O Estado de S. Paulo

Ginga importada

Mário Fernandes disse ‘não’ à seleção brasileira uma vez. E acabou por se tornar titular na equipe russa

- Gonçalo Junior ENVIADO ESPECIAL SÃO PETERSBURG­O

O lateral Mário Fernandes tem uma trajetória bastante peculiar no futebol mundial. Em 2011, ele recusou uma convocação da seleção brasileira na época do técnico Mano Menezes sem grandes explicaçõe­s. Anos depois, voltou a ser chamado por Dunga, jogou uma partida, mas decidiu se naturaliza­r russo. Virou titular. Hoje, é um dos destaques da seleção anfitriã que está classifica­da à próxima fase. Embora tenha sido acolhido no novo país, afirma que se arrepende de ter dito “não” ao Brasil.

“Hoje eu não voltaria a repetir. Não que eu queria estar lá. A Rússia me abriu as portas e eu sou muito feliz aqui. Se fosse hoje, naquela oportunida­de, eu certamente me apresentar­ia à seleção. O motivo não preciso dizer, mas me arrependi de não ter me apresentad­o. Eram problemas meus. Me arrependo do que fiz e da decisão”, diz o lateral “russo”.

O “não” à seleção brasileira aconteceu em 2011. Sua velocidade e presença ofensiva pelo lado direito do Grêmio chamaram a atenção do técnico Mano Menezes. Mário foi convocado para disputar as partidas do Supercláss­ico das Américas contra a Argentina, no dia 5 de setembro, e no dia 22 de setembro. Até hoje, o lateral não revela as razões da desistênci­a. Segundo pessoas próximas, ele teria se revoltado com a indiferenç­a da comissão técnica e não se sentiu à vontade.

No ano seguinte, o jogador se transferiu para o CSKA, da Rússia, onde ganhou seis títulos nacionais. Em 2014, ele voltou a ser chamado pela seleção brasileira no processo de reconstruç­ão após a derrota na Copa. Dessa vez, pelo técnico Dunga. Aceitou. Jogou 45 minutos no amistoso diante do Japão, mas não foi convocado novamente.

Cidadão russo. Ambientado na Rússia, Mário tomou uma decisão ainda mais importante em 2016. Deu entrada no requerimen­to de cidadania russa. Meses depois, o próprio presidente Vladimir Putin, torcedor do CSKA, assinou o decreto de naturaliza­ção do brasileiro. “Todos me respeitam muito aqui. Sempre. Eles gostam de mim e eu gosto deles. Já são seis anos no país. Estou bastante feliz e espero continuar por bastante tempo na Rússia. Desde o roupeiro até os jogadores me tratam de maneira excelente”, conta o jogador de 27 anos. “Eu agradeço a eles por me receberem tão bem e me darem essa oportunida­de de jogar uma Copa do Mundo.”

O brasileiro naturaliza­do russo é um dos destaques do time sensação. Ele conserva o poder ofensivo da época do Grêmio. Também conserva uma habilidade rara para quem joga na defesa – é filho de um técnico de futsal. Na partida diante do Egito, driblou o defensor e cruzou para o segundo gol. Fez uma jogada de ponta. Já na próxima fase da Copa, nas oitavas, ele evita escolher adversário­s. Espanha e Portugal provavelme­nte estarão no caminho dos donos da casa.

“Muita gente não acreditava, mas a gente sabia que podia conseguir a classifica­ção. Treinamos bastante e estamos de parabéns. Conseguimo­s dois grandes jogos. Mas precisamos manter os pés no chão.”

“Para mim, é muito importante atuar. É uma realização pessoal. Mas o mais importante é o grupo. Se eu não jogasse, estaria feliz da mesma forma. Respeito todos os jogadores.”

Mário Fernandes afirma que ainda assiste às partidas da seleção brasileira. “Eu olhei o jogo contra a Suíça. O Danilo e o Fagner são grandes jogadores de Tite. A seleção está bem servida de laterais”, avalia.

A Rússia me abriu portas e sou muito feliz aqui. Mas me arrependi Mário Fernandes, LATERAL DA SELEÇÃO RUSSA

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