O Estado de S. Paulo

O vermelho volta a ficar em alta na Rússia

- GONÇALO JUNIOR

O vermelho está novamente em alta na Rússia. Depois de três Copas do Mundo sem usar a cor tradiciona­l da extinta União Soviética, reafirmand­o a ruptura com o passado a partir de 1991, a Rússia adotou o vermelho como uniforme oficial em casa. Como diz uma expressão comum no mundo da moda: o vermelho é o novo preto na Rússia, ou seja, todo mundo no país de Putin tem uma peça assim no guarda-roupa.

O vermelho do time se esparramou pelas ruas de Moscou e pelas arquibanca­das. Os torcedores usam a bandeira russa, mas não torcem o nariz para uma camisa rubra. “A Rússia está mudando e está mais aberta para as pessoas. Além disso, acho que não temos mais medo de relembrar nosso passado. As coisas foram assim, mas estamos em outro momento. Podemos usar vermelho”, disse ao

Estado a torcedora Yelena Vavrid, após vitória do time sobre o Egito, em São Petersburg­o.

Para o torcedor Andrey Yodonov, as cores importam pouco nesse momento. “O importante é que estamos unidos, vivendo uma situação de paz. É bom poder usar todas as cores.”

As palavras de Yelena e Andrey significam uma mudança cultural importante. O vermelho faz alusão direta ao passado soviético. Era a cor da bandeira e símbolo histórico do regime socialista. Estava em todo lugar. No futebol, o vermelho da União Soviética é como o amarelo para a seleção brasileira.

A União das Repúblicas Socialista­s Soviéticas (URSS) acabou em 1991. As antigas repúblicas soviéticas formaram a Comunidade de Estados Independen­tes (CEI), um período de transição para que cada país se tornasse independen­te. A bandeira soviética foi baixada do Kremlin de Moscou pela última vez e substituíd­a pela bandeira russa anterior à revolução de 1917.

As cores da nação eram branco, azul e vermelho.

A supressão do vermelho estava inserida no contexto da “terapia de choque” que garantiu a transição da Rússia para uma economia de mercado. As reformas suspendera­m o controle do Estado sobre os preços e a moeda. Era a liberaliza­ção do comércio e o início das privatizaç­ões e da abertura.

Nas competiçõe­s esportivas, as equipes trocaram o uniforme. No mesmo ano, o vermelho foi abolido da camisa da seleção de futebol. Na Copa de 1994, nos Estados Unidos, a primeira após o fim da URSS, o time só usou azul e branco. Em 2002, a camisa foi totalmente branca. Em 2014, o time usou o grená e o branco. Em 2018, voltou finalmente a vestir o vermelho.

Curiosamen­te, a Rússia fez campanhas ruins antes de voltar ao uniforme antigo. Na Copa do Brasil, o time não passou da primeira fase e conseguiu apenas dois pontos. Em 2002, a seleção também não passou de fase e fez três pontos. “Nós não somos superstici­osos. Acho que é só coincidênc­ia. Mas a cor vermelho traz uma energia boa para os torcedores e os jogadores. É só isso”, entende o empreended­or Danis Leonov.

Medalha de ouro. A camisa atual relembra o uniforme de 1988 utilizado durante os Jogos Olímpicos de Seul, onde a equipe conquistou a medalha de ouro derrotando o Brasil na final. Clássica e simples, ela é totalmente vermelha com três listras em branco no ombro e uma faixa em cada lado entre o ombro e os braços. A camisa tem uma gola em “v” branca e um detalhe na região interna da nuca que representa a bandeira russa. Shorts brancos e meiões tricolores, com pequena parte em azul, completam o uniforme principal do time anfitrião.

O retorno da cor tradiciona­l coincide com o bom momento da Rússia, a primeira a se classifica­r paras as oitavas de final após duas vitórias. Na próxima rodada, diante do Uruguai, vai definir apenas o primeiro colocado do Grupo A. Com isso, o vermelho está nas arquibanca­das, mas também nas ruas.

As duas vitórias seguidas com ótima produção do ataque – foram oito gols em dois jogos – reafirmara­m o orgulho nacional. Antes da partida diante do Egito, a torcida deu um show ao cantar o hino. Os telões exibem letra de canções tradiciona­is. Durante todo o jogo, metade dos 64 mil torcedores da Arena Zenit gritou Rússia em sua língua. “A torcida estava um pouco desconfiad­a porque os resultados não estavam aparecendo. Isso mudou. A confiança voltou e a torcida está do nosso lado”, diz o atacante Cherysev.

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FRANCOIS LENOIR/REUTERS–19/6/2018 No coração. Torcedora russa canta o hino do país em Sochi depois da vitória sobre o Egito

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