Alimentação saudável é desafio para empresas
Há pouco mais de 40 anos, a alimentação do trabalhador não tinha relevância dentre as preocupações de empregadores. Os empregados levavam marmita, sem qualquer suporte nutricional para uma refeição adequada. Na zona rural, havia os famosos boias frias, sem acesso a nutrientes com qualidade e variedade. Definitivamente, servir refeições balanceadas, de acordo com o gasto calórico e desgaste físico, não era prioridade.
Esse cenário começou a mudar radicalmente a partir dos anos de 1970, com a industrialização, a importação das culturas americanas e europeias em gestão de recursos humanos e a atuação dos sindicatos. Em abril de 1976, surgiu o PAT – Programa de Alimentação ao Trabalhador, considerado o maior programa social do mundo e o mais antigo do País, com o objetivo de tornar o Brasil mais competitivo no cenário internacional. Reúne o governo, operadores de benefício – refeição, benefício – alimentação, empresas especializadas em fornecer refeições, cestas de alimentos, restaurantes e produtores, entre outros.
Hoje, o PAT atende 22 milhões de trabalhadores, quase 17 milhões com renda de até cinco salários mínimos. Além de um estímulo para empregadores fornecerem alimentação nutricionalmente adequada em troca de incentivos fiscais, o programa também gera empregos diretos e indiretos em quase 15 mil empresas prestadoras ou fornecedoras de alimentação, com 23,8 mil nutricionistas.
O programa fortaleceu um setor que tem sido fundamental para elevar a qualidade de vida, aumentar a produtividade, o rendimento profissional e reduzir custos com saúde. Mais do que isso, facilita o acesso dos empregados de empresas de pequeno e médio porte à alimentação saudável, característica preponderante nas grandes empresas. Empregado melhor alimentado tem mais concentração, criatividade, atenção à segurança e a ocorrência de acidentes de trabalho diminui. Hoje, é considerado tão relevante, que influi até na escolha da maioria esmagadora dos trabalhadores na hora de trocar de emprego.
Graças ao PAT, o índice desnutrição caiu de 14,8% do início da década de 1990 para menos de 5% no País em 2011, segundo a FAO, órgão da ONU para Alimentação e Agricultura. A disponibilidade média de proteína cresceu de 67 para 92 gramas por pessoa, aumento de 37%.
Superado o drama da desnutrição, novos desafios se impõem. Há mudanças de hábitos, do tipo de trabalho que antes exigia mais força física, sedentarismo, além do elevado consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados. São fenômenos que atingem o Ocidente e exigem medidas mais eficientes e assertivas por todos os stakeholders dessa cadeia.
Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade aumentou 60% em dez anos. Resultado: o diagnóstico de diabetes saltou de 5,5% para 8,9%. O de hipertensão subiu para 25,7%. Mulheres são as maiores vítimas. Esse cenário levou o setor de benefícios a lançar diversos programas educativos para incentivar hábitos saudáveis e de controle de peso. Com isso, passou a fornecer orientação nutricional, planejamento alimentar, estimular exercícios físicos, entre outros comportamentos para a redução de problemas de saúde, maior qualidade de vida, especialmente no ambiente laboral.
Tudo indica que os brasileiros estão mais conscientes, mas há longo caminho a percorrer. Recente pesquisa da Fiesp com três mil pessoas revelou que de cada dez entrevistados, oito afirmam optar por alimentação saudável. Mas na hora de escolher entre um alimento que faz bem à saúde e outro com melhor sabor, 61% preferem os mais saborosos. Esse é um desafio de longo prazo, que demanda esforços dos setores envolvidos no segmento, para que alcancemos uma conscientização em massa.