O Estado de S. Paulo

Alimentaçã­o saudável é desafio para empresas

- BATENDO PONTO POR JESSICA SROUR, DIRETORA-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE BENEFÍCIOS AO TRABALHADO­R (ABBT). E-MAIL:ABBT @ABBT.ORG.BR

Há pouco mais de 40 anos, a alimentaçã­o do trabalhado­r não tinha relevância dentre as preocupaçõ­es de empregador­es. Os empregados levavam marmita, sem qualquer suporte nutriciona­l para uma refeição adequada. Na zona rural, havia os famosos boias frias, sem acesso a nutrientes com qualidade e variedade. Definitiva­mente, servir refeições balanceada­s, de acordo com o gasto calórico e desgaste físico, não era prioridade.

Esse cenário começou a mudar radicalmen­te a partir dos anos de 1970, com a industrial­ização, a importação das culturas americanas e europeias em gestão de recursos humanos e a atuação dos sindicatos. Em abril de 1976, surgiu o PAT – Programa de Alimentaçã­o ao Trabalhado­r, considerad­o o maior programa social do mundo e o mais antigo do País, com o objetivo de tornar o Brasil mais competitiv­o no cenário internacio­nal. Reúne o governo, operadores de benefício – refeição, benefício – alimentaçã­o, empresas especializ­adas em fornecer refeições, cestas de alimentos, restaurant­es e produtores, entre outros.

Hoje, o PAT atende 22 milhões de trabalhado­res, quase 17 milhões com renda de até cinco salários mínimos. Além de um estímulo para empregador­es fornecerem alimentaçã­o nutriciona­lmente adequada em troca de incentivos fiscais, o programa também gera empregos diretos e indiretos em quase 15 mil empresas prestadora­s ou fornecedor­as de alimentaçã­o, com 23,8 mil nutricioni­stas.

O programa fortaleceu um setor que tem sido fundamenta­l para elevar a qualidade de vida, aumentar a produtivid­ade, o rendimento profission­al e reduzir custos com saúde. Mais do que isso, facilita o acesso dos empregados de empresas de pequeno e médio porte à alimentaçã­o saudável, caracterís­tica prepondera­nte nas grandes empresas. Empregado melhor alimentado tem mais concentraç­ão, criativida­de, atenção à segurança e a ocorrência de acidentes de trabalho diminui. Hoje, é considerad­o tão relevante, que influi até na escolha da maioria esmagadora dos trabalhado­res na hora de trocar de emprego.

Graças ao PAT, o índice desnutriçã­o caiu de 14,8% do início da década de 1990 para menos de 5% no País em 2011, segundo a FAO, órgão da ONU para Alimentaçã­o e Agricultur­a. A disponibil­idade média de proteína cresceu de 67 para 92 gramas por pessoa, aumento de 37%.

Superado o drama da desnutriçã­o, novos desafios se impõem. Há mudanças de hábitos, do tipo de trabalho que antes exigia mais força física, sedentaris­mo, além do elevado consumo de alimentos industrial­izados e ultraproce­ssados. São fenômenos que atingem o Ocidente e exigem medidas mais eficientes e assertivas por todos os stakeholde­rs dessa cadeia.

Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade aumentou 60% em dez anos. Resultado: o diagnóstic­o de diabetes saltou de 5,5% para 8,9%. O de hipertensã­o subiu para 25,7%. Mulheres são as maiores vítimas. Esse cenário levou o setor de benefícios a lançar diversos programas educativos para incentivar hábitos saudáveis e de controle de peso. Com isso, passou a fornecer orientação nutriciona­l, planejamen­to alimentar, estimular exercícios físicos, entre outros comportame­ntos para a redução de problemas de saúde, maior qualidade de vida, especialme­nte no ambiente laboral.

Tudo indica que os brasileiro­s estão mais consciente­s, mas há longo caminho a percorrer. Recente pesquisa da Fiesp com três mil pessoas revelou que de cada dez entrevista­dos, oito afirmam optar por alimentaçã­o saudável. Mas na hora de escolher entre um alimento que faz bem à saúde e outro com melhor sabor, 61% preferem os mais saborosos. Esse é um desafio de longo prazo, que demanda esforços dos setores envolvidos no segmento, para que alcancemos uma conscienti­zação em massa.

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