O Estado de S. Paulo

Empresário­s se reúnem em busca de candidato de centro

Debates políticos têm sido promovidos em eventos e jantares; na terça-feira passada, a opinião unânime era de que Alckmin precisa ganhar tração

- Renata Agostini / RIO Mônica Scaramuzzo SÃO PAULO

O temor em relação ao desfecho eleitoral vem alimentand­o debates políticos, que ocorrem em profusão em pequenos eventos, jantares e reuniões em entidades que representa­m o empresaria­do. Executivos e lideranças do setor têm demonstrad­o preocupaçã­o com o fato de que, a poucos meses das eleições, um candidato de centro ainda não tenha se firmado nas pesquisas. A tensão eleitoral desta vez é maior, dizem.

Por isso, há uma profusão de encontros e conversas para que empresário­s possam se antecipar aos movimentos políticos e entender quais são de fato as propostas dos postulante­s ao Planalto. “Este ano há bastante estresse, o próprio mercado mostra isso. Temos de ter consciênci­a que, nesse momento, possivelme­nte não temos o candidato que una a visão de País (que o empresaria­do deseja) e o tema de não ter ligação com os processos de investigaç­ão”, diz Antônio Carlos Pipponzi, presidente do conselho Raia Drogasil e do Instituto para o Desenvolvi­mento do Varejo (IDV). “É preciso olhar alternativ­as”.

O IDV, bem como o Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi) e a Associação Brasileira de Incorporad­oras Imobiliári­as (Abrainc) ouvem há semanas pré-candidatos em pequenas sabatinas.

“O momento é muito importante. Temos de ouvir e nos mobilizar. O medo é de que o populismo e extremismo venham a se proliferar”, diz Rubens Menin, presidente do conselho da MRV e conselheir­o da Abrainc, que ouviu Geraldo Alckmin e receberá outros presidenci­áveis.

“Queremos que os candidatos entendam a relevância da indústria para o País. Somos geradores de emprego, exportamos e pagamos impostos”, diz Pedro Wongtschow­ski, presidente do Iedi e do conselho de administra­ção do Grupo Ultra. O Iedi recebeu Alckmin e Ciro Gomes (PDT). Fará outros encontros.

Executivos e donos de grandes empresas ainda aguardam pela definição das coligações – importante­s para cálculo do tempo de TV – e a composição das chapas. Mas, em encontros, não escondem receio com os rumos das candidatur­as de centro, especialme­nte a de Alckmin. A pulverizaç­ão de candidatur­as aumenta a sensação de incerteza, afirmam empresário­s.

Na terça-feira passada, Gustavo Junqueira, da Sociedade Rural Brasileira (SRB), reuniu em sua casa, em São Paulo, cerca de 30 executivos e empresário­s para debater as possibilid­ades eleitorais. Estavam presentes representa­ntes do agronegóci­o, como o usineiro Maurílio Biagi Filho, e executivos como Felipe Cavalieri, da BMC-Hyundai, e Antonio Moraes Barros, da CBC. Nas rodas que se formavam, repetia-se em uníssono: Alckmin precisa ganhar tração.

No evento, acompanhad­o pelo Estado, a maioria dos empresário­s ouvidos indicou que o candidato ideal seria João Amoêdo, do Novo, mais liberal que o tucano. No entanto, como ele aparece com baixíssima intenção de voto, Alckmin é visto como opção mais segura.

Na mesma noite, em São Paulo, um grupo de 60 executivos e investidor­es se reuniu para ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elaborar sobre a corrida eleitoral, a convite do Canadian Pension Plan Investment Board (CPPIB). O tucano voltou a defender a união dos candidatos de centro, o que animou a plateia. “Com a greve dos caminhonei­ros ficou o alerta de que há uma fragilidad­e exposta, mas o mercado ainda acredita numa composição de nomes de centro”, diz Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto Advogados, uma das maiores bancas do País, que estava presente no evento.

A busca por um caminho eleitoral distante dos extremos ideológico­s também foi um dos assuntos no jantar na sexta retrasada na casa de Rubens Ometto, dono da Cosan, em

São Paulo, que reuniu empresário­s e banqueiros como Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Roberto Setúbal (Itaú), Sérgio Rial (Santander) e André Esteves (BTG), em torno de Michel Temer e do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

Alguns dos presentes pediram empenho para que o centro se una ao redor de Alckmin, manifestan­do descrença numa candidatur­a própria do MDB, de acordo com fontes ouvidas pelo Estado. Empresário­s indicaram ainda preocupaçã­o com uma transição ordenada até a posse do próximo presidente.

Alvo dos que advogam pela “unificação do centro”, Henrique “Temos de assumir agendas para o Brasil. O empresaria­do tem que falar, colocar cabeça para fora e gritar. As lideranças não podem se omitir” Rubens Menin DONO DA CONSTRUTOR­A MRV

Meirelles diz, porém, que não pensa em desistir de se lançar pelo MDB. “Não houve nenhum pedido ou pressão para qualquer mudança”, afirmou ao Estado. “É evidente que adversário­s têm muita preocupaçã­o com minha candidatur­a”.

Apartidári­o. O cenário de incerteza eleitoral e em relação à economia, que deu sinais de fragilidad­e, motivou um grupo de executivos e empresário­s a articular um movimento para debater propostas para o País. Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, Paulo Kakinoff, presidente da Gol, Pedro Passos, sócio da Natura, Walter Schalka, presidente da Suzano, Salim Mattar, presidente do conselho da Localiza, Rubens Menin, da MRV, entre outros, vão promover em agosto o evento “Você Muda o Brasil”.

A ideia é fazer um debate apartidári­o sobre temas como educação, segurança e ética. O grupo não apoiará candidatur­as, mas pode fazer um documento com algumas das ideias debatidas.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO-19/06/2018 Cardápio político. Empresário­s discutem eleição de 2018

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