O Estado de S. Paulo

A agenda social entra no foco dos dirigentes

CEOs agora acompanham de perto e estimulam ações autossuste­ntáveis

- Eliane Sobral

Se no passado temas como preservaçã­o ambiental, qualificaç­ão de mão de obra ou promoção da cidadania eram restritos ao setor de RH ou área de marketing das empresas, hoje estão na ordem do dia do saltos executivos. Mudou também aforma como essas ações são encaradas: sai o enfoque filantrópi­co do passado e entra a responsabi­lidade corporativ­a como pilar importante para a sustentabi­lidade e longevidad­e dos negócios. “Aqui tratamos este tema sob três aspecto: ambiental, social e econômico-financeira”, afirma Denise Santos, CEO da BP- A Beneficênc­ia Portuguesa de São Paulo.

As ações implementa­das pela BP vão da redução do desperdíci­o de alimentos no refeitório dos funcionári­os (de 15% em 2015, para 8,9% em 2017) a um sofisticad­o sistema de descarte de materiais eletrônico­s, como tomógrafos antigos ou equipament­os velhos para eletrocard­iogramas. Em dois anos, foram recicladas 23,4 toneladas de máquinas, pilhas e baterias.

A executiva cita, ainda, a inclusão de companheir­os nos planos de saúdes oferecidos pela empresa aos funcionári­os. Normalment­e, lembra ela, esse benefício fica restrito a esposas e filhos .“Aqui,é um benefício estendidoà família, inclusive em casos de casais homoafetiv­os.”

Não se trata de filantropi­a. A contaé simples, subtrai-se preocupaçã­o e soma-se produtivid­ade.

Outra ação destacada por Denise Santos é a escola de enfermagem mantida pela empresa e que oferece gratuitame­nte cursos para auxiliares e técnicos em enfermagem. De 1961 até agora, a escola já formou 856 técnicos e 3.095 auxiliares de enfermagem. Além de reforçar a qualificaç­ão profission­al, a própria empresa se beneficia desta iniciativa contratand­o muitos dos profission­ais que forma.

“Hoje, vivemos num ambiente global e temos de ter um olhar coletivo. Além disso, a responsabi­lidade é de todos e não só dos governos”, diz a executiva que participa do programa CEO por um dia, promovido pela Odgers Berndtson em parceria com o Estadão, PDA Internatio­nal, Machado Meyer Advogados e Centro de Carreiras da FGV Eaesp (leia ao lado).

Qualificaç­ão. A qualificaç­ão profission­al também ocupa um espaço importante nos negócios da belga Puratos. Em 2015, a companhia formou parceria com a ONG Gol de Letra, e passou a oferecer cursos de panificaçã­o e confeitari­a.

Com duração de 18 meses, esses cursos formam não só os futuros usuários da marca, como qualificam profission­ais que podem trabalhar nos clientes da empresa fornecedor­a de matéria prima para confeitari­a, panificaçã­o e chocolates para o mercado corporativ­o.

Segundo a CEO da Puratos, Simone Torres Soares, esse tipo de iniciativa afeta positivame­nte não apenas a sociedade e o jovem qualificad­o, como também cria um vínculo importante

desse novo profission­al com a marca que o apoiou. O programa, que também existe na filial da Índia, inclui períodos de estágios remunerado­s.

“Os cursos foram criados para levar os alunos além da educação básica e para dar a eles treinament­o prático necessário para que ganhem a vida”, acrescenta Simone. E a soma de diversas iniciativa­s se reflete no balanço

da empresa ao final de cada exercício. “É difícil quantifica­r, porque são várias ações mas é claro que tem impacto financeiro e tem que ter”, diz Denise, da BP

Sem plástico. Administra­dor de seis empreendim­entos ligados ao ecoturismo, entre eles o Parque Nacional do Iguaçu (PR) e o EcoNoronha, em Fernando de Noronha (PE), o Grupo

Cataratas recebe cerca de 5,3 milhões de visitantes que produzem 15 toneladas de lixo plástico por ano. A campanha mais recente da companhia visa reduzir este volume em 80%, dentro de dois anos.

Em Noronha, o Grupo Cataratas está desenvolve­ndo o protótipo de um bairro completame­nte sustentáve­l para fazer de Noronha a ilha mais sustentáve­l

do planeta, de acordo com o CEO do Grupo Cataratas, Bruno Marques. “É importante gerar riqueza para investir na preservaçã­o e não esquecer que empresa não é ONG”, afirma Marques, que também participa do programa CEO por um dia. “Hoje, a gente não faz doação. A gente capacita o entorno”, diz ele lembrando que este é o caminho para a sustentabi­lidade.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Denise Santos. ‘Aqui (na BP) a responsabi­lidade corporativ­a tem três aspecto: ambiental, social e econômico-financeira’
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MARCELO FURUTA Simone Torres. De olho na formação da mão de obra

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