannick vem principalmente do teatro, tem outra formação, outro olhar. O filme tem uma pegada trágica. As atrizes que fazem as irmãs sabiam que seria assim. Nosso filme ficou bem próximo do roteiro, talvez por sermos estreantes. As ousadias já estavam definidas na escrita.”