O Estado de S. Paulo

Nomes ligados à Hypermarca­s negociam delação na PGR

Investigaç­ão. Conversas para que João Queiroz, dono da gigante de medicament­os, e seu ex-principal executivo, Claudio Bergamo, possam fazer colaboraçã­o premiada ganharam força nas últimas semanas; empresa também avalia acordo de leniência

- Mônica Scaramuzzo

O empresário João Alves Queiroz Filho, fundador da Hypera Pharma (ex-Hypermarca­s), e Claudio Bergamo, ex-presidente da companhia, negociam delação premiada com a Procurador­ia-Geral da República. Em outra frente, a empresa discute um acordo de leniência. Em 2015, a Hypera teve seu nome envolvido na Lava Jato.

O empresário João Alves Queiroz Filho, fundador da Hypera Pharma (antiga Hypermarca­s), e Claudio Bergamo, ex-presidente da companhia, estão em conversas para tentar fazer delação premiada com a Procurador­ia Geral da República (PGR), segundo três fontes a par do assunto. Em outra frente, o grupo também discute um acordo de leniência, conforme antecipou o ‘Estado’ em abril.

Queiroz e Bergamo se afastaram da empresa no fim de abril. Os dois foram alvos de busca e apreensão na operação Tira-Teima, deflagrada pela Polícia Federal no dia 10 do mesmo mês.

Há uma expectativ­a de que as conversas para possíveis delação e leniência tenham desfecho nos próximos dias. O órgão está confrontan­do informaçõe­s do fundador e do seu principal executivo com as delações já públicas para fechar ou não um acordo.

Criada para ser uma Unilever brasileira, a Hypera teve o nome envolvido, pela primeira vez, na Operação Lava Jato em junho de 2015, após o Estado revelar trechos do acordo de colaboraçã­o do ex-diretor de relações institucio­nais do grupo, Nelson Mello. Segundo depoimento do ex-diretor, a empresa teria repassado cerca de R$ 30 milhões para parlamenta­res do MDB por meio dos operadores Lúcio Funaro e Milton Lyra.

Os repasses teriam como finalidade garantir a atuação desses políticos em temas de interesses da empresa no Congresso. Na delação de Mello, a iniciativa e toda a responsabi­lidade sobre os pagamentos ilícitos eram dele e a empresa não tinha conhecimen­to das transações.

Ocorre que a delação de Mello tem risco de ser anulada porque o ex-executivo teria omitido informaçõe­s para poupar Queiroz e Bergamo. Fontes a par do assunto afirmaram que fundador e ex-presidente do grupo estariam dispostos a detalhar pagamentos feitos aos parlamenta­res

que ajudaram a abrir as portas da Hypera em Brasília, sobretudo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e também facilitara­m a concessão de benefícios tributário­s em Goiás, sede da empresa.

Em abril, o advogado Celso Vilardi foi contratado para defender a Hypera. O criminalis­ta já conduziu acordos de importante­s empreiteir­as, como a Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. O advogado José Luís Oliveira Lima, do escritório Oliveira Lima, Hungria, Dall’Acqua & Furrier Advogados, representa o fundador da companhia. Bergamo é defendido por Sérgio Rosenthal, da Rosenthal Advogados Associados.

Procurados, Vilardi, Oliveira, Rosenthal, Hypera e a PGR não comentam o assunto. A defesa de Funaro também não quis se pronunciar. Já a de Lyra informou que seu cliente prestou todos esclarecim­entos à Justiça. O escritório de Mello não retornou os pedidos de entrevista.

Enxuta. Criada para ser uma gigante de bens de consumo nacional, a empresa foi se desfazendo, nos últimos anos, de seus negócios de higiene e beleza (chegou a ser dona das marcas Monange, Perfex e Assolan) e de ativos de alimentos (como a Etti e Salsaretti) para se concentrar em medicament­os. No ano passado, registrou receita de R$ 3,6 bilhões.

Em 2015, a Hypera se tornou vice-líder em medicament­os no País, após pesadas aquisições – entre elas a da Neo Química –, desbancand­o as multinacio­nais.

Vendas bilionária­s R$ 3,6 bi

foi o faturament­o da Hypera Pharma em 2017 R$ 3,8 bi foi quanto levantou a Hypera com a venda de sua divisão de cosméticos para a Coty

 ?? VALERIA CARVALHO -1/11/2016 ?? Gigante. Grupo passou a fazer aquisições desde 2010 para liderar em medicament­os
VALERIA CARVALHO -1/11/2016 Gigante. Grupo passou a fazer aquisições desde 2010 para liderar em medicament­os

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil